Crítica: Medo Viral (Bedeviled)
Uma vez discutindo sobre uma péssima produção de um filme de terror genérico, surgiu o argumento que a qualidade do longa é mais ou menos proporcional ao tamanho da verba para realizá-lo. Eu não comprei a ideia, mas entendi a argumentação. O caso em questão – e que fez da película penosa até a alma de assistir – apresentava efeitos visuais datados e que te roubavam qualquer possibilidade de imersão. Caso tivesse mais dinheiro investido, talvez o longa funcionasse melhor nos seus momentos derradeiros. Embora seja um ponto válido, o que realmente você está vendo ali já é reflexo de um problema anterior: a ambição de fazer algo maior do que a verba que você tem. Os melhores filmes de terror não se fizeram, salvo algumas exceções, com grandes orçamentos, mas com originalidade, a competência de um bom roteiro e a criação de um ambiente crível que instigue um medo primário e irracional no telespectador. Tanto isso é verdade que o maior sucesso da história de bilheteria dos cinemas é o “Atividade Paranormal“, que fez quase 200 milhões de dólares com um orçamento de 15 mil.
Na categoria de filmes de terror genéricos, com roteiros ruins, sem ambientação e ambiciosos para o orçamento que tem, Medo Viral é mais um dentre muitos que faz questão de engrossar essa lista. Em resumo – e eu estou fazendo uma sinopse honesta – uma entidade maligna consegue invadir um aplicativo para smartphones, que aparentemente foi criado por ela, e passa a funcionar como uma inteligência artificial controlando tudo ao seu redor e, com acesso aos seus dados pessoais, passa a te conhecer melhor, em especial seus medos (que são usados contra você). Quando uma pessoa morre decorrente do contato com essa assombração, o aplicativo é enviado para seus contatos. É essencialmente uma mistura de “Uma Chamada Perdida” com “It: A Coisa” (com Crítica de 2017, Nostalgia de 1990, RPR dos dois e Top 10 filmes de terror).
Confesso que é um trabalho difícil vincular tecnologia com assombração e a maioria dos longas costuma falhar nessa tarefa depois do início da era digital. Basta ver a última entrada de “Poltergeist” e “O Chamado“. A era da informação e trocas instantâneas de mensagens, embora aliene bastante o ser humano, não cria um ambiente muito crível e envolvente para falar de entidades demoníacas que são tão antigas quanto o tempo. O filme ainda faz um desfavor ao colocar o aplicativo tão avançado tecnologicamente que seria algo que qualquer pessoas com um smartphone gostaria de ter (pelo menos até a hora que ele começa a tentar te matar), mas que não viraliza, e cria um canal entre você e a entidade que não se sustenta. Na maior parte do longa, o celular existe apenas para coletar informação do usuário – fazendo uma alegoria sobre privacidade na internet e exposição de informações pessoais -, mas não se mostra necessário para que a presença demoníaca se manifeste fisicamente na forma dos integrantes da banda Slipknot, com máscaras e maquiagens horríveis. O conceito de algo tão vital para as nossas vidas ser a fonte do mal é até interessante do ponto de vista social, mas faltou refino no seu desenvolvimento.
Medo Viral é tão pobre na sua ambientação que, mesmo quando consegue fazer algo levemente envolvente (como na imagem abaixo), fraqueja e logo se vale de jump scares, não dando tempo para criar qualquer tensão. E esse é o maior problema da obra, tentar se valer desesperadamente de clichês, deixando a impressão que Abel Vang e Burlee Vang estavam com um checklist de elementos “obrigatórios” do gênero. É uma pena que um conceito interessante possa ser tão mal apresentado.
Vamos lá. Atuações de adolescentes em um mistério nada crível, check. Ambientação falha, check. Filme genérico, check.
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