Crítica: Beirute (Beirut)
As recentes declarações dos líderes judaicos, afirmando que Jerusalém é de Israel, foram mais um motivo para manifestações Palestinas. Um amistoso entre Argentina e Israel foi cancelado devido ao clima sempre (mas sempre mesmo!) delicado entre israelenses e árabes. Não à toa, Beirute, novo filme de Brad Anderson, inicia com uma ilustração do que é o Líbano (isso na década de 1970), através de uma fala de seu protagonista Mason (muito bem por Jon Hamm), colocando o local como uma propriedade sem senhorio, da qual um sem-número de grupos deseja uma parte. É nesse cenário que acompanhamos a vida deste negociador diplomático americano.
Mason vivia tranquilamente (na medida do possível) em Beirute, quando, em um evento que organizava, houve um atentado árabe, resultando na perda de sua mulher. Sem conseguir fechar suas cicatrizes, Mason se muda para os Estados Unidos, voltando para “casa”, onde passa a ser, por uma década, um negociador entre patrões e empregados, tentando diminuir os conflitos de partes que nunca se entendem. É nesse contexto que recebe um enigmático “convite” de retornar à Beirute para realizar uma ação, novamente para o governo norte-americano. A delicada negociação pediu especificamente por seu nome. Ainda que a contragosto, Mason se vê obrigado a retornar para o local de seu trauma, revivendo velhas memórias que se pretendiam adormecidas, mas nunca esquecidas.
Na jornada de Mason rumo a conseguir o resgate de um amigo antigo sequestrado pela OLP (Organização para a Libertação da Palestina) – motivo pelo qual seu nome fora requisitado para a tarefa em questão -, veremos como as organizações mundiais envolvidas nesse conflito, seja o grupo citado, sejam lideranças judaicas ou mesmo americanas, se relacionam entre si. Cada qual tentando uma iniciativa para marcar presença em território completamente hostil; cada qual realizando (na medida em que podem) alianças para conseguirem definir e demarcar seus interesses frente a uma briga que se entende eterna. E, no meio disso tudo, Mason negociando o resgate do velho amigo, esquecido junto àquelas memórias perdidas e encontradas no tempo. A mesma memória tão presente que impede a paz entre judeus e palestinos.
Ainda que Anderson seja firme em sua direção, ainda que haja um grande elenco por trás de seus personagens, como o próprio protagonista, ou Mark Pellegrino e a excelente Rosamund Pike, Beirute é apenas mais um thriller que opta por momentos genéricos, muito embora o contexto sobre o qual trate seja sempre interessante, despertando curiosidade naquele que vê. Resulta que é um daqueles casos em que a natureza da história sustenta muito mais o conto do que a própria narrativa em si.
Além disso – e como era de se esperar -, apesar de o filme tecer suas críticas para todos os lados envolvidos, ele não deixa de trazer aquele discurso, ainda que de forma mais sutil (ou nem tanto), de que os Estados Unidos podem ser a resposta para os conflitos internacionais. “Todos saíram ganhando”, diz sorridente um dos dirigentes – quando o que vimos não foi bem isso. Mas a bandeira cheia de estrelas continua ali. Imponente. Flamulando. Fincada no meio daquela terra de ninguém… ou de todo mundo.
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