Crítica: Red Trees

Quando aluno do ensino fundamental, lá no final dos anos 90, eu imaginava o regime nazista alemão como uma ruptura no espaço-tempo. Era algo completamente alienígena e que não fazia qualquer sentido para a minha ingênua forma de encarar o mundo de quem nasceu quase 40 anos depois do fim da 2a Guerra Mundial e que viveu sua vida numa sociedade com outros valores morais. Não conseguia conceber como aquilo pode ter ocorrido e estava certo que JAMAIS aconteceria novamente.

Mas aí eu cresci e percebi que o ser humano não é guiado por uma bússola moral e que somos apenas produtos do nosso tempo. E nessa condição somos convidados a conhecer Alfred Willer, produto de uma geração que sobreviveu ao inferno e que aos poucos vai se despedindo desse mundo. Assinando a direção, Marina Willer, resgata a história de seu pai e de seu avô durante a violenta ocupação nazista do leste europeu no documentário distribuído pela NETFLIX, Red Trees.

Antes que você comece a reclamar sobre a natureza do documentário, ele não é uma obra de sobrevivência, mas, sim, de conexão familiar. Quem teve seus genitores vivendo em países passando por questões políticas/sociais complicadas costuma não saber muito sobre seus passados, mantendo uma aura de mistério em pais silenciosos e fechados. Esse é o caso de Alfred Willer, residente da República Tcheca durante a ocupação nazista.

Em Red Trees vemos seu passado desabrochando durante sua infância e juventude em fotos antigas e vídeos da visita de Alfred e seus filhos às cidades onde residem suas memórias. Apesar de sua história de sobrevivência não ser a mais heroica – o que não significa que não foi sofrível – fica evidente os traumas por ele e família vividos. Acompanhamos toda sua trajetória até sua chegada ao Brasil (inclusive trechos do documentário são falados em português) e o impacto de todas as suas mudanças na vida dos seus descendentes.

Red Trees não é um documentário para qualquer um. Seu ritmo é lento e contemplativo e não é focado em longas entrevistas e depoimentos. Não há aqui a tentativa de se provar um ponto, levantar uma discussão ou resgatar uma parte perdida da nossa história. O que existe é apenas a história de um homem contada com uma nítida preocupação com a cinematografia (vide a formação da família em arquitetura e design), transformando seu relativamente curto tempo de exibição (1h27min) em um passeio por uma galeria de artes misturado a leitura de uma biografia.

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