Crítica: Arranha-Céu: Coragem Sem Limite (Skyscraper)
Em 1994, durante os intervalos dos jogos do Brasil rumo ao tetra, eu jogava um game que viria a se tornar uma referência no gênero de simulação: Sim City 2000. Além de administrar inúmeros aspectos da cidade (fundando as bases de um jovem geógrafo aos 11 anos), o Ryan Fields era obcecado por uma das construções mais fantásticas e belas do jogo: um arranha-céu espetacular, cujo nome não me lembro, mas que chegava a abrigar um ecossistema dentro dele, além de milhares de pessoas (como pode ser visto na imagem abaixo). Era uma construção difícil de habilitar, extremamente cara e arriscada de se construir. Ela se destacava na paisagem urbana da cidade e, quando construída, era motivo de orgulho. A Ryanópolis vibrava a cada construção desse desafio digital aos deuses, sempre conseguindo lotação máxima e perto de algum aeroporto para dar mais emoção.
Estreando nesse final de semana no Brasil, o longa Arranha-Céu: Coragem Sem Limite, escrito e dirigido por Rawson Marshall Thurber, resgata essa obsessão masculina por suas partes íntimas em tudo que traduz grandeza e nada mais fálico do que um prédio com mais de 1km de altura em meio a outros que mal chegam a 200 metros. Estrelando o longa temos Neve Campbell (Sarah Sawyer), meu crush dos meados dos ano 90, e Dwayne Johnson (Will Sawyer), que interpreta um ex-combatente que perdeu a perna em uma ação militar trazendo uma pauta forte de pessoas amputadas sendo funcionais na sociedade, o que de fato é o caso. Sendo retratado como o maior prédio do mundo, o Pearl não exagera muito no quesito plausabilidade, sendo apenas alguns andares maior do que o atual recordista em Dubai. Há que se destacar na representação dessa construção o design arrojado e alguns features tecnológicos para lá de especiais, como a capacidade holográfica suprema no seu terraço. Piadas a parte, a construção desses colossos é uma conquista fabulosa da engenharia. Imagine os sistemas que dão pau toda semana no seu prédio de 6 andares funcionando em uma cidade vertical com mais de 200 andares.
Mas nada é perfeito e, ciente disso, o dono do prédio, Zhao (Chin Han), por intermédio de um dos seus funcionários de alta patente, Ben (Pablo Schreiber), resolve consultar Will em relação aos sistemas de segurança do Pearl. Ele recebe um tablet que dá acesso a porra toda de segurança enquanto sua família, supostamente, estaria se divertido em uma parte vip do prédio. Óbvio que isso é um esquema e um grupo de mercenários daqueles bem genéricos, que está atrás de algo de extremo valor em posse do dono do prédio, que obviamente vive na cobertura, quer o tablet, único meio pelo qual eles terão sucesso na sua empreitada. Para conseguir seu objetivo final, os mercenários incendeiam o 96o andar do edifício e forçam Will – que usa todo seu conhecimento útil em situações de emergência sobre sistemas de segurança – a resgatar sua família, que evidentemente está presa pouco mais acima, com o fogo avançando ferozmente andar por andar.
Não sei se foi intencional, mas se você comparar os dois prédios citados, mesmo não havendo uma diferença tão discrepante de altura entre eles, o Pearl é incrivelmente mais imponente. É exatamente essa sensação que é passada quando vemos Will ao lado de Ben. Pablo Schreiber é um ator alto e forte, sendo a força braçal na série “American Gods“, e ainda assim ele parece uma pessoa normal perto desse colosso humano que é o Dwayne. O rei do carisma continua com a mesma atuação de sempre, valendo-se do seu porte físico nas cenas tão mentirosas quanto espetaculares que ocorrem a cada segundo, mostrando que o filme sabe o que seu público alvo gosta. Você prefere ver um cara de 2 metros pesando 130kg de músculos e com prótese na perna cobrindo 20m em um salto de um guindaste ou vê-lo no chão ligando para os bombeiros? Inclusive a prótese não parece ser apropriada para atividades físicas, mas, como não entendo do assunto, deixa aí nos comentários se é plausível uma corrida seguido de pulo com prótese normal.
No mais, temos cenas de ação regulares, atuações típicas desses blockbusters e um final previsível que cumpre sua função de entreter, mas nada além disso. O filme tenta ser um “Duro de Matar“, mas falha miseravelmente por não fornecer um vilão marcante, um plot mais justificável, já que não precisava ocorrer no prédio, e um herói menos overpowered. É o Dwayne Johnson, porra!
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