Crítica: Paulo, Apóstolo de Cristo (Paul, Apostle of Christ)

É malfadado todo aquele que desdenha de histórias bíblicas por mero distanciamento religioso; o que prega contra religiões e, portanto, se afasta de produções quaisquer que tenham como viés um assunto desta orientação. Não porque ele deveria ser um crente e não o é. Mas porque a base do pensamento ocidental é inegavelmente cristã e por isso mesmo é impossível tal afastamento. Ao agnóstico ou ateísta, o encontro com qualquer conto deste tipo deveria se apresentar, no mínimo, como uma anedota de cunho moral que já fora passada para ele desde sua infância. Para aquele que acredita, isso, porém, é algo muito além.

Dessa forma, a análise do novo filme religioso Paulo, Apóstolo de Cristo, dirigido por Andrew Hyatt, não será reduzida ao seu valor doutrinário (comum a toda e qualquer obra) tão somente, mas deverá ser realizada como obra cinematográfica (ainda que seja impossível separar por completo o seu significado maior, não sugerindo uma análise da obra pela obra, única e exclusivamente).

Lucas e sua tensão.

Paulo (em introspectiva atuação por James Faulkner) está preso em uma cela controlada por romanos, em um momento histórico no qual Nero, o imperador de Roma, persegue cristãos, queimando-os em público ou colocando-os como presa de animais selvagens nas arenas durante alguma festividade. Paulo, aquele conhecido pelo nome de Saulo de Tarso, outrora perseguidor destes mesmos cristãos, mas que, após uma visão de Cristo Jesus, se convertera e passara a ser missionário professando a fé de que Jesus é o Messias. Agora encarcerado, recebe a visita de seu amigo Lucas (pelo tocante Jim Caviezel), outro seguidor desta crença, que deseja registrar sua história e usá-la como inspiração para a comunidade cristã e para a conversão de novos fiéis.

O filme, portanto, não nos conta a história de como Saulo se tornou Paulo. Ele foca no momento específico em que, por meio dos encontros desses dois apóstolos, alguns dos mais lidos livros da Bíblia são produzidos. E a análise mais imediata da narrativa nos leva a acompanhar uma tocante história de como uma pessoa é fiel aos seus princípios. Como costumo dizer, uma das características que mais admiro em alguém é a sua convicção, é a capacidade que ela tem de se manter inabalável em suas certezas, independente das circunstâncias. E os fortes personagens de Paulo e Lucas carregam em si tudo isso, não negando Cristo ainda que o momento seja o mais delicado possível, ainda que haja uma proibição violenta e feroz acerca da prática de seu credo. “Ninguém sacrifica a própria vida por algo que não é Verdade”, define Paulo ao chefe da prisão, o romano Mauritius (Olivier Martinez).

Lucas e Paulo e as Escrituras.

Paulo não vislumbra sua saída da prisão, pois sua acusação não permite liberdade ou vida, sequer. E, ainda assim, o que o conforta é a sua crença de que o que quer que tenha feito, desde sua conversão, foi por Aquele que trouxe a Verdade, a Vida Eterna. “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; E todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá” (João 11:25;26). O seu destino não o incomoda, não o abala, pois a sua convicção está concreta em seu espírito. E agora o seu testemunho poderá ser passado para tantos mais do que aqueles muitos que atravessaram seu caminho, durante décadas de missão pelo mundo. O seu testemunho permanecerá por gerações. “Pois, toda a humanidade é como a relva, e toda a sua glória, como a flor da relva; a relva murcha e cai a sua flor, mas a palavra do Senhor permanece para sempre'” (1 Pedro 1:24;25).

Paulo e a sua entrega a Deus.

Em tempos em que as relações humanas fraquejam em suas práticas diárias; em tempos em que antigas corruptelas de uma crença milenar parecem ressurgir, Paulo, Apóstolo de Cristo nos relembra que jamais podemos ignorar o que se passou, que jamais podemos nos entender como seres não-históricos, aceitando mutações infundadas de uma Verdade que não muda. E, para além disso, Paulo, em sua figura, nos confirma o quão rico é ao indivíduo acreditar, o quanto um homem não é nada além de um vácuo caso não tenha fé, porque “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem” (Hebreus 11:1).

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