Crítica: Penalidade Máxima (Tuya, mía… te la apuesto)
Dentre as muitas máximas repetidas à exaustão pelo cidadão brasileiro, duas ecoavam dentro da minha cabeça por cada um dos 90 minutos de exibição de Penalidade Máxima (não confundir com o filme inglês de mesmo nome, também disponível na Netflix, e indicado em nosso Garimpo Netflix: Copa do Mundo) justamente por que são, para o contexto desta obra, de uma pertinência assombrosa. São elas: “O Brasil é o país do futebol” e “O Cinema nacional é uma merda”. Se Penalidade Máxima tem algum mérito (e são muito poucos), ele tem o de desmistificar as duas coisas.
Não, o Brasil não é O país do futebol, mas tão somente o país que mais ganhou a Copa do Mundo. Trata-se do esporte mais popular do mundo inteiro, sendo amado por literalmente bilhões de pessoas e o mais popular em nada menos que 90% dos países. Um deles é o México, um país que tem a tradição de ter ido a quase todas as Copas, mesmo sem nunca ter feito uma campanha verdadeiramente memorável, e que em 2026 sediará, pela 3ª vez (único país a fazê-lo) uma Copa do Mundo. Além disso, eles têm alguns dos melhores times de futebol da América Latina, uma liga nacional fortíssima e uma torcida fanática por sua seleção mais ou menos como era a nossa até meados da década de 90.
E não. O Cinema nacional não é uma merda nesse sentido amplo como os imbecis que só assistem a coisas como as comédias do gêneros Zorra Total propagam. Há toda uma produção que vai muito além dos “blockbusters” de comédia popular brasileira, ainda que ela venha minguando ano a ano desde que a crise se instalou no país e a captação de recursos se tornou mais difícil. Penalidade Máxima mostra, portanto, que um país capaz de produzir obras-primas como “Amores Brutos” e cineastas como os oscarizados Guillermos del Toro e Alfonso Cuáron, é também muitíssimo capaz de produzir uma bobagem do nível desta desgraça aqui resenhada, comprovando que o que é uma merda não é o Cinema nacional, mas, sim, a produção popularesca em geral, aquela que trata o espectador como idiota, salvo raras exceções. Hollywood, com todo o seu poderia econômico, pode se dar ao luxo de apostar em efeitos especiais nesse tocante, mas no Brasil, assim como no resto da América Latina, resta mesmo a comédia barata.
E é somente nesse contexto que é possível analisar Penalidade Máxima. Sua proposta é muito simples: usar a paixão nacional do mexicano pela seleção e, desta forma, fazer rir com piadas bobas, situações esdrúxulas e personagens unidimensionais. E, tirando a parte do fazer rir na maior parte do filme, ele cumpre sua proposta à risca.
A história é a seguinte: Mariano (Adrien Uribe), casado com a colombiana bicho bão Luz (Julieth Restrepo), é um fanático pela seleção mexicana. Mais que isso, ele também acredita ser uma espécie de amuleto da sorte, já que, segundo ele, o time nunca perdeu quando ele esteve assistindo ao jogo no Estádio Azteca. O México jogará com os EUA pela vaga final da Concacaf na Copa do Mundo e Mariano, contando com seus efeitos mágicos sobre o resultado, resolve apostar tudo que tem e que não tem na classificação do México, custe isso o que custar.
Temos aqui um protagonista babaca e egoísta que aprenderá uma lição ao final, um irmão bobo alegre que é manipulado pelo protagonista, uma esposa boazuda que não dá para entender como estaria casada com um merda daqueles, um elenco coadjuvante para quem piadas rasteiras foram escritas e atuações verdadeiramente pavorosas por todo o elenco (à exceção da vovozinha que é uma graça). São todos os elementos básicos de qualquer filme do Leandro Hassum, de modo que este filme poderia ter facilmente sido produzido no Brasil e estrelado com muito mais competência pelo Paulinho Gogó, muito embora aqui não haja qualquer piada sobre sodomização de travestis.
Com todos os seus defeitos, e realmente não são poucos (tanto que está sendo considerado no México como o pior filme do ano), Penalidade Máxima ao menos mantém um ar de inocência, sem em momento algum apelar em suas tentativas de fazer piada, e chega até mesmo a quebrar paradigmas em seu final, ao, de maneira realmente surpreendente dentro do que geralmente se espera deste tipo de filme, decidir trilhar um caminho que mostra como é desgraçada a existência de um sujeito cego por seu fanatismo. Se tiver que escolher, contudo, fique com o Penalidade Máxima que indicamos no Garimpo Netflix.
Leave a Comment