Crítica: Para Todos os Garotos que Já Amei (To All the Boys I've Loved Before)
Eu sempre fui muito tímido (e ainda sou). Quando era adolescente, meu ciclo de relações era limitadíssimo por nunca ter sido a pessoa mais à vontade para socializar com desconhecidos. Se o tema era referente à vida amorosa, a situação piorava um pouco. A garota que eu gostava seria aquela com quem – por esse motivo – eu falaria menos, por não saber muito como agir. Sendo assim, quem me ajudava a resolver esse tipo de situação com alguns empurrões (por vezes bruscos e atabalhoados) era Ryan Fields (um dos Três Amigos mantenedores do presente site). Não por coincidência, foi ele que me arrumou a mulher com quem vivo já há 12 anos (valeu, pretão!).
Lara Jean (pela carismática Lana Condor) é mais ou menos assim: uma adolescente que tem apenas uma amiga e cujos garotos por quem nutre algum sentimento são nada além de prisioneiros da sua mente criativa e viciada em livros românticos. Nela, Lara Jean tem liberdade de criar uma série de situações com aquele par que – ao que parece – jamais será seu. Seus crushes de vida se resumem a cinco casos com quem trocou algum tipo de carícia (como um selinho em um “verdade e consequência” de crianças). Dessa forma, ela guardou essas memórias em uma carta de amor para cada qual, as quais foram fechadas em uma caixa e nunca enviadas para um deles sequer.
Essa vida monótona de quem só fica fechada no quarto, lendo e vivendo das cenas mentais que cria em seu terreno fértil, mas pouco produtivo, é mexida pela ida de sua irmã mais velha Margot (pela PLL Janel Parrish) para a Escócia, onde fará faculdade. E apesar de um dos cinco crushes de vida de Lara ser o então ex-namorado de Margot, Josh (em boa presença de Israel Broussard), Lara Jean se vê ainda mais sozinha. Kitty (pela divertida Anna Cathcart), sua levemente zombeteira irmã mais nova, se vê na responsabilidade de tentar ajudar a isolada adolescente em suas relações amorosas (às vezes, de maneira meio atabalhoada, tal qual o Ryan Fields citado na introdução). Assim sendo, sem qualquer autorização, Kitty envia as cartas para cada um dos cinco amores de Lara.
Essa ação intempestiva de Kitty trará dois resultados imediatos: uma possível queda por ela por parte de Josh, o ex da irmã (o que parece muito antiético para Lara Jean, apesar de seus sentimentos); e o curioso interesse de Peter (Noah Centineo), o popular da escola, que namora a escrotinha (naquela organização social escolar patética digna dos Estados Unidos). Mas o suposto interesse de Peter se deve por sua namorada tê-lo trocado por um universitário e, agora, ele quer usar Lara Jean para fazer ciúmes. Assim, combinam um acordo: eles fingem namorar para provocar a ex-namorada dele e para afastar a possibilidade antiética de ela ficar com o ex da irmã.
Sendo um filme de comédia romântica adolescente, você já sabe o que acontece. É evidente que, desse acordo, os laços vão sendo criados, a escrotinha (agora com ciúmes) vai fazendo de tudo para se meter no meio do novo casal, e o virjão que já havia sido deixado de lado pela irmã Margot vai ficando de lá para cá, não sendo nem de uma, nem de outra. Mas Lara Jean tem medo de novas relações, pois as pessoas vem e vão e ela, diferente dessas, mantém o sentimento. Ela lutará contra seu sentimento, por achar que Peter nunca corresponderá. Esse é, portanto, um dos pontos mais sutis da narrativa, tecendo uma crítica bem interessante e delicada sobre a atual geração, que parece não manter uma solidez sentimental por mais do que alguns minutos. E esse será o grande obstáculo que Lara terá que vencer para deixar de ser aquela menina quieta, fechada em um quarto e em sua mente, entregue às linhas de livros que contam histórias que nunca serão delas.
Para Todos os Garotos que Já Amei, baseado no livro homônimo de Jenny Han, cumpre sua proposta, ao se considerar seu público-alvo: contar uma história suave, inocente e sem qualquer alarde. O envolvimento com o filme, por parte do espectador, se dará muito mais pelos personagens e atuações do que pelas situações. Nada aqui soará surpreendente ou definitivamente cativante. Mas o carisma de Lana Condor e a delicadeza da narrativa serão o suficiente para acompanhar a obra e se divertir com os conflitos de uma adolescente americana, boa de vida.
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