Crítica: O Candidato Honesto 2

Durante uma época eleitoral de uns 20 anos atrás, eu tive o desprazer de presenciar uma propaganda política que ficou horrivelmente queimada na minha memória desde então. Roberto Jefferson, o famigerado deputado que foi por muito tempo tido como herói por ter denunciado o mensalão – muito embora tenha sido não só um de seus grandes artífices, mas também seja aquele protótipo do político safado que nós brasileiros tanto amamos e elegemos eleição após eleição -, aparecia na lamentável propaganda de seu partido na qual, após ter emagrecido algumas arrobas, ele chamava a atenção do espectador com a seguinte fala: “Lembra de mim? Eu emagreci. Não estou mais pesadããããoo. Mas continuo o mesmo Roberto Jefferson de antes.” Isto ficou na minha memória pelo inusitado e o povo, sem conseguir entender que ele continuar o mesmo era um foda na vida de todos nós, o elegeu.

Ao ver Leandro Hassum também algumas arrobas mais magro e repetindo o personagem de João Ernesto do primeiro filme, foi impossível não lembrar de Bob Jefferson. No caso do Hassum, contudo, emagrecer poderia ser realmente um grande problema, já que comediantes gordos têm no fato de serem gordos grande parte de sua graça. Antes que alguma patrulha aí venha me chamar de gordofóbico, venho aqui dizer que sou mesmo. Gordo tem mais é que se foder. A começar por mim, que meço 1,65 e peso 8 arrobas.

Felizmente, Hassum, assim como Bob, continua verdadeiramente o mesmo. Nenhuma parte de sua graça ou do carisma realmente arrebatador que o levaram a estrelar sucessos estrondosos do cinema nacional recente parece ter se perdido, sendo este o melhor filme do gênero “Filme de Leandro Hassum” já feito, o que, sejamos francos, não é lá também grandes merdas.

Desta vez, João Ernesto (Leandro Hassum), o candidato a presidência de 2 eleições atrás que sofreu um ataque de estresse e passou a falar somente a verdade, está preso e é solto em condicional após cumprir 4 dos 400 anos de pena a que tinha sido condenado. Tendo emagrecido 80 kg, ele se torna um fenômeno das redes sociais ao salvar um menino de se afogar na praia, fazendo com que, mesmo de tornozeleira eletrônica e sem se candidatar, ele dispare nas pesquisas de intenção de voto para presidente da república. Querendo se aproveitar disso, o deputado vampirão Ivan Pires (Cássio Pandolfi), numa alusão evidente ao nosso atual presidente, propõe lançar João candidato para disputar com Pedro Rebento (Anderson Muller), uma hilária caricatura de Jair Bolsonaro com seu bordão “sou Pedro Rebento, eu prendo e depois arrebento”.

E a partir daí é um desfile de paródias, caricaturas e verdadeiros esculachos com os nomes mais relevantes da política recente brasileira. Além dos já citados, temos ainda uma zuada bonita em Dilma Rousseff e sua maneira peculiar de se comunicar, na primeira dama Dona Marcela, no Tiririca e até mesmo uma espécie de figurante que é o clone da Marina Silva durante um debate de televisão. Isto sem contar uma multidão de deputados votando em plenário repetindo aquele monte de abobrinha que vimos durante o voto de impeachment do ano retrasado.

Tudo isso serve como um palco para que Hassum faça aquele seu humor de sempre, sem espaço para absolutamente nada novo neste quesito, o que não é necessariamente um problema e que certamente vai garantir mais alguns milhões de espectadores para a já infladíssima contagem pessoal de Leandro. O lado ruim disso é que não sobra espaço para mais ninguém brilhar e, à exceção de Victor Leal como o assessor Marcelinho e de poucas e brevíssimas participações especiais de comediantes como Paulinho Serra, o show aqui pertence todo a Hassum que, por vezes, exagero e se alonga demais em algumas piadas.

Este longa, contudo, consegue ir além e não se limita a ser uma mera comédia escrachada qualquer. Ele propõe um comentário social que, ainda que superficial (como não poderia deixar de ser no gênero Filme do Leandro Hassum), talvez consiga fazer com que o povo finalmente entenda, por meio da risada e do escracho, como funciona exatamente o sistema político nacional (e provavelmente de qualquer outro lugar) e o quão podre ele é. Máximas como “a honestidade dentro da política é a maior traição que existe” são jogadas em momentos de comédia, mas tomam ares de quase verdade absoluta neste momento histórico em que vivemos.

Mesmo com seus muitos pontos positivos e sua autêntica vontade de ir além, o longa ainda padece dos mesmos problemas que prejudicam essas comédias nacionais popularescas. Exagero nas atuações, direção a la Zorra Total e um roteiro que, se acerta nos pontos mencionados acima, derrapa em vários outros. Vale lembrar que os roteiristas têm a vantagem de criar situações que seriam absolutamente inverossímeis 10 anos atrás, mas que andam em paralelo com os acontecimentos da vida política nacional hoje em dia e, portanto, parecem aceitáveis no filme.

Diante do que apresenta o longa e da realidade na qual estamos vivendo, a lição que fica é a de que se Roberto Jefferson continua o mesmo e Leandro Hassum também, não vai ser a política nacional que vai mudar.

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