Crítica: Maktub

“Já estava escrito”. Pra quem não sabia (como eu), esse é o significado da palavra árabe Maktub, que dá nome ao lançamento dessa sexta feira na Netflix. O filme conta a história de Chuma (Guy Amir, que atuou no aclamado “Munique” de Steven Spielberg) e Steve (Hanan Savyon), dois brucutus capangas de um mafioso em Jerusalém que passam os dias cobrando dívidas e propinas de comerciantes locais, degustando gratuitamente as guloseimas dos restaurantes da região e arrebentando a cara de quem discorda. Quando um ataque terrorista explode o restaurante onde estavam almoçando e apenas os dois sobrevivem com uma gorda mala de dinheiro nas mãos, Chuma, muito supersticioso, acredita que isso é um sinal de Deus e que eles precisam sair da vida da bandidagem e ajudar as pessoas. Eles decidem ir ao Muro das Lamentações, um dos locais mais sagrados de Jerusalém, onde fiéis depositam papeizinhos com pedidos a Deus, e passam a realizar tais pedidos como forma de agradecimento pelo “milagre” recebido.

Guy Amir and Hanan Savyon in Maktub (2017)

O filme é uma comédia que lembra muito algum quadro dos Trapalhões dos anos 70, com Chuma sendo um Didi meio bronco e de bom coração e Steve um Dedé pegador e vaidoso, o lado malicioso da dupla. Steve tenta enrolar Chuma pra que eles atendam aos pedidos de moças bonitas enquanto Chuma tenta convencer Steve a se reaproximar do filho abandonado. A história é ingênua, com um humor que, no Brasil, já parece ultrapassado, mas que funciona muito bem se pensarmos em Sessão da Tarde. Tem aquelas piadas pastelão típicas dos Trapalhões, com os brucutus vestidos de mulher para bisbilhotar a seção feminina do Muro (na tradição Judaica, homens e mulheres rezam separados), tapa de mão aberta na careca do Sargento Pincel, Dedé tentando se dar bem e Didi empatando, Didi sendo legal com as crianças e com vergonha de beijar a mocinha.

Maktub (2017)

Pelo que consegui descobrir nas internets, Guy Amir  e Hanan Savyon, que além de atuarem também dividem o roteiro do filme, reprisam a parceria com certa frequência no cinema Israelense. Esse seria seu momento Damon/Affleck, atuando e roterizando esse que foi o maior blockbuster do cinema Israelense desde 1986, participou de festivais e recebeu quatro estrelas no IMDB, com média de 8.2 nas críticas publicadas pelo site. O filme é bacana, os atores convencem e a história é divertida, mas para o público brasileiro talvez fique a sensação de “Filme Nacional” só que feito em Israel, com aquele gostinho de “já vi isso antes”. O principal atrativo para nós brazucas talvez seja a oportunidade de olhar para Israel com um olhar diferente daquele papo batido de terrorista/religião – apesar de o filme ter terrorista e religião.

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É um olhar leve e engraçado sobre os costumes de uma terra que, pra maioria de nós, se perde em estereótipos, mas que tem mais em comum conosco do que podemos imaginar. Os subúrbios de Jerusalém se parecem muito com Penha e Madureira, com aqueles campinhos de futebol de terra batida com aquele matinho crescendo nos cantos e meninos uniformizadinhos treinando, as tiazinhas assanhadas (ou, nesse caso, as mães solteiras) dando mole pros malandrilsons do bairro, os esquemas, mutretas e falcatruas. Chuma tem cara daquele caminhoneiro de novela da Globo de 1978, com camisa florida aberta no peito, calça jeans apertada e cinto largo de couro. Steve é meio Agostinho Carrara, aquele camarada que fez curso online de degustação de vinho e usa camisa Pierre Cardin rosa. A festa de quinze anos é trocada por Bar Mitzvah, o pagodinho por aquelas músicas klezmer divertidíssimas e “pitorescas” e o churrasquinho de gato por kebab.

Vale assistir pra gente dar uma espiada nas quebradas lá da Terra Santa e ver que tirando os “tiro, porrada e bomba”… não, nem isso é muito diferente.

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