Garimpo Netflix: Anos 90!

Passados os gloriosos anos 80, nos quais a produção cinematográfica de massa havia descoberto os anabolizantes e o conceito do exército de um homem só (epitomizado pelo nosso amado Arnoldão, conforme falei no Nostalgia: Comando para Matar), vieram os anos 90 e, com eles, uma preocupação maior com roteiro, fotografia e, principalmente, o abandono da ideia de que era mais fácil ensinar um sujeito loucaço de deca durabolin a fingir que atuava do que, como se faz hoje, pegar um cara que já sabe atuar e só então enchê-lo de bomba, permitindo assim que gente como Nicolas Cage e Keanu Reeves se tornassem astros de filme de ação, com Keanu, inclusive, protagonizando clássicos absolutos como “Velocidade Máxima” e “Matrix” (que figura em nossos Top 10 – Filmes de Heróis e Top 10 – Filmes de Ficção Científica).

Os anos 90 também foram importante para o (re)surgimento do cinema independente americano que acabou por nos brindar com obras-primas como “Pi e “Magnólia” e “Quero Ser John Malkovich“, dirigidos por três cineastas que despontavam para o mundo e hoje são dos melhores, mais visionários e reconhecidos diretores a andarem na Terra, tendo os três sido eleitos em nosso Top 10 – Melhores Diretores em Atividade.

Teremos aqui, portanto, a indicação de três filmes dos anos 90 que inexplicável e criminosamente não receberam a atenção que mereciam à época, mas que merecem a sua atenção hoje e sempre, seja porque são divertidíssimos, seja porque são estrelados por alguns dos maiores ícones da década de 90, seja porque eu estou mandando.

Divirtam-se!


O Troco (Payback), de 1999, dirigido por Brian Helgeland

Este é um daqueles filmes de estimação que todo cinéfilo tem. Aquele que sempre que está passando você para para ver, seja pela razão que for. No caso, é simplesmente porque é divertido e bem feito PARA CARALHO, tanto que não passa um ano inteiro sem que eu não o reveja. Nele, Mel Gibson é Porter, um bandido que é traído por sua esposa e seu parceiro depois de um roubo de 140 mil dólares. Seu parceiro, ajudado por sua esposa, dá um tiro em Porter e o deixa para morrer, usando todo o dinheiro do roubo para comprar seu ingresso como membro de uma espécie de Sindicato do Crime (clara inspiração para aquele grupo que manda no submundo do crime de John Wick). Porter evidentemente se recupera e vai atrás de quem o traiu com um único objetivo: sua parte de 70 mil dólares do roubo usada por seu parceiro para comprar sua entrada no tal do Sindicato.

Porter então vai enfrentar todo o submundo do crime, as tríades chinesas, uma dominatrix hilária interpretada por Lucy Liu e policiais corruptos, tudo sempre puto da sua cara porque todo mundo acha que ele quer alguma coisa que não só míseros 70 mil dólares. Além da obstinação de Porter por uma merreca ante as oportunidades de fazer muito mais dinheiro que lhe são apresentadas a todo momento, o longa acerta em basicamente tudo. Figurino, elenco e fotografia são de primeira linha, mas o que realmente se destaca é o roteiro muito bem arrumado e a interpretação sempre no tom certo de Mel Gibson.

A Negociação (The Negotiator), de 1998, dirigido por F. Gary Gray

Estrelando dois dos maiores e mais carismáticos atores a agraciarem as telonas, Samuel L. JacksonKevin SpaceyA Negociação é daqueles filmes policiais que não param por um segundo, cheios de reviravoltas e surpresas a cada minuto. Eu sinceramente não sei porque caralhos a obra não foi melhor falada e divulgada à época, mas temos aqui uma verdadeira pérola que até mesmo os anciões como eu que estavam vivos quando o filme foi lançado não devem conhecer.

No longa, Samuel L. Jackson é o melhor negociador de reféns da polícia de Chicago. Ele é então incriminado por um crime que não cometeu. Já detido, atentam contra a sua vida numa aparente tentativa de queima de arquivo. Então, no que parece uma puta forçação de roteiro mas que eu juro que não é, ele acaba por tomar várias pessoas dentro da delegacia onde está detido como reféns, confiando apenas ao personagem de Kevin Spacey, um negociador de fora daquela DP, a negociação da situação, já que ele percebe que tem caroço naquele angu.

Não confundam com o mais famoso e pior “O Negociador” com Eddie Murphy. A Negociação é um puta filme de ação, com direção, elenco e roteiro azeitadíssimos.

Três é Demais (Rushmore), de 1998, dirigido por Wes Anderson

Antes de se tornar o diretor conhecido por planos simétricos, narração em off e personagens esquisitinhos de filmes realmente excelentes como Os Excêntricos Tenenbaums e a animação O Fantástico Sr. Raposo, além do principal empregador dos irmãos Owen e Luke Wilson, Wes Anderson já fazia o mesmo filme de sempre, só que com menos orçamento e ainda sem o esmero obsessivo com simetria, paleta de cores e pós-produção de seus filmes hoje em dia.

Em Três é Demais temos a presença de nada menos que três dos atores-fetiche do diretor e só não temos quatro porque Owen Wilson também assina o roteiro e deve ter ficado meio cansado para estrelar também. Bill MurrayJason Schwartzman e Luke Wilson estrelam a história de Max Fischer (Schwartzman) um aluno da escola Rushmore (daí o nome original do filme) que é tão idiota quanto é pró-ativo. Apesar de ser um dos piores alunos da instituição, Max é também presidente de todos aqueles clubes meio nerdalhões que a gente sempre vê em filmes de high school americano: xadrez, francês, matemática, esgrima… a porra toda em suma. Ao mesmo tempo que se digladia com suas muitas presidências e seu pobre desempenho escolar, Max também encontrar o amor em uma mulher mais velha e a amizade de Bill Murray.

É, basicamente, o modelo no qual todo o cinema independente americano passou a se basear a seguir. Personagens excêntricos, diálogos inteligentes (e às vezes um tanto intectualoides demais), fotografia bacaninha e a participação de algum monstro sagrado de Hollywood para dar algum verniz de viabilidade comercial ao produto.

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