Crítica: Submersão (Submergence)

Wim Wenders representa como poucos a perene vanguarda do cinema europeu. Com uma sensibilidade apurada e uma cinematografia singular, o alemão conquistou suspiros cinéfilos pela eternidade graças a obras que marcaram época como “Paris, Texas”, “Asas do desejo” e “Buena Vista Social Club”. Com uma obra repleta de diversidade, Wenders dirige com maestria e toques de sobriedade.

Nesse sentido, seu último empreendimento cinematográfico, Submersão, se prova de uma dissonância aguda de toda a filmografia. Oscilando entre a exploradora marinha (Alicia Vikander) que exala o Iluminismo moderno e o espião aventureiro (James McAvoy) que se debulha no risco do combate ao jihadismo, Wenders se esmera em bordar o retrato de um mundo incapaz de equilibrar o progresso científico com o civilizatório. Na construção do romance febril num hotel de luxo, a película esmiúça os delírios de uma sociedade que, por meio de uma globalização por muitas vezes segregacionista e desigual, promove a barbárie ao se contentar com escassos arquipélagos de florescimento. Quando parte para navegar se depara com as velhas ruínas de Roma.

O problema de Submersão está longe das atuações ou de suas premissas, todavia o ritmo e a ambição terminam por debulhar toda a obra em um espiral de pretensão sem limites que entedia e nunca fisga o espectador. Falta a Wenders aqui um refinamento no ritmo, na fotografia e nos cenários que poderiam muito bem estar na televisão. Falta sobretudo vocação ao épico e ao sensível, pois ao se fragmentar na complexidade pós-moderna, Submersão nunca mais consegue se ausentar de divagações que pouco importam a mensagem central ou a construção das personas principais. Mesmo propondo uma reflexão pertinente, o alemão foge completamente de uma abordagem mais direta, condensando suas intenções em diálogos exaustivos que raramente deixam o público experimentar a epifania do descobrimento.

No fim, mesmo com atuações esforçadas de ambos os protagonistas, o nome de Wenders pairando brilhante nos créditos e toda uma constelação de boas premissas, o filme termina como um mar de boas intenções submerso na escalafobética incapacidade de desvelar a si mesmo.

 

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