Garimpo Netflix: Em Nome dos Pais
O Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana 3 bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.
Hoje vivemos numa época em que as mães são tiranizadas por outras mães nas redes sociais, numa bola de neve de julgamento insidiosa que vem se tornando a tendência principal da internet, fazendo basicamente com que aquelas de cabeça um pouco mais fraca ou que estejam passando por um dos inúmeros momentos de fragilidade que uma recém-maternidade causa na mente de uma mulher se sintam realmente péssimos seres humanos porque dão chupeta, ou porque não dão chupeta, ou porque não fizeram parto com doula, ou porque fizeram, etc.
Alheios a isso estão os pais que, sendo esta talvez a única instância da condição humana enquanto ser social na qual o macho não é o protagonista, ficam em uma espécie de segundo plano, amando ferozmente a sua cria, protegendo-a com absolutamente tudo que tem e sacrificando tudo e todos pelo bem daquela pessoinha criada à sua imagem.
Assim, é em homenagem a esta data exclusivamente comercial, mas que todos nós abraçamos com vigor, do dia dos pais e especialmente em honra àqueles homens que tanto se doam, muitas vezes sem o devido reconhecimento, a esta relação inquebrantável de amor e, principalmente, devoção aos seus filhos que lançamos este Garimpo Netflix especial para o dia dos pais com 3 filmes que lidam com a paternidade. Aproveitem!
– À Procura (The Captive), de 2014, dirigido por Atom Egoyan
Em apenas um dia normal e frio pela região das Cataratas do Niágara na fronteira do Canadá com os Estados Unidos, Matthew (em uma performance surpreendente de Ryan Reynolds) para com sua filha Cassandra para comprar uma torta. Misteriosamente, ao voltar ao carro Cassandra não mais está lá, vazio este que preenche a alma de Matthew e sua esposa por 8 anos sem que a polícia encontre qualquer vestígio. Mesmo vivendo com aquela lacuna na alma e com um casamento massacrado pela dor da incerteza do desparecimento, tudo muda quando indícios começam a aparecer de que Cassandra talvez ainda esteja viva, levando Matthew a arriscar tudo para descobrir isso.
Dirigido pelo premiadíssimo Atom Egoyan, com uma belíssima fotografia das gélidas paisagens do inverno canadense a cargo de Paul Sarossy e contando com atuações verdadeiramente boas não só de Reynolds, mas de todo o elenco – com destaque para o sempre perturbador Kevin Durand -, À Procura é um filme que não teve o destaque merecido quando lançado aqui e aparece mal avaliado no IMDB, talvez por ter um enredo parecido com o estupendo e realmente melhor “Os Suspeitos” de Dennis Villeneuve lançado pouco tempo depois. De todo modo, trata-se de um excelente filme que mostra até onde o amor de um pai vai em defesa de sua cria.
– Maggie: A Transformação (Maggie), de 2015, dirigido por Henry Hobson
https://youtu.be/-TAwjFMrTzY
Foi-se a época em que qualquer filme do Arnoldão era lançado nas telas de IMAX do mundo todo com um puta estardalhaço. Curiosamente, é com este Maggie: A Transformação que Schwarzenegger apresenta sua melhor performance, em uma obra que se vale muito mais de sua circunspecção e sensibilidade do que de seus músculos não mais tão avantajados (mas ainda maiores que os nossos).
No filme, Arnie é Wade, um fazendeiro cuja filha (Abigail Breslin) está infectada com um vírus que inevitavelmente a transformará em um zumbi dali a algum tempo. Há aqui um respiro de frescor neste gênero ordenhado à exaustão que é o dos zumbis, uma vez que estamos em uma realidade onde o mundo continua, ainda que em um estado de calamidade por causa da epidemia, relativamente normal. Não há um cataclisma zumbi como na maioria das obras a respeito e o foco não está em miolos sendo estraçalhados por um pedaço de pau como se nada fossem, mas, sim, no amor e senso de proteção paternais que Wade dedica à sua filha, o que o leva a tomar decisões impossíveis e absolutamente abnegadas só pelo bem de sua filha.
– Sangue Jovem (Son of a Gun), de 2014, dirigido por Julius Avery
JR (Brenton Thwaites) é um moleque de 19 anos enviado, por motivos desconhecidos, a uma penitenciária de segurança máxima na Austrália. Lá chegando, ele encontra no assaltante Brendan (o sempre bom Ewan McGregor) uma figura a quem admirar, ter como modelo e, principalmente, que poderá protegê-lo da brutal e literal enrabada que ele se encontra na iminência de levar. Em suma, uma figura paterna para um rapaz cuja ideia de carinho de seu pai verdadeiro foi afogá-lo ao jogá-lo de um barco com a ideia imbecil de ensiná-lo a nadar na marra.
É a partir dessa relação entre um rapaz que encontra alguém em quem se espelhar, ainda que não seu pai verdadeiro (e daí o nome do filme no original), que a história se desenvolve em um excelente filme de ação/assalto e cheio de reviravoltas visto pela ótica dos bandidos. Eventualmente ambos, e mais o tio “gente boa” (apesar de cumprir três condenações perpétuas) Sterlo (Matt Nable), saem da prisão e participam de um assalto organizado pelo chefão do crime australiano Sam (Jacek Koman), mas JR, cabaço que ele só, pode colocar tudo a perder ao se apaixonar por Sasha (a oscarizada Alicia Vikander), uma das garotas de Sam.
Mesmo que o filme tenha bastante cenas de ação e muito tiro, é na relação pai-filho entre JR e Brendan que ele se concentra e brilha, contando com boas atuações de todo o elenco e com a direção segura do australiano Julius Avery em sua estreia em longas.
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