Crítica: Missão: Impossível - Efeito Fallout (Mission: Impossible - Fallout)
Acho bem pertinente começar esta resenha com a seguinte informação: Tom Cruise tem 56 anos. Vá ao cinema para ver este excelente Missão: Impossível – Efeito Fallout com isto em mente. Saia da sala de cinema odiando a si mesmo e todas as suas escolhas na vida porque você, com 35 anos de idade, parece ser não só bem mais velho que ele, como também absolutamente incapaz de fazer 1% das estripulias que ele faz. Lembre imediatamente que você acabou de ver um dos melhores filmes do gênero dos últimos tempos. Ache algum conforto no fato de que o cinemão-pipoca-americano está aí justamente para que você se entupa de pepsi e se imagine na pele do protagonista fazendo coisas que jamais seriam possíveis a quem bebe um balde de um litro de refrigerante durante uma sessão. Saia sorrindo.
O parágrafo acima sumariza a experiência de assistir a este filme. Trata-se de um daqueles blockbusters que se vale de absolutamente todos os recursos visuais e sonoros que uma tela de cinema pode proporcionar, além de fazer o melhor uso do 3D que eu já vi (e eu ODEIO o 3D) e cumprir quase à perfeição aquilo a que se propõe. Recentemente, na crítica de Nos Vemos no Paraíso (outro excelente filme), eu falei que alguns filmes se fazem quase que obrigatórios de serem vistos no cinema. Missão: Impossível – Efeito Fallout é certamente um deles. E veja em IMAX se puder.
Não vou aqui perder muito tempo com a sinopse. É mais um capítulo da franquia que mostra Ethan Hunt (Tom Cruise, o senhorzinho em melhor forma que todos nós e que tinha 34 anos quando saiu o primeiro) se atracando com uma trama de uma complexidade absurda para salvar o mundo, em uma semi-sequência do filme anterior. Desta vez, além de contar com a ajuda de sempre de Luther (Ving Rhames) e Benji (Simon Pegg), ele ainda é obrigado a engolir Walker (Henry Cavill e seu glorioso e polêmico bigode), um agente da CIA que está meio que supervisionando suas operações.
O que este tem de diferente dos outros é que todos os seus 147 minutos exibição são necessários, em um roteiro que, se peca por uma complicação exacerbada da trama em si, é primoroso no que se refere às soluções dadas e, principalmente, ao conseguir equilibrar tempo de tela e desenvolvimento de pelo menos 10 personagens diferentes, cada um desempenhando seu papel dentro do contexto macro de toda a narrativa. Até mesmo o Secretário Hunley, do sempre carismático Alec Baldwin e que tem muito pouco tempo de tela, é desenvolvido e cumpre um papel chave em uma cena crucial para a trama.
Tudo aqui está permeado por uma eloquência técnica de rara felicidade. A obra inteira exala um primor absurdo, desde a fantástica trilha sonora que passeia pelo clássico tema principal da franquia (e aqui fica a anedota de que esta foi a 1a música que aprendi a tocar e que permanece sendo a única), passando pela edição e mixagem de som que, junto com a fotografia estonteante de paisagens esplendorosas e gigantescas, trazem um senso de imersão na aventura poucas vezes alcançado.
Isto tudo, sejamos francos, só para que a gente veja Tom Cruise sambando na cara da sociedade ao dispensar dublês em cenas de perigo mortal e, especialmente, fazendo aquilo que ele faz de melhor: correr. E como corre o menino Tom! Esqueça que ele tenha treinado um ano só para poder saltar ele mesmo de paraquedas a 10 mil metros de altura. O que importa mesmo é que ele corre e corre muito. Em uma dessas cenas, inclusive, ele corre para saltar de um prédio, destrói seu tornozelo de verdade quando chega ao outro prédio e ainda assim se levanta para continuar correndo, ainda que mancando, sendo esta a tomada que entrou no filme.
Estes entusiamo e comprometimento evidentes de Tom, que também produz toda a série, claramente contagia todo o elenco, que está azeitadíssimo, com atuações, sem exceção, todas no ponto certo. Muito disso se deve também a Christopher McQuarrie, o diretor e roteirista deste filme e também do anterior (e que parece só trabalhar se for com Tom Cruise, já que 3 de seus 4 filmes são estrelados e produzidos por ele), que faz um bom trabalho no que se refere a direção dos atores e um EXCELENTE trabalho no que se refere à direção de toda a ação. Nisto, ele foi imensamente ajudado não só pela já mencionada cinematografia de Rob Hardy, mas também pela edição ágil de Eddie Hamilton.
Missão: Impossível – Efeito Fallout tem tudo que um bom filme de ação precisa ter. Tem atuações dentro do tom exigido, cenas de ação vertiginosas, reviravoltas de roteiro que vão te deixar na ponta da cadeira por boa parte do filme, uma trilha sonora primorosa, efeitos sonoros e visuais que fazem com que entendamos seu orçamento de 250 milhões de dólares, locações nada menos que estonteantes e, principalmente, tem Tom Cruise.
Este é um sujeito que personifica o cinemão americano. Ele está há 30 anos como estrela de primeira grandeza de Hollywood e seu tino artístico-comercial raras vezes errou (como na desgraça em forma de cinema “A Múmia“), entremeando filmes gigantescos como esse com algumas poucas, mas relevantes e que lhe conferem maior estofo artístico, obras de menor apelo comercial, como o espetacular “Magnólia” e o excelente “Colateral”. E tudo enquanto parece ser um maluco do caralho que não vê a filha há 10 anos porque a Cientologia não deixa.
Aqui ele nos entrega o melhor filme da franquia, uma obra com reviravoltas malucas, perseguições alucinantes a pé, de carro, moto e helicóptero, lutas muito bem coreografadas e até alguns momentos de pura ternura em suas 2 horas e meia de um frenesi que, mesmo eu estando explodindo de vontade de mijar por metade do filme por causa daquele balde de pepsi, me mantiveram grudado na cadeira até o final.
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