10 Filmes Memoráveis Sobre Futebol
Finalizando as nossas homenagens ao início do Brasileirão no final de semana passado, basicamente eu e Rene, que, junto com o Ryan, somos os únicos que gostamos de futebol (apesar do Rene torcer para 4 times, um para cada ocasião) conversamos e discutimos sobre os grandes filmes já feitos sobre o tema, seja como pano de fundo, seja como temática central. Dessa conversa, tiramos o magistral Fora do Jogo, de Jafar Pahani, e que foi analisado ontem no nosso quadro de Garimpo.
Além dele, chegamos também a uma lista totalmente arbitrária e baseada em porra nenhuma sobre 10 grandes e memoráveis filmes sobre futebol; alguns bons, alguns excelentes, alguns horrorosos, como é a vida, como é o futebol, como é o Cinema. Todos são, contudo, memoráveis, seja porque Pelé está em um deles, seja porque Renato Aragão é a figura mais importante da história do cinema nacional (esqueçam a Turma do Didi!) ou seja porque um deles é uma versão em live action daquele anime Super Campeões que passava na Manchete.
Fizemos questão aqui de deixar incluso apenas filmes ficcionais, sem nenhum documentário, uma vez que, se os incluíssemos, é bem provável que não tivesse aqui mais nada além deles, já que o que a gente gosta mesmo é de ver gol, não é verdade? Eu fiz questão também de deixar de fora Uma Aventura do Zico, muito provavelmente porque eu quero poupar o meu maior ídolo no futebol desse constrangimento.
Seja como for, o que todos esses filmes têm em comum é que o amor ao futebol de seus personagens e realizadores está escancarado em cada tomada, em cada fala, dando-me a certeza de que o VHS que eu tinha do Zico, chamado Zico – Futebol Pra Quem Começa (e que tem até uma ficha no IMDB!!!) não é o que há de melhor que já foi produzido sobre futebol.
Com vocês, a primeira lista de 10 filmes sobre futebol do Metafictions.
Comentem, cornetem, zoem, elogiem, xinguem a minha mãe, esculhambem o Eurico ou peçam “Galvão, filma eu”, tanto faz!
– Boleiros – Era Uma Vez o Futebol…, de 1998, dirigido por Ugo Giorgetti
“O futebol é o esporte mais democrático de todos”, talvez tenha dito o ilustre “seu Nonô”. “Nele, joga o baixo, o alto, o gordo, o magro…”. Ele não estava errado. Além disso, sobre futebol todo mundo é doutor, julgando o que técnicos extremamente experientes decidem, ou a forma como um atleta com cinco bolas de ouro de melhor jogador do mundo (quiçá da existência) deve bater na bola. Tudo isso, geralmente, se desenvolve numa mesa de bar, regado à cerveja. E essa é a história de Boleiros, com a diferença que, à esta mesa, estão ex-jogadores relembrando seus feitos gloriosos ou curiosos desse mundo fantástico que nos move pela paixão. Com simplicidade, sentimento e delicadeza, é impossível que um verdadeiro boleiro não se encante com as 6 historietas narradas pelos ex-jogadores. Ele reserva uma cadeira, no bar, para cada um de nós. E tudo o que temos que fazer é sentar e mergulhar nos apaixonantes contos do mágico futebol.
– Heleno, de 2011, dirigido por José Henrique Fonseca
Antes de inventar que Sassá é jogador de futebol, o Botafogo revelou ao mundo o primeiro bad boy do futebol brasileiro: Heleno de Freitas, o Príncipe. Mulherengo, pinguço e viciado em lança perfume e loló, Heleno escreveu o livro de cabeceira de jogadores como Jóbson e Adriano. Antes de Garrincha se tornar o maior ídolo da história do Botafogo (que hoje se contenta com Rodrigo Pimpão em sua ponta direita), Heleno era o grande nome do clube. Advogado, classe média e ex-aluno do Colégio São Bento, Heleno parecia mais um personagem de Nelson Rodrigues ou alguém descrito com orgulho no twitter do Joaquin Teixeira, mas era, na verdade, centroavante matador e maluco, daqueles que arrumava confusão em quase todo jogo e era expulso com frequência, o que não lhe impediu de fazer mais de 200 gols com a camisa alvinegra. Belissimamente filmado em preto e branco (no que talvez seja um reflexo da alma alvinegra do craque) e contando com um Rodrigo Santoro em estado de graça, o filme narra a história da vida e da morte por sífilis do Príncipe, um sujeito que, como todo bom putanheiro, não encapava o garoto.
