Crítica: Orange Is the New Black - 6a Temporada

Orange Is the New Black é uma das queridinhas dentro da comunidade LGBT, perdendo para “RuPaul’s Drag Race” e para, talvez, “Queer Eye”. Sendo construída ao longo de seis anos, conta com mais de 70 episódios, que, se postos em comparação com o que tínhamos até então, mostram uma certa sofisticação temática no que começou como uma comédia lésbica/racial. Como dito, a série tinha como tônica inicial um entretenimento mais engajado com a comédia, ainda que já alfinetasse com piadas as questões sociais por meio das histórias das detentas de Litchfield.

No entanto, após algumas investidas em superficialidades como o relacionamento entre Piper Chapman (Taylor Schilling) e Alex Vause (Laura Prepon), os roteiristas finalmente perceberam que Chapman era insuportável e que o público estava farto dela; para nossa alegria, outras personagens ganharam maior protagonismo. Pudemos ter acesso às maravilhosas Nichols (Natasha Lyonne, crush fortíssima), Sophia (Laverne Cox), e Poussey (Samira Wiley). Também começamos a entender melhor Suzanne (Uzo Aduba), Lorna (Yael Stone) e Dogget (Taryn Manning), todas parte de um núcleo “psiquiátrico”, digamos assim. O série mostrava-se promissora e certamente estava no caminho certo, desenvolvendo em suas personagens questões bastante profundas e com senso crítico aguçado.

Tudo muito que bem, inclusive até a 5ª temporada, onde a rebelião em Litchfield teve o ápice em termos de destacar severas críticas ao sistema carcerário americano por uma ótica que explicitava vivências de gênero e raça, como as relações de poder patriarcal e a estrutural existência do privilégio branco. Findado o protesto, na sexta temporada as detentas são levadas para a penitenciária de segurança máxima – e aí dizemos adeus tanto à Litchfield como à qualidade elevadíssima da série até então.

Como já sabemos, a rebelião deu muita merda, teve gente morta, gente ferida, guarda sendo torturado, gente fazendo protesto pacífico e, no final de tudo, o filha da puta psicopata do Piscatella (Brad William Henke) morre, e já tava na hora. Ironicamente, ele é atingido acidentalmente por uma bala vinda de um dos guardas durante os momentos finais do conflito – mas, é claro, isso não será contado assim. Logo, a grande questão nessa temporada é: quem será o bode expiatório do sistema dessa vez?

Cindy, Chapman, Mendoza e Nichols sendo transferidas para a “max”.

A história desenvolve em um ritmo tortuoso, com cenas tediosas de interrogatório, intrigas internas, nada acontecendo e, vez ou outra, a história paralela de Dogget, que conseguiu fugir com seu amor/sequestrador emocional, o ex-guarda Donuts (James McMenamin), para viver uma linda história/síndrome de Estocolmo. Chapman continua intragável, desesperada por achar Vause, parecendo uma boneca que é programada para falar apenas uma frase: “Cadê a Alex?”. Algumas personagens somem sem nenhuma explicação, o que deixa uma sombra de corte de orçamento pairando no ar. A história não parece ter muito objetivo ou mensagem por trás, diferentemente das temporadas anteriores.

Diversas foram as vezes que parei o episódio para refletir sobre em que porra eu estava investindo meu tempo. Inclusive, uma razão muito forte para o atraso da entrega da crítica que cá escrevo é a incapacidade de maratonar a produção, que, para completar, traz episódios de praticamente uma hora cada, com o último chegando a 1:24. Fiquei muito decepcionada com a falta de intensidade, em especial em contraste com uma última temporada sanguinária e que não poupou aflorar sentimentos. Em inglês tem uma palavra que gosto bastante, chama lukewarm. É quando você vai beber um chá ou café, por vezes sedento, dentro de seu bangalô no meio das montanhas, frio pra caralho, e a parada tá morna. Tépida. Beira o sem graça. Vale tanto como pra temperaturas quanto pra reações. E é essa a minha definição para a última temporada de OITNB: lukewarm

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