Crítica: Ibiza: Tudo pelo DJ (Ibiza)

Não é nenhuma novidade o estilo narrativo de filmes de road trip em que há um grupo de amigos aparentemente (e, no geral, confirmado ao desenvolver do filme) imbecis em busca de aventuras (sexo e drogas) pra contar na roda de amigos bebendo uma cerveja e arrotando alto. Certo? Certo. Sob essa perspectiva, rapidamente aparecem títulos como “Se Beber Não Case” (que, pasmem, tem três sequências) e acredito que existam menores produções com a mesma ideia batida. Ibiza: Tudo pelo DJ se propõe a surfar nessa mesma onda aí, o que é meio que anunciar que será um filme apelão e que vai doer os olhos de vergonha alheia por idiotice também. Mas, por outro lado, não é só de comédia intelectual que vive o humano. Talvez, quem sabe, em termos de humor e entretenimento o filme funcione.

A história é sobre a publicitária Harper (Gillian Jacobs, de Love, resenhado por mimzinha aqui e indicado no Garimpo Netflix) e uma viagem de trabalho em que ela vai para Barcelona captar novos clientes para a firma que trabalha. Sua chefe, que é escrota DEMAIS e que bom que seja pois assim é bem engraçada, manda a funcionária pra lá destilando veneno e deixando claro a pressão de que é tudo ou nada fechar o negócio. Harper decide levar as melhores amigas, Nikki (Vanessa Bayer) e Leah (Phoebe Robinson) pra, no sapatinho, aproveitar a oportunidade de curtir uma girls night caliente edition.

A personagem de Gillian, seja pela estileira Barbie hipster, seja pelo trejeito da própria atriz, é bastante embebida da nossa bem conhecida Mickey da série Love. Na verdade, acredito que a Netflix por uma questão de praticidade tenha pego até mesmo o mesmo figurino lá do set da série. E, bem, de início essa mesmice de construção de personagem pode ser meio entediante mas, conforme a história se desenrola, perde a relevância.

O filme conta com boas tiradas cômicas, fugindo de machismos insistentes ou de romantizações sexistas quando o assunto é saída de mulheres. Aqueles estereótipos insuportáveis que não aguentamos mais ver do tipo “festa do pijama” são, se não ausentes, mínimos, e isso é ótimo. Temos três mulheres que peidam e arrotam, são gatas e também meio idiotas; que também caem em bobeiras meio “femininas” (odeio essa palavra) e que, cacete, tudo bem. Não precisa vestir aquela carga toda de homi-que-coça-o-saco e nem ficar na frescurite ai-minha-unha-quebrou. O grande vão entre um e outro faz com que as três personagens sejam divertidas, vergonhas-alheia e sustentem bem o filme.

No entanto, vamos lembrar que é só uma produção bobinha. Não vou ficar aqui me dedicando a longas análises por que, no final das contas, é uma história em que uma mulher acaba em Ibiza lokaça, conhece um gatinho, rola aquela merda romantiquinha e, enfim, é isso. Como a sinopse nos diz, Harper conhece um DJ: Leo (Richard Madden). Aquele esquema padrãozinho, mas que é gato mesmo. O filme aqui dá uma deslizadinha na pagação de pau pro cara mas tenta se retificar depois ao final. No geral, são muitas cenas de curtição adoidada, drogas, decisões inconsequentes e inexplicáveis confianças em estranhos. Sério, quem aceita um uber de um completo estranho que leva à sua mansão, onde rola uma festa de putaria desmedida, e não fica com cagaço? Na vida real, bicho, ia ter tido pelo menos uma tentativa de assédio numa situação em que três mulheres passam 90% do tempo alucinadas num país cuja língua não falam e a noite por aí. Sim, é lamentável, mas é verdade. 

Em suma, Ibiza é uma pedida legal caso o espectador esteja precisando de uma produção pra derreter um pouquinho o cérebro – mas nem tanto também. Houve cenas, e não foram poucas, em que me peguei rindo de verdade das situações patéticas que rolam na história; portanto, parabéns ao filme por cumprir um papel de divertimento que claramente se propõe a fazer. Usar clichês descaradamente a seu favor através de metalinguagens no roteiro foi um dos recursos usados pra ser bem sucedido também. Mas, por outro lado, a frequência de situações nonsense pode passar do limite do aceitável e ser incômoda e, igualmente, as histórias podem ser meio mal contadas e fechadas.

“Foda-se o clichê, vamos fazer isso!”. Ah, eu acho que eu também cederia a essa cenazinha…

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