Garimpo Netflix: Grandes Atores

Eu tenho uma teoria: atuações medianas em filmes ruins rendem Oscars para bons atores enquanto atuações boas em filmes ótimos não rendem, quando muito recebem indicação. Muitas vezes um filme sem sal algum, com atores consagradíssimos fazendo um feijão com arroz, se destacam tanto que acabam sendo premiados, trazendo injustiça para atuações melhores em ótimos filmes que passaram um tanto despercebidos.

Motivado por esse devaneio, trago hoje em nosso Garimpo 3 obras excelentes com atores renomados – que juntos somam 2 Oscars e mais outras 5 indicações por belíssimas atuações – que foram esnobados (filme e atuação) pela Academia em seus anos de lançamento.


O Abutre (Nightcrawler), de 2014, dirigido por Dan Gilroy

https://www.youtube.com/watch?v=6X7QjGRrRfI

O Oscar 2015 foi briga de cachorro grande. Tivemos os 2 últimos melhores filmes que vi na vida, o vencedor “Birdman” e o incrível “Whiplash” (com Assista! no site), os ótimos “O Jogo da Imitação” e “Selma“, além do aclamado pela crítica “Boyhood“. Mas ali no meio havia também filmes que, na minha opinião, não mereciam estar nesse hall (mesmo não sendo ruins), como “O Grande Hotel Budapeste“, “Sniper Americano” e “A Teoria de Tudo“, que por uma questão ou outra não se igualam aos seus concorrentes, diferente de O Abutre. Acredito que esse longa merecia indicação a Melhor Filme e, especialmente, a Ator, pegando a vaguinha de Steve Carell (“Foxcatcher“) ou Bradley Cooper (“Sniper Americano”), além da indicação recebida por Melhor Roteiro Original, mas foi esquecido pela Academia.

Jake Gyllenhaal vinha em uma série de boas atuações, sendo indicado em seu papel por “O Segredo de Brokeback Mountain“, e entregou em O Abutre uma das melhores performances de sua carreira. Nele acompanhamos Louis Bloom, um jovem ambicioso e sem escrúpulos que inicia sua jornada no mundo do telejornal sensacionalista, filmando cenas chocantes durante a noite para serem exibidas no dia seguinte. Indo muito além do que deveria, Louis cruza limites éticos, morais e legais para entregar o material que você aprecia no Cidade Alerta.

Riz Ahmed, muito mais reconhecido hoje em dia após sua participação na franquia Star Wars e na série da HBO “The Night Of” (com Garimpo no site!), também merece destaque, interpretando um estagiário explorado, e Rene Russo, reaparecendo em um longa depois de um grande hiato (tirando as breves aparições na franquia Thor), interpretando a produtora do telejornal.

O Solista (The Soloist), de 2009, dirigido por Joe Wright

Não se deixe enganar por esse rosto maroto logo acima. Robert Downey Jr. vai muito além do gênio, bilionário, playboy e filantropo Tony Stark. Com duas indicações ao Oscar, uma em 1993, quando cheirava todas, por “Chaplin“, e outra em 2008 no polêmico longa “Trovão Tropical“, Robert se mostra toda a sua versatilidade no maravilhoso longa O Solista. Nele acompanhamos Steve Lopez, um repórter com uma vida pessoal muito conturbada que descobre um verdadeiro talento da música erudita, Nathaniel Ayers (Jamie Foxx), pelas ruas de Los Angeles. Nathaniel é um de muitos moradores de rua que perderam seu rumo na vida em alguma parte de seu caminho e que possuem uma história para contar. É exatamente essa história que instiga e aproxima Steve de nosso morador de rua, que sofre de distúrbios neuroquímicos. Jamie Foxx recebeu duas indicações no mesmo Oscar (2005), uma para coadjuvante em “Colateral” e vencendo como ator principal em “Ray“. Sua atuação como Nathaniel é um primor, transparecendo todo seu amor à música e a batalha que ele trava com seus demônios.

Em uma premiação com grandes filmes e atuações, O Solista não achou uma vaga entre os indicados. Caso você queira assistir a uma história de amizade e superação, dê uma chance que a Academia não deu.

Mas “Avatar” foi indicado, né?

Um Dia Perfeito (A Perfect Day), de 2015, dirigido por Fernando León de Aranoa

No início da década de 1990, a Iugoslávia começou o processo de fragmentação de seu território. Essa ruptura não foi pacífica e resultou em um dos maiores genocídios pós 2a Guera Mundial. Croatas, bósnios, sérvios e albaneses derramaram muito sangue para defender seus territórios, culturas e povos. Exércitos, milícias e organismos internacionais lutavam para dominar a região com um resultado catastrófico para a população local, que se viu obrigada a se refugiar ou aguentar o terror de ter em seu vizinho um inimigo em potencial. Isso não ocorreu há tanto tempo atrás e ainda vemos as cicatrizes físicas, com as economias e infraestruturas desses países ainda em mal estado, e sociais, com muita animosidade entre essas nações. Basta ver a repercussão que as comemorações de Xhaka e Shaqiri, frutos de um povo que se refugiou na Suíça, tiveram na comunidade sérvia.

As águias albanesas.

Mostrando as mazelas desse conflito, Um Dia Perfeito foi uma agradabilíssima surpresa em 2015. Acompanhamos Mambrú (Benicio Del Toro) e “B” (Tim Robbins), além de outros voluntários, na missão de retirar um corpo de dentro de um poço artesiano em uma comunidade no meio do conflito étnico. Com uma premissa simples, o longa é conduzido pelos meandros que a guerra permitia, especialmente com as limitações que a OTAN e a ONU tinham em manter a segurança dos civis. Tim Robbins e Benicio Del Toro, ambos com um Oscar e uma outra indicação, lideram essa empreitada com atuações que carregam o telespectador pela mão, mostrando-nos tudo aquilo do que é preciso abdicar para ser um voluntário.

Infelizmente a Academia esqueceu do longa, que passou sem qualquer indicação ao Oscar que consagrou “Spotlight” (filme ok, nada além disso), ainda que tenha sido premiado em vários festivais internacionais. Isso sem contar que tivemos a indicação na mesma categoria de “Ponte dos Espiões“, que é genérico até a alma.

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