Crítica: Slender Man: Pesadelo Sem Rosto (Slender Man)
Já foi época que a televisão era a única fornecedora de personagens e lendas urbanas para a cultura nacional. Quem tem mais de 30 anos certamente lembra de assistir no Domingo Legal e no Fantástico reportagens sobre o chupacabras, círculos na areia das praias cariocas e o aterrorizante ET de Varginha (e o missionário ET Bilu). Esses relatos alimentados pela mídia criaram um fenômeno no Brasil, como nenhuma outra época, de avistamentos, teorias da conspiração e “descobertas científicas” que fincaram raízes no imaginário popular. Lembro do medo de passar por algum terreno baldio ou de dormir de janela aberta, afinal, não queria virar estatística no programa do Gugu. Mas eis que a internet começa a se popularizar na primeira década do século XXI e a roubar os holofotes do surgimento de lendas, como a mulher sem expressão, o homem sorridente, o ancinho, a Momo e, claro, o Slender Man.
Esse personagem foi criado por Eric Knudsen em 2009 para um concurso do fórum Something Awful (Algo Horrível – confira as duas imagens feita por ele abaixo) que consistia em produzir fotos alteradas no photoshop com um aspecto realista e uma legenda invocando algum “fato” relacionado à entidade. A partir desse ponto, Eric perdeu completamente as rédeas de sua criação, que passou a viralizar na internet como o ser que mexe com a psique de jovens e crianças, em alguns casos raptando-as. Seu sucesso foi tão grande que em 2012 é lançado o jogo Slender, recebido positivamente pela crítica e comunidade gamer, no qual você tinha que evitar encontrar com Slender por corredores escuros em instituições macabras e florestas à noite. Claro que não demoraria muito para ver o homem esguio protagonizando seu próprio filme. Será que Slender Man: Pesadelo Sem Rosto faz juz ao seu legado?
Não. Simples assim. No entanto, há aqui algumas considerações a serem feitas. Um grande desafio era a adaptação de algo que não tem o que se adaptar propriamente dito, não há material fonte elaborado e tudo o que foi construído nesses 8 anos em volta do personagem é de construção social, muito genérico e desprovido de história. Sylvain White e David Birke tomaram como inspiração casos relatados à polícia de assassinatos e desaparecimentos e o pequeno lore focado em crianças e adolescentes. Para isso, a história se concentrou na invocação do Slender Man por 4 amigas em uma cidade no cu dos EUA atual na qual ele já é uma figura conhecida. Claro que após a invocação elas começam a sofrer alucinações e ter sonhos perturbadores até que uma delas some. Logo de cara o roteiro usa aquela famosa tática para afastar as autoridades competentes do caso, o famoso “ninguém vai acreditar nisso”, se referindo a uma entidade demoníaca ser a responsável pelo rapto e não um homem em uma van branca.
Uma vez removida a linha lógica para resolver o rapto, começa a saga das outras 3 amigas para resgatá-la usando informações coletadas em fóruns na internet e em bibliotecas macabras para executar rituais muito duvidosos. Nesse carrossel de 90 minutos que parecem 180, temos uma tentativa louvável de criar uma identidade no longa que, em alguns momentos, é até bem feliz nessa empreitada. Há uma boa ambientação, com uma cidade encravada em meio a uma floresta que a noite é de despertar um cagaço foda, e cenas de aparição do Slender Man bem construídas, valendo-se especialmente da edição do som de galhos quando na floresta e de cenas com o celular quando no urbano. É de fato algo impressionante se considerarmos que a classificação etária é de apenas 12 anos. Mas ao tentar dar um passo mais ousado, transformando o Slender em uma leitura diferente de um fenômeno que ocorre há séculos, quiçá milênios, a essência da obra se perde. Deixa de ser algo construído nesses 8 anos para ser algo que seres folclóricos faziam desde o século XIII, com o Flautista de Hamelin, até a década de 1980, com o Homem do Saco (de quem, inclusive, eu tinha medo): deixar crianças obcecadas e raptá-las.
Abstendo-se de criar uma história de fundo para o Slender Man e com relações frágeis entre as amigas e familiares, o longa não consegue te deixar investido quando não há perigo iminente e isso é o pior que pode acontecer para um filme de terror, já que você se angustia e torce apenas por aqueles que despertam um mínimo de empatia em sua pessoa. No mais, temos o uso dos infames jump scares com frequência elevada, drama adolescente aos montes e decisões a base de muita gritaria em uma película tecnicamente interessante, mas mal executada.
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