– Febre de Bola (Fever Pitch), de 1997, dirigido por David Evans
Baseado no romance semi-autobiográfico de Nick Hornby, Febre de Bola conta a história de um torcedor sofrido. Uma história que tem uma relação profunda com os torcedores de todos os times, mas em especial com os do Vasco nesse momento específico. Apresentando ao mundo Colin Firth e Mark Strong, o longa narra a vida do personagem de Firth, torcedor fanático do Arsenal e que nunca viu seu time ser campeão nacional, mais ou menos como acontece com toda a torcida do Atlético Mineiro, Inter e do Botafogo hoje em dia. Acompanhamos suas muitas idas ao hoje demolido estádio Highbury durante a temporada 1988/1989 na qual, com um gol dramático de Michael Thomas aos 46 do segundo tempo do último jogo da temporada, o Arsenal volta a ser campeão inglês após 17 anos. Ao traçar um lindo paralelo entre os desafios de seus protagonistas na vida adulta e os mesmos desafios enfrentados pelo Arsenal em campo, Febre de Bola consegue emocionar e entreter os mais sofridos torcedores e espectadores. Fizeram um filme merda com a Drew Barrymore e Jimmy “hahahahah” Fallon em 2005 nos EUA retratando um torcedor do time de beisebol do Boston Red Sox inspirado por esse aqui, mas foda-se, né?
– Maldito Futebol Clube (The Damned United), de 2009, dirigido por Tom Hooper
Brian Clough era um dos maiores artilheiros da história do futebol inglês antes de se tornar possivelmente o melhor e mais celebrado técnico inglês de todos os tempos, fazendo sua fama primeiramente ao levar o modestíssimo Derby County da 2ª divisão ao seu primeiro título de campeão inglês na temporada 71/72 e depois ao permanecer como técnico do Nottingham Forest entre 75 e 93, conquistando, entre outros, duas Copas Europeias seguidas (a atual Champions League). Antes disso, em 1974, Clough (Michael Sheen) foi contratado para ser técnico do então gigante Leeds United, um time que ele criticava duramente por seu estilo de jogo violento sob a batuta de Don Revie (Colm Meaney). O longa se concentra nos lendários 44 dias que Clough passou comandando o Leeds, quase que todos passados em guerra quase declarada com a imprensa, torcida, jogadores e diretoria. Sheen está soberbo como Clough, Timothy Spall perfeito como seu assistente Peter Taylor e a direção de Tom Hooper, se não é brilhante, passa a segurança de sempre.
– Fuga para a Vitória (Escape to Victory), de 1981, dirigido por John Huston
Contando com um elenco que é lido quase como uma escalação (Pelé, Bobby Moore, Ardilles, Prins e outros), Fuga para a Vitória conta a história de um campo de prisioneiros de guerra nazista durante a 2ª Guerra. John Colby (Michael Caine), ex-jogador de futebol profissional e atual capitão do exército inglês, está preso nesse campo e a ele é dada a tarefa de organizar uma pelada contra os guardas, o que acaba por se tornar uma manobra da propaganda nazista para comprovar a superioridade ariana e aquela patacoada toda. Eles só não contavam que Pelé estaria no time dos prisioneiros e, pior ainda, não contavam com Sylvester Stallone, que é esculachado o filme todo por chamar futebol de soccer, mas que aparentemente é um puta goleiro. Destaque para a cena em que Pelé explica para todos qual vai ser a tática do time, que é basicamente dar a bola nele que ele resolve.
– Os Trapalhões e o Rei do Futebol, de 1986, dirigido por Carlos Manga
Didi cobra escanteio e faz gol de cabeça. Esse é o título do vídeo acima e é exatamente isso que acontece. Não interessa que a regra não permita que o cobrador do escanteio toque na bola antes dela ser tocada por outro jogador e interessa menos ainda na impossibilidade física do espaço-tempo para que isso aconteça. O que interessa mesmo é que o Pelé é um jornalista e entra em campo como goleiro. Dirigido pelo falecido e semi-mitológico Carlos Manga, o longa na verdade é uma bela porcaria, não funcionando como filme de futebol e tampouco como comédia, mas é bem curto, contando só com 76 minutos, e vale a pena pelos gols de escanteio do vídeo acima e o de tiro de meta do Pelé. No filme, os Trapalhões são os roupeiros e massagistas de um clube e, por causa da ganância e corrupção da diretoria, o Didi vira o técnico da equipe principal e tenta se envolver com Luiza Brunet, a quem ele evidentemente se refere como “bicho bão”, mas acaba ficando literalmente na mão, como costumava acontecer nos filmes dos Trapalhões. Este filme, apesar de tudo, é uma das maiores bilheterias da história do cinema nacional, tendo levado mais de 3,5 milhão de espectadores ao cinema.
