Crítica: Borges - 1a Temporada
O YouTube no Brasil vem colocando em evidência diversos comediantes que construíram parte de sua carreira em prestigiados canais de esquetes retratando, em sua maior parte, nosso dia-a-dia, cultura nacional (em especial a carioca) e questões sociais em voga, como a homossexualidade, feminismo e discussões políticas. Deixando de lado aqueles canais que só sabem perpetuar estigmas sociais e fazer paródias, a NETFLIX estreia em seu catálogo a série Borges, criada pelo Porta dos Fundos e produzida/exibida pela Comedy Central em março desse ano.
A produção de séries não é novidade para eles, que, além de já terem estreado o próprio filme nos cinemas, já liberaram em seu canal algumas webseries, como “Viral“, “O Grande Gonzales” e “Refém“. Além de contar com uma distribuição ampla, mas menos democrática, já que a NETFLIX é paga e o YouTube não, a obra conta com a participação de expoentes (e concorrentes) de canais da comédia, como o “Parafernalha” e a “TV Quase“, esse último mais conhecido pelo quadro Choque de Cultura do canal “Omelete“, e entrega uma série divertida, leve e um tanto despida de conteúdos problematizadores, embora eles apareçam lá eventualmente.
Caso você não goste de nenhum dos canais citados, já adianto que essa não será uma obra para sua apreciação. Não há qualquer diferença entre essa produção e os vídeos do Porta dos Fundos, tirando o fio condutor que dá início a todos os 10 episódios da série e o tempo de duração, que gira em torno de 22 minutos, 5x maior do que uma esquete do canal. Em suma, a história se desenvolve a partir de um golpe dado por Borges (Luis Lobianco) em seus novos 4 sócios, Rosana (Thati Lopes), Sonia (Karina Ramil), Pablo (Rafael Portugal) e Erasmo (Antonio Tabet), que herdam a Borges Importadora com uma dívida de 800 mil reais.
Para saldar esse montante eles começam a fazer vídeos para o YouTube e a confusão se instala, com cada um atirando para um lado e puxando a brasa à sua sardinha. A série é episódica e formulaica, então todo aquele exagero, atuações espalhafatosas, situações quase impossíveis, cariocas filhos-da-puta e linguagem chula estão aqui. Temos desde situações com bonecas sexuais sendo confundidas com cadáveres, até uma homenagem à saudosa Judite, que caso você não lembre é do canal “Anões em Chamas“, embrião do Porta dos Fundos. E mesmo sendo o fio condutor da obra, pouco sabemos ou se fala da tal Borges Importadora ou dos problemas que a dívida traz.
Aliás, caso você queira saber do paradeiro do Borges, terá que entrar no aplicativo do Comedy Central Play para descobrir. Mesmo sendo interessante, esse desmembramento fez um desfavor à série, que poderia ter ficado um tanto mais rica com uma interação maior desse personagem com os demais. No geral, se porventura você for um fã do trabalho dessa trupe, Borges vale seu tempo caso você não tenha mais nada para assistir e já tenha matado todos os vídeos do canal. Mesmo que não seja muito original e superior as suas webseries, Porta dos Fundos rompe outra barreira e se coloca cada vez mais como a principal referência da comédia nacional.
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