Crítica: Perfectos Desconocidos

Quem é você quando ninguém está olhando? O que passa na sua cabeça que você sabe que não pode verbalizar ou dar vazão? Essa terrível condição humana de ser escravo de seus desejos encontra nas normais sociais e, muitas vezes, legais uma verdadeira fábrica de versões de si mesmo. Existe a sua versão no trabalho, outra para a família, amigos, internet e tantas quantas forem necessárias para você conviver com as outras pessoas também em suas versões. Vivemos em um mundo de falsidade com relações artificiais e mantidas por mentiras e meias verdades.

No entanto, há um instrumento que permite que você consiga ser uma versão sua bem próxima ao real, quase como um irmão gêmeo, mas que deixa outras impressões digitais por aí: o celular. Você consegue imaginar a crise de ansiedade que você teria se outra pessoa usasse seu celular? Como se ela olhasse diretamente pra sua alma e te fizesse sentir vulnerável e desnudo.

Agora imagine que você vai jantar com seus amigos e seus respectivos parceiros em um evento corriqueiro. Eis que no meio da social alguém acha que seria uma boa ideia fazer um jogo com os celulares. Colocá-los todos na mesa e sempre que chegar uma mensagem ler em voz alta e sempre que chegar uma ligação atender no viva-voz. Essa é a receita perfeita para acabar com a noite, assim como é a premissa de Perfectos Desconocidos, longa espanhol distribuído pela NETFLIX.

O filme, apesar de ter um tom cômico e ser muito engraçado, trabalha questões muito delicadas sobre como nos relacionamos com pessoas muito íntimas, que teoricamente são as que nos conhecem mais profundamente. Óbvio que quase tudo que sai desses celulares é de cunho sexual e, geralmente, não socialmente aceito. Isso cria diversas discussões com pontos de vista diversos, já que os personagens são de áreas do conhecimento distintas, de classes sociais diversas e representam gerações diferentes.

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Apesar de ter um começo lento, seu desenvolvimento é muito agradável. Mesmo que você não se reconheça em algum personagem – e, se reconhecer, faça de conta que não é contigo – você simpatizará com as opiniões dos temas discutidos, como monogamia, opção sexual e preconceito.

Apesar da película trazer uma questão mística, que tira todo o peso das decisões ao longo do filme, essa produção espanhola surpreende com sua proposta e é uma ótima pedida para relaxar nesse feriado. Só não esqueça de desligar a sua Caixa de Pandora.

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