Crítica: Próxima Parada: Apocalipse (How It Ends)
Eu queria saber quem é o verdadeiro arrombado que resolve dar spoilers dos filmes já na porra do título que inventam para a obra em português. Próxima Parada: Apocalipse é mais um deles. Seu título em português, que em nada se assemelha à “Como Termina” (tradução livre de “How It Ends”, o título original), faz um desserviço à obra, induz o espectador a erro e é genérico até a medula. Não estamos aqui falando de uma película brilhante e que merece todos os láureos do mundo, mas deixar a palavra “apocalipse” ou qualquer referência ao fim dos tempos de fora do seu título em português teria sido certamente um acerto e demonstração de maior respeito à obra.
No filme, Will (Theo James) namora Sam (Kat Graham), filha do ex-militar linha dura Tom (Forest Whitaker), e mora com ela em Seattle. Aproveitando uma viagem de negócios a Chicago, terra natal de Sam e onde ainda moram seus pais, Will planeja pedir sua mão ao porre em forma de gente que é seu pai. Em cenas simples, bem realizadas e atuadas, os personagens de Will – o namorado apaixonado que só quer ser aceito pelo sogro para poder viver seu amor – e Tom – o pai super protetor que acha que ninguém é bom o suficiente para sua filha – são desenvolvidos quase que por completo, até que, após um jantar desastroso no qual Will põe os pés pelas mãos, ambos são obrigados a pegar um carro e dirigir os 3.200 quilômetros que separam Chicago de Seattle.
Isto porque alguma coisa gravíssima aconteceu na costa oeste americana, mas as comunicações foram cortadas e não se tem a menor ideia do quê. É aqui que este título safado prejudica o filme, já que ele te deixa claro de cara o que ele acha que aconteceu, e que Will e Tom resolvem se unir em nome do amor que ambos sentem por Sam para deixarem a aparente segurança de Chicago e trilhar um caminho cada vez mais perigoso até que Seattle para que descubram se está tudo bem com Sam.
É na relação entre os dois que o filme brilha, na DR quase que contínua que ambos mantém quase que o tempo todo, arvorada principalmente nas corretíssimas interpretações do aclamadíssimo Forest Whitaker e de Theo James, para mim uma grata surpresa. A obra, portanto, não é o filme catástrofe apocalíptico anunciado, mas, sim, um thriller com alguma tensão e o clássico recurso da road trip que se presta a consertar todos os problemas de uma relação e não é por acaso que o início, momento em que só há mesmo construção de personagem, é sua melhor parte. Sim, há um evento de consequências potencialmente cataclísmicas (e o longa dá várias pistas de que isto é algo mundial e não apenas localizado na costa oeste americana), mas este é, na essência, apenas o pano de fundo.
Contudo, talvez por uma exigência comercial e mercadológica, o filme perde MUITO tempo apresentando certos clichês deste gênero que não levam a lugar nenhum, no afã de travesti-lo em um filme de ação ou algo assim. Há uma personagem de uma reserva indígena, por exemplo, que de nada serve à trama, apesar de bem interpretada por Grace Dove, tudo porque os criadores resolveram que seria necessário mostrar a cada momento o quão verdadeira é a máxima hobbesiana de que o homem é o lobo do homem. E isto também ajuda na considerável perda que o filme tem por causa de seu ritmo, uma vez que a inserção de cenas desse tipo faz com que seu ritmo, que começara tão bem, fique prejudicado, apresentando uma barriga enorme ali pelo meio.
Apesar disso, trata-se de um filme correto, com atuações competentes, uma fotografia bem coesa e um excelente uso da trilha sonora e de sutis efeitos especiais para contar uma história de forma incidental, deixando claro a quem quiser prestar atenção que há, sim, alguma coisa acontecendo e ela não é tão simples quanto se imagina.
Não vá ver Próxima Parada: Apocalipse esperando grandes cenas de ação, violência e efeitos especiais escalafobéticos, muito embora você possa até mesmo ser perdoado por isso por conta do que o nome do filme, seu poster e seu trailer levam a acreditar. Contudo, neste final de semana com pouquíssimas estreias no cinema e até mesmo na Netflix, já que parece que todo mundo estava achando que o Brasil estaria na final da Copa do Mundo, Próxima Parada: Apocalipse não faz feio, muito embora não seja nada que justifique deixar de se ver a final da Copa.
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