Crítica: O Protetor 2 (The Equalizer 2)
Baseado em uma série de ação americana da década de 80 bem obscura para nós brasileiros (aguardando alguém querer reprisar o papel de Nicholas Marshall, o juiz de “Justiça Final”), o diretor Antoine Fuqua e Denzel Washington, revivendo a parceria que rendeu o Oscar de melhor ator a Denzel pelo absurdamente bom “Dia de Treinamento“, resolveram “rebootar” a série no longa “O Protetor” de 2016 (indicado em nosso recente Garimpo Pé na Porta, Tapa na Cara). Nele eles apresentaram um filme que pertence todinho à dupla, em especial a Denzel, que, de tão bom, faz até com que nós, espectadores ávidos por um filme de ação, ignoremos os vários problemas de roteiro e ritmo que o filme tem.
É uma tendência que felizmente vem tomando conta de Hollywood desde que acabou a era dos brucutus dos anos 80, que tinham em seus músculos besuntados de óleo sua única ferramenta para dar profundidade dramática aos seus personagens, sendo estes substituídos por atores relativamente bons e menos bombados. Conforme discorri longamente no Nostalgia Comando para Matar, Hollywood entendeu que fica mais fácil entupir um ator profissional de anabolizante do que ensinar alguém já expurgando bomba pela orelha a atuar.
E isto, mesmo sem qualquer bomba, nunca ficou tão evidente quanto em O Protetor 2, ainda mais do que no primeiro. Denzel é indiscutivelmente um dos melhores atores de sua geração. Sua versatilidade e potência dramática podem ser vistas em obras tão díspares quanto o já mencionado Dia de Treinamento, ou “Filadélfia” e “Hurricane”, apenas para citar 3 dentre inúmeras. Não é todo dia que um ator das qualidades, predicados e conquistas que ele tem se presta a estrelar em um filme que propõe tornar crível que um senhor de seus 60 anos seja basicamente um super-herói invencível e inexpugnável, em uma ode aos exércitos de um homem só dos anos 80.
No primeiro longa da agora franquia, Denzel era Robert McCall, um sujeito com um passado nebuloso que, por força de circunstâncias forçadíssimas, resolve voltar ao seu estilo de vida do passado e passa a ser o tal “Protetor” do título, uma espécie de defensor dos fracos e oprimidos cujo principal super-poder é seu transtorno obsessivo-compulsivo. Na realidade, e aqui eu vou dar um pequeno spoiler do 1o filme (ainda que ele fique bem evidente logo de cara), Mcall é um ex-agente da CIA e, é claro, ele era o mais foda agente da CIA de todos os tempos. Usando todas as suas técnicas, ele, mesmo já com seus 60 e poucos anos, arregaça toda a máfia russa sozinho, muitas vezes usando apenas utensílios de casa.
Desta vez, McCall já abraçou sua vocação para “proteger” ou “igualar” (em tradução literal do título em inglês) as coisas para aqueles que passam por necessidades. Agora ele é motorista de Lyft (uma espécie Uber que ainda não chegou ao Brasil) e é assim que ele ouve as histórias. Apesar de ser divertido assistir McCall observando algo de errado e indo resolver na base da violência extrema, é aqui que o roteiro começa a se perder um pouco. A impressão que dá é que a trama principal criada não apresentava grandes oportunidades para cenas de ação, então os realizadores se obrigaram, por uma questão talvez mercadológica, a incluir algumas dessas cenas sem ter absolutamente qualquer relação com o arco principal e que estão lá de forma totalmente gratuita, prejudicando em muito o ritmo de filme, o que é, inclusive, um dos problemas do 1o longa.
Enquanto que no 1o a trama principal é forçada, mas faz algum sentido dentro do seu contexto, neste aqui é uma bagunça só. Há um assassinato em Bruxelas de um colaborador da CIA e a amiga de longa data de McCall, Susan (a sempre excelente Melissa Leo), é enviada para ver o que aconteceu. A partir daqui, em um trama confusa e rocambolesca que envolve também o ex-parceiro de McCall, Dave York (o chileno Pedro Pascal irreconhecível sem seu bigodinho), a coisa toda se desenvolve de forma previsível até chegar a um ato final meio faroeste, com direito a cidade deserta e tudo mais, filmado com muito esmero técnico.
No meio do caminho, há uma “reviravolta” que se percebe a quilômetros de distância e uma relação que se desenvolve entre McCall e seu jovem vizinho Miles (Ashton Sanders, uma espécie de dublê do Ja Rule), responsável justamente pelo melhor momento de todo o longa, em um diálogo no qual o jovem Sanders e, principalmente, Denzel mostram que é possível sim fazer um bom filme de ação sem que seu único atrativo seja a violência.
Mesmo prejudicado por um roteiro meio genericão, O Protetor 2 se eleva acima da média dos filmes de ação recentes pela força da impressionante e consistente atuação de Denzel Washington e da segura direção de Antoine Fuqua tanto nas cenas de ação (destaque para uma luta dentro do carro de McCall) quanto, especialmente, nos momentos dramáticos.
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