Crítica: Gênio Diabólico (Evil Genius: The True Story of America's Most Diabolical Bank Heist)

A NETFLIX ainda não acertou a mão nas suas produções originais de filmes, variando aí de muito ruim a mediano. Em termos de séries seu índice de acerto é consideravelmente superior, produzindo fantásticas obras, mas cometendo um deslize aqui ou ali. Mas sem sombra de dúvida essa gigante domina com maestria 2 artes: dizer que a produção original é sua quando há somente compra de direito de distribuição e a produção de documentários de altíssimo padrão, tanto no formato serial quanto em longas/curtas metragens (tendo já até ganhado 2 Oscars, um pelo curta-documentário indicado no CinePigmeu – NETFLIX: Os Capacetes Brancos e por “Ícaro”, indicado em nosso Garimpo Netflix: Esportes). Será que Gênio Diabólico, série de 4 episódios, honrará esse legado?

Com um trailer genial (ha!), somos convidados a participar do processo investigativo de um assalto a banco cometido por um entregador de pizza usando um colar preso ao seu pescoço com uma bomba relógio. Calma… você leu certo. Acho que isso é o mais próximo de Jogos Mortais que o mundo chegou e com essa premissa comecei a assistir a obra. Brian Wells, o entregador de pizza, realiza o assalto e é parado pela polícia na esquina seguinte. Já sentado no chão, algemado e pedindo ajuda, as câmeras filmam a bomba presa a seu corpo detonando em uma imagem chocante. Sem qualquer motivo aparente ou qualquer pista, a polícia e o FBI ficam de mãos atadas e o caso mais espetacular de assaltos a banco do século XXI fica sem solução. Não há suspeitos de quem ou porque fizeram isso com uma pessoa simplória e gentil.

Até que um telefonema anos depois, comunicando o achado de um corpo, reacende a investigação e passamos a conhecer os gênios diabólicos que tramaram isso tudo: Kenneth Barnes, um traficante e usuário local, Marjorie Diehl-Armstrong, companheira de pesca de Barnes e pessoa com diversos distúrbios psicológicos, Bill Rothstein, ex-namorado e amigo de Marjorie, Floyd Stockton, companheiro de quarto de Bill, e Jessica Hoopsick, usuária de drogas fornecidas por Barnes e prostituta favorita de Brian Wells. Logo de cara somos levados a crer que todos os envolvidos nessa trama desempenharam papéis importantes, mas com base em seus depoimentos – que mudam com o passar do tempo, pelo menos daqueles que continuam vivos – nem a força-tarefa encarregada de decifrar o ocorrido para colocar atrás das grades os culpados e nem o telespectador conseguem entender direito o que está acontecendo.

Esse é o ponto forte da série, deixar-nos na pele daqueles que tomam as decisões importantes sobre a culpabilidade de cada um nesse caso, criando dúvidas e nossas própria teorias do quê e como aconteceu. Infelizmente, Gênio Diabólico apresenta uma narrativa cansativa e embolada, indo e vindo em depoimentos o tempo todo, repassando as mesmas teorias e reforçando o caráter dos suspeitos/acusados. A série poderia muito bem ter sido condensado em um longa-metragem, ou até mesmo numa série de 3 episódios. Chega ao ponto que somos tão massacrados com pequenas informações, que já não sabemos quando cada evento aconteceu e, meu caro leitor, são muitos eventos.

Marjorie é o fio condutor da obra e a acompanhamos na sua relação com os demais envolvidos e com o diretor do documentário, que se correspondia por carta com ela por anos. Apesar de quase todos os envolvidos parecerem pessoas simples do interior dos EUA, a maioria possui aguçados instintos de sobrevivência, inteligência e, em alguns casos, formação acadêmica, levando à presunções policiais (e nossas) erradas. Todos eles, em especial Marjorie, conseguem tirar proveito de pessoas e situações ao seu redor, mesmo que a motivação seja irracional.

Gênio Diabólico é uma obra que instiga, mas que não te levará àquela conclusão satisfatória. Ao final você se indagará: em quem acreditar quando não há evidência física e tratamos de mentirosos patológicos e manipuladores? Já me falaram que a verdade é o que se pode provar. Ao que parece, a verdade é aquilo no que queremos acreditar.

Você curte documentários?! Não deixe de conferir as críticas e indicações de alguns originais NETFLIX!

Assista!: Making a Murderer
Crítica: Wild Wild Country
Crítica: Vândalo Americano (American Vandal)
Crítica: Gloria Allred – Justiça Para Todas (Seeing Allred)
Crítica: Rapture
Crítica: Mercury 13 – O Espaço Delas (Mercury 13)
CinePigmeu – NETFLIX: A Partida Final (End Game)
CinePigmeu – NETFLIX: Os Capacetes Brancos (The White Helmets)
CinePigmeu – NETFLIX: Sovdagari – O Mercador
Garimpo NETFLIX: Documentários
Garimpo NETFLIX: Hip-Hop
Garimpo NETFLIX: Sexo
Garimpo NETFLIX: Indicados ao Oscar

Nenhum comentário

Tecnologia do Blogger.