Crítica: Tal Pai, Tal Filha (Like Father)
Drama talvez seja o gênero mais reconhecido e apreciado pelos críticos e premiações. Exemplos de excelência aparecem o tempo todo com orçamentos que mal chegam a 5% de um filme mediano da Marvel, embora isso ainda não se traduza em bilheterias arrebatadoras. Considerando que mais da metade da população assiste a de 3 a 9 filmes por ano, há uma tendência de seleção que privilegia os gêneros de terror, ação e comédia, que servem a um propósito – que de forma alguma eu desmereço – simplório: válvula de escape da nossa realidade. É muito mais divertido ver seres super-poderosos arrasando cidades para salvar o planeta do que ver um músico de jazz pobre com câncer lutando para pagar a pensão da filha que tem uma doença degenerativa.
Em resumo, você, nos poucos momentos de lazer assistindo a um longa, não precisa encarar a realidade de um mundo que já é injusto o suficiente. No entanto, se você faz parte daquela seleta parcela que assiste 100 filmes ou mais por ano, certamente é um masoquista apreciador dessa arte que te destrói a alma a cada drama que chega aos cinemas e à NETFLIX, como o caso de dois longas recentes muito bem avaliados da plataforma: “Sob a Pele de Lobo” e “Pérolas no Mar“.
Ao tentar juntar dois gêneros, ouso dizer, contrastantes, a comédia e o drama, a marinheira de primeira viagem Lauren Miller dá uma escorregada em Tal Pai, Tal Filha. Não que o longa não tenha alguns bons momentos, mas o roteiro peca na sua bipolaridade tornando grandes partes, especialmente as de drama, sem peso emocional e, quando envereda para a comédia, raramente é engraçado. No filme acompanhamos Rachel (Kristen Bell) sendo deixada no altar por ser uma verdadeira workaholic e, ao mesmo tempo, ela descobre que seu pai sumido há 26 anos está presente na cerimônia. Para conseguir assimilar isso tudo, ela enche a cara e acaba no cruzeiro de lua de mel com seu pai, que também estava chapando o coco ao seu lado.
Daí para frente temos uma tentativa de reconexão de pai e filha auxiliada por 3 casais bem diversos e uma reavaliação sobre seu comportamento profissional obsessivo. Infelizmente, só aos 40 minutos de exibição eu soltei a 1a risada com a simples aparição e algumas poucas falas de Seth Rogen, que é pouco aproveitado. Essa é a tônica do filme; muito dele é mal aproveitado. Os passeios do cruzeiro não dão em lugar algum, os eventos noturnos tiram uma risada ou outra, mas não evoluem os personagens, e a relação entre pai e filha só desenvolve no terço final e repentinamente, que acaba por evidenciar que 70 minutos dos 98 totais foram essencialmente enrolação.
Tal Pai, Tal Filha é uma comédia que não é engraçada e um drama que não te prende. Com as exceções dos raros momentos de Seth Rogen em tela, as paisagens naturais exuberantes do Caribe e seus últimos 20 minutos, o longa testa a sua paciência e perseverança. Caso você seja daquela parcela que assiste menos de 10 filmes por ano, não queime seu cartucho. Mas, se assim como eu, você assiste mais filmes do que tem vida social, é um investimento baixo com um retorno mediano que talvez valha seu tempo.
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