Garimpo Netflix: Dia dos Namorados

A Copa do Mundo se aproxima e – como que num prenúncio do mês inteiro em que as mulheres serão ignoradas por suas almas gêmeas que preferirão assistir embates campeoníssimos como Arábia Saudita x Egito ou Marrocos x Irã (isto só para ficar nos dois primeiros grupos) – a vontade divina quis que o Dia dos Namorados acontecesse dois dias antes de seu início, sem dúvida para que a indústria moteleira deste país não fosse à bancarrota e para que os relacionamentos tenham um grande último suspiro antes do mundial.

Então, mais do que nunca prestando um serviço de utilidade pública, o MetaFictions apresenta seu Garimpo Dia dos Namorados (nada a ver com este Garimpo Netflix Romântico do passado), que vai permitir que quem não goste de futebol tenha alguma coisa para fazer enquanto seu cônjuge assiste à terceira mesa redonda do dia, e também dará um descanso ao sujeito (ou sujeita) que não vai ter que ficar ouvindo que “Panamá x Tunísia não é jogo para se ver!” e vai poder curtir sua copa em paz.

Para aliviar o lado da rapaziada, não tem nada de Ryan Gosling ou Brad Pitt nesses filmes. Divirtam-se e boa copa!


Dia da Namorada (Girlfriend’s Day), de 2017, dirigido por Michael Paul Stephenson

Bob Odenkirk é um dos melhores e mais subestimados atores da televisão e do cinema mundial. Talvez por ser um cara feio e com um rosto meio esquecível, ele sempre esteve relegado a papéis secundários. Tudo mudou quando, já com quase 50, ele interpretou o inesquecível Saul Goodman na já mitológica “Breaking Bad”, reprisando seu papel no excelente spin off “Better Call Saul” (ambas foram citadas em nosso Top 10 – Melhores Séries do Século XXI, com “Breaking Bad” entrando na lista), tendo este ator excelente recebido finalmente o reconhecimento que merece.

Mesmo assim, Odenkirk continuou fazendo papéis em produções menores e mais intimistas, em geral comédias, como é o caso deste Dia da Namorada. Nele, Odenkirk é Ray, o “William Shakespeare” dos cartões românticos. Ray escreve esses cartões bregas que as pessoas gostam de se dar em datas como o dia dos namorados e era o melhor no que fazia até que deixou de ser. Encontramos o moço na merda, entregue à bebida e à auto-comiseração quando o Estado da Califórnia anuncia o feriado do Dia da Namorada, o que promete movimentar a indústria dos cartões românticos. Daqui em diante temos uma trama curtinha e enxuta (1h10m apenas) que envolverá assassinatos, conspirações e a busca do amor verdadeiro dentro de um contexto meio noir, meio comédia pastelão. Não é um filme fácil, mas, em se deixando levar pela sua esquisitice, vale cada minuto.

Eu te Amo, Cara (I Love You, Man), de 2009, dirigido por John Hamburg

https://www.youtube.com/watch?v=smeFoMufDFo

Continuamos aqui com um filme romântico até a medula, mas não num sentido sexual. Peter (Paul Rudd) pede sua namorada em casamento e então se lembra que não tem um amigo homem sequer e, consequentemente, não vai ter ninguém para ser seu padrinho no casamento. Sua futura esposa (Rashida Jones) resolve arrumar um amigo para ele e ele, depois de várias situações hilariantes, conhece Sydney (Jason Segel), um maluco meio vagabundo, mas divertidíssimo, bem diferente de Peter.

É a partir das idas e vindas desse relacionamento de amizade, mas que, pelas circunstâncias, se desenvolve de forma idêntica a uma comédia romântica normal – casal se apaixona, casal é feliz, casal briga, casal fica triste, casal faz as pazes, etc. – e dá bastante espaço para o timing cômico de praticamente todo o elenco. Temos aqui, além de Rudd e Segel, participações de gente que viria a se tornar gigante como Andy Samberg, JK Simmons, Nick Kroll, Melissa Rauch, além do já seminal Lou Ferrigno e uma participação muito especial da legendária banda canadense Rush (que gerou uma esquete no Funny or Die). Isto tudo faz com que Eu Te Amo, Cara seja uma comédia romântica (apesar de não haver romance) despretensiosa e extremamente divertida. 

Blue Jay, de 2016, dirigido por Alex Lehmann

O melhor, mais autoral e mais denso dos filmes desta lista, Blue Jay, foi brilhantemente resenhado e indicado por Larissa Moreno em nosso formato antigo de Garimpo ainda na infância do nosso site (confiram aqui se quiserem uma resenha mais completa sobre o filme), mas por ser um filme tão forte e bem realizado, eu me sinto na obrigação de espalhar a palavra e indicá-lo para o máximo de pessoas possível. Trata-se de um original Netflix na época em que a Netflix dava um trocado para algum realizador e mandava o cara se virar. E, no caso aqui, Mark Duplass, que protagoniza e escreve o filme, aproveitou os caraminguás da Netflix para trazer uma hora e vinte de uma dolorosíssima DR.

Mas é uma DR filmada em preto e branco, natural e que teve como roteiro tão somente algumas páginas escrevinhadas por Duplass, dando aos atores e ao diretor Lehmann toda a liberdade possível para que criassem uma pequena e rara pérola dentro do catálogo da Netflix. Trata-se um dos melhores filmes originais da empresa e dos mais intimistas. Denso, realizado com um carinho contagiante e contando com dois atores em estado de graça, Blue Jay é de cortar o coração não por causa do que acontece nele, mas por causa da proximidade das lembranças que ele certamente suscitará em qualquer um que já tenha amado.

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