Crítica: Luke Cage - 2a Temporada
Dando continuidade ao Universo Marvel, Luke Cage chega a sua 2a temporada na NETFLIX em sua 4a aparição em obras seriais. Caso você queira ter um retrato completo do personagem e queira evitar spoilers de temporadas prévias, recomendamos que você veja 1a temporada de “Jessica Jones” – que, graças ao Luke e Kilgrave, foi bem interessante -, a 1a temporada do próprio Luke Cage – que, mesmo não sendo muito boa, conta com um dos melhores núcleos de personagens coadjuvantes – e a 1a temporada de “Os Defensores“- que, apesar de não desenvolver muito o Mr. Cage, aprofunda o Universo da Marvel na NETFLIX.
Sobre isso, faço aqui uma pergunta honesta. Onde essas séries se situam na linha de tempo do MCU? Há em todas as séries da Marvel na NETFLIX alguma referência ao “evento” em NY (tema do 1o filme dos Avengers) e alguns personagens, como é o caso do Hulk em Luke Cage. Ao mesmo tempo que é muito legal perceber essa interação de formatos diferentes, fica estranho não ver reflexos concretos nas obras. Thanos já tinha usado a joias do infinito aqui? Se sim, cadê as consequências? Onde está o Homem-Aranha nesta porra? Ele é vizinho de toda essa galera. Não que eu queira que eles apareçam, mas que pelo menos exista um fio condutor comum entre as séries e os filmes.
Mais uma vez temos uma lógica de desenvolvimento característica desse universo. Como bem apontou Gustavo, o viril, na crítica da 1a temporada de “O Justiceiro“, a série apresenta uma barriga pois havia uma pauta a ser tratada, no caso em voga é a questão dos veteranos de guerra norte-americanos. É exatamente o que acontece em Luke Cage, são 13 episódios que poderiam ser condensados em 7 ou 8 (como no maravilhoso “Legion” e no próprio “Os Defensores”) caso não tivesse pautas a serem discutidas. A questão nem é a discussão em si, que é MUITO pertinente, como a dependência química e o abuso físico e mental contra mulheres em Jessica Jones ou a questão dos veteranos no Justiceiro, o problema é que a discussão fica superficial e luta para se conectar com a trama central.
Em Luke Cage essa pauta é muito diversa. Temos a questão racial, que se mistura com a de imigração, a de deficientes físicos e a da mulher (que pode ser negra, deficiente e imigrante). Todos esses temas giram em torno do elenco de apoio do Luke (Mike Colter), em especial da policial pistola Misty Knight (Simone Missick), que certamente você deve se lembrar que perdeu o braço direito no final da 1a temporada, mas que rapidamente arranja uma prótese, da luta pelo controle de Harlem com a Mariah Dillar (Alfre Woodard) – ou Stokes se você perguntar para nosso antagonista – e, falando nele, o Bushmaster (Mustafa Shakir), com a sua comunidade jamaicana e gangue (Stylers) em NY. São temas necessários e importantíssimos, mas que ficam apenas de pano de fundo.
Nessa temporada o foco continua na Mariah Dillar, mas dessa vez sem o excelente Boca de Algodão (Mahershala Ali) e o esquecível Cascavel (Erik LaRay Harvey), acompanhada pelo pragmático Shades (Theo Rossi) em busca da dominância de Harlem dentro da legalidade. Do outro lado temos Bushmaster buscando arruinar, humilhar e matar Mariah por questões muito antigas, e também ganhar os corações e as ruas do Harlem de Luke Cage, que, por sua vez, quer levar ambos à justiça. Está formado um interessante triângulo onde as 3 partes se odeiam, mas precisam um do outro. É um fogo cruzado do caralho e que cria situações inesperadas que forçam uniões temporárias que você não espera. Toda a força motriz das partes em conflito envolve rancor e vingança, numa incapacidade de perdoar e dar alívio ao seu coração e seguir com sua vida. Isso fica evidente no carismático vilão Bushmaster, que além de jogar capoeira muito bem, carrega nas costas o destino da imagem da comunidade jamaicana – e é bem explorada em sua cultura – que é um dos grandes atrativos dessa temporada. Tanto ele quanto Luke ficam indistinguíveis – inclusive possuem poderes similares – na busca do que é certo, mas por caminhos nebulosos.
Dentre os pontos mal trabalhados, há um bromance entre Shades e Comanche (Thomas Q. Jones) muito ciumento e agressivo, com diálogos fora da curva e uma atuação de Theo Rossi pouco expressiva e convincente. Embora a relação dos dois seja tensa a maior parte da temporada, não pareceu natural o que os dois tinham. Já Luke Cage, mesmo sendo um lutador de rua excepcional, não tem boas coreografias em seus combates e os roteiristas exageram, desde sua 1a aparição em Jessica Jones, na sua habilidade de levar tiro sem se ferir, sendo recorrente em quase todos os episódios ele ficar parado de braços abertos enquanto leva saraivadas de tiro, mas agora com a habilidade de conseguir mirar um ricochete de bala disparada em sua direção com muita precisão.
No mais, a 2a temporada de Luke Cage continua com o padrão de qualidade mediano das demais obras da Marvel na NETFLIX (tirando aí o Demolidor), mas com o plus de ter um elenco de apoio interessante e contar a história através da performance de ícones da música em gêneros dominados e criados por afro-americanos como blues, jazz, soul e rap. Se assim como eu você chegou até aqui vendo todas as temporadas, não será agora que você deve parar. Bem, talvez quando sair a 2a temporada de Punho de Ferro… “sweet christmas“.
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