Crítica: Steel Rain (Gangcheolbi)
A península coreana já passou por grandes eventos históricos. Apenas para citar os mais recentes, tivemos a ocupação do Império do Japão (1910-1945) e a Guerra das Coreias (1950-1953), que perdurou suspensa por décadas em um frágil armistício. Desde então, a Coreia do Sul (apoiada pelos EUA e Japão) e a Coréia do Norte (apoiada pela China) seguiram em seus próprios rumos de desenvolvimento social e econômico, resultando em duas nações irmãs completamente diferentes uma da outra. Com a morte de Kim Jong-il (ditador da Coreia do Norte) e a ascensão de seu filho Kim Jong-un ao poder em 2011, o cenário geopolítico dentro da península e na comunidade internacional mudou radicalmente. Como, você deve muito bem lembrar, com os recentes testes balísticos norte-coreanos, lançando mísseis capazes de carregar ogivas nucleares a distâncias intercontinentais por cima do território japonês, o mundo passou a olhar para uma situação que parecia controlada como um perigo eminente.
Pegando carona nesse contexto, chega o longa sul-coreano Steel Rain, distribuído internacionalmente pela NETFLIX. Tomando as insatisfações e problemas dos dois lados da península, o filme é uma obra de muita reflexão da história de construção e relação das Coreias. Será que as suas 2h20min de duração dão conta do recado?
Apesar de trazer pontos interessantes, Steel Rain é uma obra que peca ao tentar ser muito didática em algumas partes, como nas exposições de Kwak Chul-woo (Do-won Kwak) – representante do governo sul-coreano, e que lembra muito o Enéas Carneiro, ao se ater ao poder que possuir armamento nuclear proporciona -, e, ao mesmo que o longa te segura a mão, também te deixa às cegas nas relações internacionais que essas nações têm. A todo momento você verá representantes japoneses, americanos e chineses discutindo com os líderes sul e norte-coreanos sobre problemas geopolíticos que podem escapar àqueles que não acompanham muito as notícias, mas que são de profunda relevância.
O longa dá partida quando um golpe de Estado ocorre na Coreia do Norte, que resulta a ida de Kim Jong-un gravemente ferido para a Coreia do Sul, que acabara de eleger um novo presidente com viés unificador da península. Há aqui a discussão dos dois pontos centrais: o primeiro é a insatisfação do alto escalão militar norte-coreano com seu líder, que condenou à morte mais de 100 generais (incluindo aqui até parentes próximos) e tem controle direto sobre o armamento nuclear da nação. Em segundo lugar há a discussão da unificação das Coreias que, após a Guerra Civil, só vimos em alguns eventos esportivos. Esses pontos são discutidos sob diversas óticas, especialmente daqueles diretamente envolvidos: os norte-coreanos pró e contra Kim Jong-un e suas políticas e os sul-coreanos pró e contra a unificação.
De forma bem acertada, a unificação não é mostrada como um fardo para a Coreia do Sul, que apresenta um quadro preocupante pra as próximas décadas, como uma economia que está desacelerando e uma população envelhecida com uma baixa taxa de natalidade. As diferenças das condições sociais entre as duas nações também se fazem presentes, com cenas mostrando a miséria e o medo que o cidadão do Norte tem do governo e a “abundância” (também há pobreza na Coreia do Sul) e a liberdade de escolha no Sul.
Com um discurso centrado na posse e uso de armas nucleares e na divisão de uma nação em duas partes durante a Guerra Fria, Steel Rain é um bom thriller político e que te convida a conhecer melhor a relação entre esses dois países.
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