Crítica: Os Inocentes (The Innocents) - 1a Temporada

O Reino Unido é uma máquina de produções originais de qualidade tanto em formato serial quanto de longa metragens, alegrando o pessoal aqui da redação, que é bem entusiasmado com a história dessa nação e com a sua facilidade em criar ícones da cultura pop. Fazendo um exercício mental, tentando lembrar de obras que eu tenha gostado da terra da Rainha, fiquei espantado com o baixo número que consumo dessa escola (e leia-se não somente financiado por produtoras do país, mas também ambientado no Reino Unido). Esse número é ainda menor quando se trata de séries. Minha memória só consegue resgatar as espetaculares The Crown Black Mirror.

Examinando esse meu conceito prévio de obras britânicas e que costuma me afastar de boas produções quase que exclusivamente por conta de certos personagens com um inglês indecifrável, fotografia com tons pastéis e ambientes depressivos – não é à toa que todo preconceito, como o meu, é calcado em argumentos ridículos e nunca agrega nada bom -, eu me vi propagador de uma visão da qual costumo reclamar quando se trata de animes. A maior parte do público que consome produtos audiovisuais relega obras orientais animadas por motivos tão banais quanto os meus acima, deixando passar maravilhas como, para ficar em exemplos também disponíveis na Netflix, DEVILMAN: crybabySaiki Kusuo no Psi-nan. Desprovido dessa armadura, aceitei o desafio de maratonar Os Inocentes e apresentar aqui uma crítica justa, sem me deixar levar pelas características que me incomodam (embora 2 delas ainda estejam lá).

Confesso que a proposta é muito cativante, especialmente se você, assim como eu, é um fã de sci fi. A história gira em torno da fuga de um casal adolescente, June (Sorcha Groundsell) e Harry (Percelle Ascott), em busca de uma vida agitada em Londres. Bem, não é por acaso que a série tem esse nome. Seus protagonistas são pessoas ingênuas de uma cidade pequena com pouca vivência, despreparados para os desafios que ao casal irão se impor. No meio da fuga eles são abordados por dois capangas, Steiner (Jóhannes Haukur Jóhannesson) e Alf (Trond Fausa), com a missão de levar June até sua mãe que sumira 3 anos antes (quando June tinha 13). Em uma sucessão de eventos, eles escapam e temos a revelação que June sofre de uma condição médica, uma espécie de metamorfose quando sob estresse elevado, assumindo a forma de quem encostar nela, deixando esta pessoa inconsciente durante todo o tempo em que está transformada.

Quem enviou os abdutores foi o doutor Halvorson (Guy Pearce), que pesquisa essa condição especial em um fiorde na Noruega junto a sua parceira Runa (Ingunn Beate Øyen), tendo como uma das suas pacientes a mãe de June, Elena (Laura Birn). O pai de June, John (Sam Hazeldine), que conhece parcialmente essa condição da filha e da ex-mulher, e a mãe de Harry, a policial Christine (Nadine Marshall), também iniciam a sua própria caçada para retornar os meninos sãos e salvos para casa.

Começa o jogo de gato e rato que domina a maior parte da série, com o casal tentando fugir de ambos os lados enquanto lida com as metamorfoses de June. Infelizmente, somente quando esse jogo aponta para uma das partes é que realmente a obra fica interessante, mas, até lá, resta a impressão de que 1a metade da temporada é o 1o episódio em looping, o que acaba por torná-la um tanto sacal. Com a exceção da espiral de auto-destruição na qual Steiner entra, mostrando ser um dos personagens mais complexos, e a atuação do elenco que consegue, de forma competente, replicar os trejeitos de June quando “metamorfoseados”, a impressão que tinha era de estar vendo um drama adolescente em uma série que poderia ter 3 episódios a menos.

Quando a obra decide por um caminho e começa a explorar as possibilidades que essa habilidade permite é que ela ganha contornos mais interessantes. Dúvidas e curiosidades do que seria possível ou não com essa habilidade, como: e se ela se metamorfosear em uma pessoa grávida, ou de outro sexo, ou com proporções físicas e capacidades mentais muito diferentes, o que aconteceria? Seria possível acessar lembranças e ter as habilidades da pessoa copiada? E animais? Podem ser metamorfoseados também? Por que só as mulheres de descendência nórdica manifestam essa “doença”? Foram respondidas satisfatoriamente, mas a maioria apenas en pasant, deixando um gostinho cruel de quero mais.

O auge fica por conta da pesquisa de Halvorson – com uma boa atuação desse um tanto subestimado Guy Pearce – e as mulheres que confiam em seu trabalho. A busca por entender e controlar essa condição, com foco no tratamento psicológico e, raramente, no químico, faz com que ele cruze a linha da ética algumas vezes, recrutando ex-paciente suicida para força braçal e tendo uma relação íntima com uma das pacientes, apenas para citar o que é mostrado no 1o episódio.

Os Inocentes é uma série relativamente curta (com 8 episódios), arrumadinha por uma direção competente, mas que peca de forma grave no ritmo e na exploração desse mundo sci fi que fica em 2o plano. Ah! Já ia esquecendo… a fotografia é pastel do início ao fim. Blargh!

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