Crítica: Gnomeu e Julieta - O Mistério do Jardim (Sherlock Gnomes)

Começo a escrever esta crítica olhando um dos cartazes que decoram minha sala. Com sua carinha marota, Audrey Tautou me olha e eu penso “você que fez isso”. Desde “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” que gnomos de jardim voltaram a ser objetos cult. Desembocando neste Gnomeu e Julieta: O Mistério do Jardim, sequência da animação de 2011.

Recém-instalados em Londres e alçados a chefes do jardim novo, o casal do título (vozes de James McAvoy e Emily Blunt) precisa lidar com DRs e um problemaço: alguém está sequestrando todos os gnomos  e demais ornamentos de casa da serra da tia brega. Para recuperar os amigos e construir um roteiro para este filme, eles acabam sendo ajudados por quem? Se o bardo de Stratford-upon-Avon foi a inspiração original para tudo isso, dessa vez os roteiristas apelaram para o mestre das histórias detetivescas, Sir Arthur Conan Doyle. Nossos gnominhos fofos vão ser ajudados pelo arrogantemente brilhante Sherlock Gnomes (Johnny Depp) e seu fiel assistente Watson (Chiwetel Ejiofor, nome que jamais conseguirei escrever sem dar recorta e cola).

Desde o início fica bem claro para o espectador que nem a direção nem os roteiristas desejaram criar uma obra-prima divisora de águas na história da animação. Não. O filme é a definição daquilo que, pro bem e pro mal, chamam de “filme família”. Vai agradar aos anjinhos (ou demônios, cada um sabe o que leva pro cinema) e não vai fazer com que os adultos queiram cometer suicídio na sala misturando Coca e Mentos. É uma diversão escapista (achei chique meu editor ter usado esta expressão comigo no Whatsapp), que assume totalmente os bônus e os ônus que essa escolha acarreta. No fim, fica sempre uma sensação de “é bom, mas é ruim” ou de “é ruim, mas é bom”.

As piadinhas, por exemplo, patinam por referências inteligentes para os adultos entenderem, momentos que farão as crianças ficarem repetindo a cena na Netflix e outros que soam totalmente dispensáveis. Borat foi lançado em 2006, é sério que os roteiristas acharam legal/bacaninha se valer ainda, em 2018, do mankini imortalizado por Sacha Baron Cohen? Da mesma forma, o roteiro padece um pouco da fragilidade que é a obrigação de “se passar uma mensagem”, típica dos “filme família”. Soa forçado em vários momentos.

Por outro lado, a história ganha brilho na exploração do universo de Conan Doyle. Johnny Depp brilha no papel e o Watson da vez (não vou escrever de novo aquele nome) manda muitíssimo bem também. A produção cria referências deliciosas aos livros, desde o vilão Moriarty (Jamie Demetriou) até uma  citação deliciosa ao Cão dos Barskeville, que não citarei qual é para não tirar a graça, além de uma solução genial para representar o método dedutivo de Gnomes. Mas quem rouba a cena e oferece o melhor momento do filme é a versão Barbie de Irene Adler, a femme fatale crush de Sherlock, encarnada aqui por uma performance vocal maravilhosa daquela força da natureza chamada Mary J. Blige.

No mais, a trilha espertinha baseada nos clássicos do produtor da animação, Sir Elton John, as personagens fofas e a belíssima representação de Londres, um trabalho impecável dos animadores, tentam segurar a onda.

Infelizmente, Gnomeu e Julieta: O Mistério do Jardim acaba pecando na superficialidade da trama detetivesca que, por princípio, deveria surpreender. Tudo acaba soando muito “elementar” no final. Mas vai manter as crianças domadinhas até o momento pós-sessão, quando serão afogadas em gorduras trans e açúcar nos fast-food dos shoppings (Deus me livre, mas quem me dera).

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