Crítica: Saiki Kusuo no Psi-nan - 2a Temporada

Quando eu era uma criança bem pequena, meu emprego dos sonhos era ser “piloto” de ônibus. Imaginava ser legal dirigir algo tão grande, com rapidez e parando para embarcar todos os velhinhos que faziam sinal e que costumeiramente os motoristas deixavam a ver navios. Quando comecei a frequentar a escola e a interagir com outras crianças, percebi o quão cruel o ser humano pode ser um com o outro quando você foge do desvio padrão de conduta, gostos e aparência. Do dia para a noite, ser motorista de ônibus não correspondia às minhas expectativas, já que eu seria obrigado a interagir com outros da minha espécie. Após assinar a extinta TVA e começar uma das minhas obsessões de adolescente, assistir documentários (o que não me ajudava a ser muito popular), deparei-me com a profissão perfeita: cinegrafista da vida selvagem. Passaria meses e meses no meio natural, sozinho, fazendo algo que era mais ou menos o que eu já fazia no dia-a-dia: observar o comportamento de animais. Essencialmente todo meu ensino fundamental consistia em evitar chamar a atenção para não ser alvo daqueles no topo da cadeia alimentar social humana.

Eis que explorando obras nipônicas bem avaliadas pela crítica na última década, encontro Saiki Kusuo no Psi-nan e fui dragado pela sua proposta irreverente, personagens cativantes e diálogos em situações que me fizeram chorar de rir. No anime acompanhamos Saiki K. (Hiroshi Kamiya), um aluno do ensino médio que possui todos os superpoderes possíveis e imagináveis, que faz de tudo para evitar ser notado (assim como eu fazia!) e ter seu segredo de ser um super-humano revelado (o meu eu guardei até agora). Gostei tanto da obra que essa semana a indiquei no Garimpo NETFLIX: Animações e – sem que eu soubesse – no mesmo dia a NETFLIX coincidentemente lançou a 2a Temporada do anime aqui no ocidente.

Nessa temporada, Saiki segue com sua vida escolar e familiar na mesma proposta. Vale ressaltar que esse anime é episódico e sem um objetivo maior, o que ao mesmo tempo abre possibilidades para histórias completamente nonsense, servindo como homenagem e fazendo paródia de outras obras, e atrai um público mais casual. Tudo que faz de Saiki cativante está aqui, sua quebra da 4a parede – inclusive dele ciente que está em um anime -, sua paixão por gelatina de café, sua total falta de senso de humor e seus amigos que o orbitam contra sua vontade.

Há uma mudança interessante em relação à 1a temporada. Nela, quase até o final, eram apresentados personagens novos que buscavam um lugar na série, com a maioria tendo êxito, em episódios quase dedicados a estabelecer seu caráter e relação com Saiki e que, nesta temporada, ficaram um tanto excluídos pela adição de poucos novos personagens. Era o caso de Hairo (Satoshi Hino), esportista gente boa e agregador, Teruhashi (Ai Kayano), aluna mais gata da escola e apaixonada por Saiki (que mesmo aparecendo em diversos episódios não teve o peso da outra temporada) e Saiko (Masaya Matsukaze), o aluno rico que quer pegar Teruhashi e que acha Saiki seu rival (o que foi abandonado nessa temporada). Essa troca fez um leve desfavor a série, que havia apontado para um triângulo amoroso interessante, mas que foi abandonado em prol da adição de duas novas alunas para atiçar a questão da visibilidade que Teruhashi trazia para Saiki.

Felizmente essa temporada aprofundou a relação de Saiki com 3 amigos (agora de fato amigos): Kuboyasu (Yoshimasa Hosoya), um ex-aluno arruaceiro em busca de redenção em um novo começo em outra escola, Kaido (Nobunaga Shimazaki), que continua acreditando que tem super poderes e é perseguido por uma organização secreta, e Nendo (Daisuke Ono), um gigante burro pra caralho e gente boa. A interação curiosa dos 4 foi centro de mais de 3/4 da temporada e estabeleceu esse núcleo dentre um dos mais engraçados da história dos animes, forçando situações corriqueiras, como fazer um boneco de neve, em algo absurdo, perigoso e divertidíssimo. Outros dois personagens que apareceram muito pouco na 1a temporada voltam com um caráter mais permanente, Kusuke (Kenji Nojima) e Kumagoro (Kôichi Yamadera), irmão e avô materno de Saiki respectivamente, e continuam com a boa proposta de ser um núcleo que sabe dos poderes dele, com Kumagoro sendo disparado o personagem mais cômico de todo o anime.

A 2a temporada de Saiki Kusuo no Psi-nan aprofunda personagens que te abraçam e te fazem apreciar laços afetivos, entretem com demostração de super-poderes sem usar agressividade e cria situações de interesse amoroso sem apelar para sexo, nudez ou qualquer parafilia. É uma comédia divertidíssima que se sustenta apenas em um roteiro muito bem escrito com personagens secundários que são tão interessantes de acompanhar quanto nosso querido Saiki, que mostra que é difícil ser normal e me fez acreditar que o ser humano ainda tem salvação.

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