Crítica: Desaparecida (Perdida)

Por volta de 5 meses atrás, eu me incumbi de fazer a resenha do seriado “Edha“, a primeira obra original Netflix argentina, fazendo uma suposição de que provavelmente estaria ali diante de um deleite audiovisual, já que a produção argentina que chega ao Brasil costuma, com raras exceções, ser excelente. E, puta que me o pariu, como eu estava errado! “Edha” é uma sucessão de erros do começo ao fim e fez com que eu passasse a ficar com um pé atrás quanto ao audiovisual argentino, pé atrás este que se confirma com este Desaparecida, primeiro longa-metragem original Netflix da Argentina e que, apesar de ser efetivamente melhor que “Edha”, padece de alguns dos seus problemas.

Baseado no romance policial “Cornelia” da escritora argentina Florencia Etcheves, Desaparecida começa com uma premissa até que interessante de que nossas vidas são tão frágeis que um momento apenas pode defini-las por completo. No caso aqui, este momento é o desparecimento da adolescente Cornelia durante uma viagem da escola a algum lugar da Patagônia argentina. A partir disso, as vidas de sua família, das amigas que estavam consigo e de sua melhor amiga, Pipa (Luisana Lopilato, chiquitita original e esposa de Michael Bublé) mudam radicalmente, levando Pipa, apesar de ser de uma família abastada de Buenos Aires, a se tornar policial e eventualmente voltar a investigar o sumiço de sua amiga 14 anos antes.

Segue-se a isso uma tentativa de emular os recentes e verdadeiramente marcantes filmes policiais noir escandinavos, mas que é frustrada por atuações fracas, um roteiro frouxo e clichês que vão se amontoando até o final dos 103 minutos de exibição em um thriller que tenta, mas nunca consegue realmente construir um ambiente de tensão para o espectador. E isto sem contar a produção quase novelesca, com gente bonita por todo lado e cenários hermeticamente organizados, algo que parece ter sido herdado de “Edha”.

Para se ter uma ideia dos clichês, temos aqui uma mulher internada em um sanatório que faz desenhos bizarros, uma policial masculinizada que vai contra tudo e todos por seus ideais, um chefe de polícia que dispensa qualquer linha de investigação que ela apresenta e, para finalizar, um vilão que parece ter saído diretamente de Matrix, careca, bigodão, óculos escuros e uma tatuagem gigante na cabeça.

Nem tudo, contudo, é uma desgraça absoluta. O filme começa com uma tomada aérea feita com drone realmente bonita de uma paisagem nevada em San Martín de los Andes, local que é retratado sempre com bastante cuidado pela lente de Guillermo Nieto, o mesmo valendo para uma locação nas Ilhas Canárias na Espanha. Além disso, amaia Salamanca, como a prostituta semi-anoréxica Sirena, faz um bom trabalho naquele que é o único personagem mais ou menos interessante de toda a obra, mesmo sendo prejudicada por diálogos enfadonhas e, por vezes, artificiais.

Apesar deste Desparecida ser melhor que “Edha“, isto é mais um atestado da ruindade de um do que da qualidade do outro. Deixo aqui a mesma dica que deixei na crítica de “Edha”: dá um trocado na mão do Ricardo Darín, Netflix!

 

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