Crítica: Deadpool 2

Na longínqua década de 90, o nerd mongolão que queria pegar alguém praticamente não tinha para onde correr. A internet engatinhava, as salas de bate-papo do UOL estavam em sua infância e o ICQ ainda era coisa de retardado. Restava apenas a esta raça uma opção: o MIRC. Foi por causa do MIRC que eu tive meu primeiro contato com o nome Deadpool, sendo à época o “nick” usado por lá por um malandro de seus 19 anos que namorava uma amiga minha de 14 (e de quem hoje sou padrinho de casamento que felizmente não foi com esse animal) e tirava onda porque usava camisa polo com bermuda enquanto o pus escorria de sua cara espinholenta.

À época eu era aquele nerd raiz. Obesidade mórbida, bigodinho safado de quem começou a ter pelo crescendo no corpo, muito videogame, punhetas a cada segundo de oportunidade que me era dada e, principalmente, MUITA história em quadrinho. Além da minha revista mensal favorita de todos os tempos, A Espada Selvagem de Conan, eu também devorava toda e qualquer história de Wolverine e dos X-Men, e foi aqui que minha cabeça explodiu, pois Deadpool não era só o nome do pela-saco que namorava a minha amiga, descobri meses depois, mas era um personagem secundário PARA CARALHO dos Novos Mutantes, um grupo de mutantes adolescentes tão secundário que o filme que estão fazendo a respeito parece ser um terrorzinho daqueles bem safados.

Criado por Rob Liefeld, um dos desenhistas mais odiados da história dos gibis, Deadpool nada mais era do que um vilão genérico cujo visual foi inspirado (para não dizer plagiado) no Exterminador (Deathstroke) da DC, também um vilão de um grupo secundário e de adolescentes, os Novos Titãs. A cara de pau do Liefeld foi tão grande que até o nome civil ele copiou, já que o nosso comedor de Chimichanga se chama Wade Wilson e o Exterminador Slade Wilson.

Ryan Reynolds viu que Deadpool, agora já evoluído para sua persona de anti-herói, é essencialmente ele mesmo, só que sem super poderes e com um pouco mais de moral. Então ele bateu o pé e fez beicinho para que o 1º filme saísse. Eventualmente, após muita pressão popular depois de um vídeo estrategicamente vazado de Reynolds como o personagem, a Fox permitiu que o 1º “Deadpool” (que figura em nosso Top 10 – Filmes da Marvel) fosse feito para maiores de 18 anos, o que conseguiu, talvez pela primeira vez no cinema, capturar totalmente a essência de um personagem de HQs.

Se você já viu o primeiro filme, não há muito o que falar sobre esse. É mais do mesmo e é EXCELENTE que seja assim. Reynolds faz piada com absolutamente tudo, cheira cocaína, pede para ser enrabado pela namorada, passa a mão na bunda de Colossus (Stefan Kapicic) e esfrega seu saco na cara de Cable (Josh Brolin). Isso sem contar que ele morre gráfica e violentamente umas 3 vezes, sempre de forma hilária. O que muda desta vez é que os roteiristas nem se deram ao trabalho de criar uma motivação que fizesse algum sentido e a direção de David Leitch (um dublê que se tornou diretor de filmes de ação ao codirigir “John Wick“), embora bem segura nas cenas de ação, deixa a desejar nos diálogos e na direção de atores.

Quanto ao roteiro, vemos uma história em que Deadpool, sabe-se lá porque caralhos, resolve que precisa porque precisa salvar a vida de um adolescente meio emo, Russel (Julian Dennison, o gordinho do excelente “A Incrível Aventura de Rick Baker“, mas que aqui vai mal). E é partir daqui que ele encontra Cable, forma a X-Force (cujos poderes e a primeira operação são um dos pontos altos do filme, incluindo uma participação de meio segundo de uma das maiores estrelas de Hollywood) e partem todos em sua missão.

A vaziez de ideias do roteiro, contudo, fica realmente em segundo plano diante das piadas que o próprio Deadpool, quebrando a 4ª parede, faz justamente com o que ele chama de “lazy writing”, o que é uma piada com ainda mais uma camada quando se percebe que o roteiro é também de autoria do próprio Ryan Reynolds. A isto ainda se adicionam os diálogos engraçadíssimos em que Deadpool zoa a tudo e a todos, em especial a si mesmo, além do fato de que, dentro da proposta do filme, uma comédia escrachada de ação, essa porra de roteiro é realmente o que menos importa.

Dito tudo isso, ainda que seja inferior ao 1º filme, Deadpool 2 entrega absolutamente tudo que você esperaria. Eu e meus amiguinhos de sessão demos várias risadas quase que o tempo todo, as cenas de ação são brutais e inventivas e sobra até mesmo para “Logan” (também votado em nosso Top 10 – Filmes da Marvel e resenhado aqui), filme que só existiu por causa do sucesso do primeiro Deadpool e estrelado pelo homem em quem Ryan Reynolds certamente pensa ao escrever a quantidade enorme de piadas sobre ser sodomizado.

A fórmula, contudo, mostra alguns sinais, ainda que pequenos, de cansaço, com Reynolds quebrando a tal 4ª parede vezes demais, banalizando um pouco o recurso. Além disso, a computação gráfica que dá vida a um dos vilões mais clássicos dos X-Men que é revelado mais para o final do filme é de dar dó. É realmente inexplicável que em um filme com um orçamento de mais de 100 milhões de dólares, enquanto que o 1º teve mais ou menos metade disso, não tenha tido dinheiro o suficiente para renderizar de forma aceitável um personagem tão icônico e importante na trama.

Ainda assim, o que importa mesmo é que Deadpool se explode em vários pedaços, é partido no meio, mata personagens genéricos e, mais uma vez, brinda-nos com a melhor cena pós-créditos desta temporada de filmes de heróis (chupa, Nick Fury!).

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