– Kung-Fu Futebol Clube (Siu Lam juk kau), de 2001, dirigido por Stephen Chow
Na minha infância, eu adorava um jogo de Nintendo chamado World Cup. Era uma das coisas mais toscas do videogame, mas a verdade é que eu o amo até hoje. Lembro-me que cada seleção tinha um chute especial no qual a bola “explodia” qualquer um em seu caminho. O chinês Kung-Fu Futebol Clube é quase isso. Sing (Stephen Chow) possui um poderoso chute, devido à sua devoção ao Kung Fu. Ele entra em um time de futebol, formado por mestres shaolin. A idéia é que sua equipe consiga vencer o grande prêmio oferecido por um campeonato da região, mas para isso deverão enfrentar grandes atletas. Basicamente uma versão live action do saudoso anime Super Campeões, o longa associa futebol, luta e comédia em uma aventura extremamente divertida, recheada de loucuras e bizarrices, tal qual ocorre no mundo desse esporte. Ok… talvez um pouco mais bizarras do que o costume.
– Gol!: O Sonho Impossível (Goal!), de 2005, dirigido por Danny Cannon
https://youtu.be/qGhCJXrqZwE
Filmado com o aval e cooperação da FIFA, Gol! conta uma história, em sua essência, bem comum no meio do futebol, só que aqui a coisa acontece já com um jovem adulto, de seus 19, 20 anos. Santiago Muñez (Kuno Becker) é um jovem americano descendente de mexicanos vivendo na pobreza (pelos padrões americanos) quando é visto em uma pelada por um olheiro do Newcastle United da Inglaterra (Stephen Dillane, o Stannis Baratheon de Games of Thrones). A ele é prometida uma chance de fazer um teste no clube se ele conseguir ir à Inglaterra. Claro que ele vai dar seu jeito de ir, vai fazer o teste, vai passar – ainda que com alguma dificuldade – e vai se tornar uma estrela do futebol inglês. Este filme, por ter toda essa cooperação da Fifa, conta com a participação de vários jogadores como Alan Shearer, David Beckham, dentre outras grandes estrelas. Com uma história meio clichê de superação e um roteiro mais ou menos, é na participação dos jogadores e nas cenas excelentes de jogo que este longa se destaca. Logo depois disso ainda lançaram Gol 2, no qual Santiago é contratado pelo Real Madrid e vemos o Sergio Ramos sendo zuado pelo Roberto Carlos, e Gol 3, que está para a franquia Gol como Sharknado está para o cinema de ficção científica.
– Hooligans (Green Street Hooligans), de 2005, dirigido por Lexi Alexander
Nem tudo é belo no futebol. E a maior expressão do seu lado monstruoso talvez sejam as brigas de torcidas, que fazem do entorno dos estádios verdadeiros palcos de guerra. É cultural. Independente do país, costumes de uma nação, a cultura do futebol é maior do que os hábitos regionais, fazendo indivíduos de extremo a extremo do planeta terem a mesma forma de agir. Evocando o lado instintivo do ser humano, cada qual se torna um simples animal. Hooligans traz a história de Matt (Elijah Wood) que, após ser expulso injustamente de Harvard, vai morar com a irmã em Londres, onde conhece o submundo do futebol apresentado pelo irmão de seu cunhado Peter Dunham (Charlie Hunnam, em seu primeiro papel de algum destaque). Lá, ele vai às origens das brigas de futebol, em muito promovidas pela torcida do tradicional time da capital, West Ham United. Uma vez íntimo daquele lado obscuro, Matt será costurado pelas relações de violência e paixão, geradas tão somente pelo futebol.“Fortune’s always hiding, I’ve looked everywhere, I’m forever blowing bubbles, Pretty bubbles in the air. United! United!”, cantam as hordas enquanto se preparam para mais um ataque…
– À Procura de Eric (Looking for Eric), de 2009, dirigido por Ken Loach
https://youtu.be/sIZtCHMApIQ
Ken Loach (vencedor do Prêmio Ecumênico do Júri de Cannes por este filme e recente vencedor da Palma de Ouro 2017) invoca os principais elementos de sua filmografia: simplicidade, classe trabalhadora inglesa e futebol (sendo este um personagem principal nesta história). E quando tudo isso se une ao Cinema, para mim, o encontro se torna perfeito. Neste caso, especialmente para quem é fã do Manchester United (maior campeão da história do futebol inglês) e admirador do fabuloso futebol do singular Eric Cantona. Eric (Steve Evets) é um carteiro que sente sua vida passar, sem que faça nada e tentando resolver seus conflitos internos, em especial em relação à sua mulher Lily (Stephanie Bishop). Nada parece dar muito certo, mas… Bishop passa a contar com a ajuda ilustre do mitológico Cantona (atuado por ele mesmo, é lógico!), uma vez que tem alucinações com o jogador, a cada vez que puxa um baseado. Dessa forma, por experiência, o Eric goleador ajuda o amigo homônimo a atravessar os problemas da vida. Tocante, leve e preciso. Além de uma ode ao futebol, com homenagem a um grande time e a um fantástico jogador, que nos ensina que “a melhor ação da qual me lembro não foi um gol, mas uma assistência.” Glory Glory, Ken Loach!
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