Garimpo Netflix: A Morte É Apenas o Início

O Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana 3 bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.


Sendo natural, acidental ou criminosa, a morte é um evento transformador não somente para quem vai a óbito, mas também para aqueles que orbitavam o defunto em vida. Inúmeros filmes e séries nos brindaram com serial killers, como em “The Alienist“, nos transportaram pelo luto da perda de alguém indispensável para nosso viver, como em “Manchester À Beira Mar” e “A Partida Final“, nos colocaram divididos sobre a culpabilidade de acusados de crimes hediondos, como em “The Staircase” e “Making a Muderer“, e nos guiaram pelos meandros de mentes psicóticas, como em “Sou um Assassino” e “Mindhunter“. Com a exceção de “Manchester à Beira-Mar”, todos os outros estão disponíveis na NETFLIX, sendo boa parte produção original (um garimpo até na introdução).

Com as obras supracitadas gozando de certo reconhecimento da crítica e do público, fica evidente que a morte é um forte disruptivo dentro de uma narrativa e leva a diversos enfoques dentro de um longa metragem ou série. Inspirado por esse fúnebre tema, esta semana apresentamos obras que tomam forma após a morte de algum personagem, afetando os demais direta ou indiretamente.


As Vozes (The Voices), de 2014, dirigido por Marjane Satrapi

https://www.youtube.com/watch?v=HI0Z_Q-c3OA

Pode uma pessoa boa fazer algo muito ruim com ciência da gravidade do que está fazendo? Eis a questão que move a obra “As Vozes“, último longa dirigido por Marjane Satrapi, que na sua estreia na direção adaptou a sua própria HQ autobiográfica Persépolis e já foi de cara indicada ao Oscar 2008 de Melhor Animação. Apresentando um tom leve, acompanhamos Jerry, em uma ótima performance de Ryan Reynolds, tentando levar uma vida normal enquanto trata da sua esquizofrenia. Após dar uma pausa na medicação, ele começa a ser influenciado negativamente pelo seu gato, que o manda matar e fala verdades dolorosas, provando de fato que esse animal tem pacto com Satanás, enquanto seu cachorro faz um contrapeso, dando bons conselhos e sempre o animando em momentos difíceis, afinal é o melhor amigo do homem, né?

Tudo começa entrar em espiral quando Jerry mata (em circunstâncias duvidosas) sua bela colega de trabalho Fiona (Gemma Arterton), levando a conflitos internos para tentar assimilar o que ele fez e o que ele é. Com cenas que misturam violência brutal sem censura com uma pegada cômica, temos um prato cheio para discussões e, claro, muita diversão.

– Com Amor, Van Gogh (Loving Vincent), de 2017, dirigido por Dorota KobielaHugh Welchman

As pinturas Vincent Willem van Gogh estão entre as obras de arte mais reconhecíveis do planeta, mostrando características únicas e inconfundíveis. Tamanho é seu prestígio nos dias de hoje, que o museu dedicado exclusivamente ao seu trabalho em sua terra natal, Holanda, é o 3o lugar mais visitado do país. E, valendo-se desse reconhecimento, Com Amor, Van Gogh se destaca tanto quanto o trabalho no qual se inspira, apresentando uma fotografia pintada a mão, quadro a quadro, no mesmo estilo do pintor, criando uma obra tão distinta e agradável de assistir que rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Animação em 2018. Infelizmente o longa contou com uma distribuição limitadíssima nos cinemas nacionais, mas o MetaFictions está aqui para resgatar essa obra de arte.

Como bem você deve se lembrar das aulas artes do ensino médio, Vincent van Gogh supostamente cometeu suicídio aos 37 anos ao atirar no próprio peito – fruto de uma mente perturbada, excesso de trabalho, noites em claro e álcool em demasia – vindo a falecer mais de 24h depois. Sua morte ainda é tema de discussão acadêmica e, valendo-se desse mistério, o longa reconta partes de sua vida em uma obra semi-biográfica que toma forma logo após a seu falecimento, com Armand Roulin (Douglas Booth) buscando entregar uma carta póstuma escrita por Vincent endereçada ao seu irmão Theo van Gogh (Cezary Lukaszewicz). Nesse processo Armand investiga as possíveis causas do suposto suicídio enquanto conhecemos pessoas e locais de importância para um dos maiores pintores da história ocidental.

Com Amor, Van Gogh é uma obra de arte que se destaca como poucos longas com conceitos visuais excêntricos conseguem e explora a angústia e o luto daqueles que o cercavam. Vale cada segundo do seu tempo.

– Puella Magi Madoka Magica (Mahou Shoujo Madoka Magica), de 2011, dirigido por Tomoyuki Itamura e Yukihiro Miyamoto

“Garotas Mágicas” (Mahō shōjo) é, por incrível que pareça, um sub-gênero dentro dos animes. Muitas obras são classificáveis nesse universo, sendo “Sailor Moon” e “Sakura Card Captors” os dois exemplos de maior sucesso no Brasil. Em resumo, esses animes apresentam meninas jovens, geralmente em idade escolar, que são selecionadas por alguma característica especial por um bichinho protetor e ganham poderes incríveis junto com um outfit que lembra alguma fantasia de carnaval de escola japonesa.

O que Madoka Magica faz de diferente – sendo um ponto totalmente fora da curva – é retratar esse universo sem romantizar. Todos os elementos citados continuam presentes, mas com motivações e atitudes dos personagens muito mais próximas ao mundo real e enfrentando inimigos poderosos, mas que não são bem o que aparentam. Em resumo, é uma grande subversão do gênero, apresentando personagens filhos da puta, mentirosos, assassinos, e situações moralmente duvidosas e, muitas vezes, cruéis. Isso sem contar a violência e a proposta artística ousada nos momentos de luta entre as garotas mágicas e as “bruxas”, com animações feitas com colagem e muito psicodélicas.

A série tem sua trama centrada na morte de um personagem, que dispara uma relação conflituosa entre Kyubey (Emiri Kato), que é o bichinho que concede o poder através de um contrato vitalício, e as garotas mágicas da cidade, que possuem interesses diferentes na trama, nem sempre sendo altruístas. Madoka Magica é uma espiral de acontecimentos inesperados e chocantes, mesmo para aqueles que nunca assistiram a um anime.

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