Crítica: O Diabo e o Padre Amorth (The Devil and Father Amorth)
O exorcismo é uma prática válida? Podemos contar com ela para aliviar o tormento de pessoas que se julgam sob possessão demoníaca? Para responder essas questões, William Friedkin dirige, escreve e participa do documentário O Diabo e o Padre Amorth, buscando esclarecer o que acontece nos inúmeros casos de exorcismo ao redor do mundo. Vale ressaltar que Friedkin é o consagrado diretor do clássico “O Exorcista” (que figura de forma proeminente em nosso Top 10 – Filmes de Terror) e que a produção do longa foi baseada em um livro que, por sua vez, relata o verídico caso de exorcismo de uma suposta possessão que teria ocorrido em 1941. Tanto o livro quanto o filme foram escritos por William Peter Blatty, que alega ter ficado perturbado ao estudar o caso. Tanto ele quanto William nunca haviam presenciado um ritual exorcista na vida… até agora.
Caso você queira assistir ao documentário procurando evidências que demônios existem e que sacerdotes religiosos são a linha de frente na luta contra essas entidades, fique sabendo que esse não é o foco da obra, que em qualquer momento valida (ou descarta) tais possibilidades. O Diabo e o Padre Amorth evita julgamentos, tratando apenas de documentar um ritual e buscar relatos de diferentes áreas do saber sobre o tema. Para isso, acompanhamos nosso diretor na Itália – um país com 60 milhões de habitantes e com 500 mil pessoas buscando amparo em exorcismos – para documentar a NONA tentativa de Cristina, uma jovem na casa dos 30 anos que acredita estar possuída. O responsável pela empreitada é o renomado nonagenário padre Gabriele Amorth, com mais de 30 anos de prática no ofício, sendo o exorcista titular do Vaticano.
A obra conta com apenas 68 minutos de exibição, sendo que apenas 10 minutos para o ritual em si, que é o auge do documentário. No entanto, mesmo sendo seu ponto alto, caso você esteja tomando como ponto de partida todos os filmes sobre a temática, prepare-se para se decepcionar. Aqui você não verá ninguém voando, girando cabeça, contorcendo-se como uma ginasta chinesa, vomitando ectoplasma ou ficando com o rosto desfigurado. O máximo que ocorre – e ainda assim causa um choque – são vozes guturais que todo apreciador de grindcore já escutou antes, como bem você pode ouvir no trailer. O ambiente é simplório, bem iluminado e com muitas pessoas assistindo. Bem diferente do nosso imaginário.
Embora o ato em si cubra apenas uma pequena fração da obra, há uma interessante proposta de discussão sobre as causas e raízes de possessões, mas que fica superficial, sem nada que balize efetivamente as posições apresentadas. Temos padres um tanto céticos e médicos inclinados a aceitar que algo de fato esteja ocorrendo ali e que não são contra o ritual – mas o que não afirmam que existam demônios -, que cumpre uma função psicológica no enfermo. Um dos poucos bons momentos do documentário é apresentar as doenças mentais (domínio da ciência) e as doenças espirituais (domínio da religião) com uma interseção, mostrando que não são mutuamente excludentes.
O Diabo e o Padre Amorth é uma obra anti-climática do ponto de vista do terror e, também, como documentário, já que não ficamos assustados e nem saímos questionando nossas certezas. Padres, testemunhas, possuídos, neurocirurgiões, psicólogos e psiquiatras não se antagonizam, muito pela má condução que William Friedkin tem das curtas entrevistas sem qualquer dado para apoiar afirmações. Em suma, quem acredita continuará acreditando em possessões demoníacas e quem não acredita continuará acreditando em transtorno de transe dissociativo.
E você? Acredita em quê? Deixe aí nos comentários.
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