Garimpo Prime Video: Roteiros Geniais
Hoje, em nosso 3o Garimpo Prime Video (da gigante Amazon), apresentaremos algumas pérolas da escrita cinematográfica. Existem poucas coisas mais agradáveis do que apreciar um filme muito bem escrito, que te prende de tal forma que torna quase impossível não ficar investido em seus personagens e história. O roteiro é o embrião, é a pedra a ser lapidada, é a janela que conecta a concepção com a realização de algo grandioso e ambicioso. Todos que já estiveram envolvidos em produção cinematográfica sabem que sentar para escrever um roteiro é uma experiência ao mesmo tempo angustiante, por ser difícil traduzir em palavras o idealizado, e recompensadora, quando você contempla o resultado final na tela e percebe o quanto o seu “filho” desenvolveu. Dentre as produções do MetaFictions, o curta Departure foi uma dessas experiências iniciais e que me fizeram ser aficionado por belos roteiros.
Dos longas a seguir, temos 3 roteiros com propostas diferentes. Um segue uma experiência de descobrimento pessoal e profissional, outro explora a licença artística permitida dentro dessa arte, com o fantástico e fantasioso de mãos dadas com a realidade, e, por fim, um roteiro sobre o dia-a-dia e o bem ordinário.
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Prime Video: Animes
– Quase Famosos (Almost Famous), de 2000, dirigido por Cameron Crowe
Quase Famosos é certamente o filme que mais me arrependo de não ter visto no cinema. Não porque ele é um daqueles blockbusters com explosões e efeitos 3d que te engolem em um IMAX, mas pelo áudio que um cinema pode proporcionar. O longa é a biografia do início de carreira de Cameron Crowe, que antes de enveredar para o cinema, escrevia para a revista Rolling Stone. Acompanhamos o jovem William (Patrick Fugit) em uma turnê com a banda Stillwater para documentar e escrever um artigo completo da banda que começa a despontar no cenário rock and roll dos gloriosos anos 70 nos EUA. O roteiro do próprio Cameron rendeu ao longa o Oscar de melhor roteiro original de 2001, além das indicações de montagem e de atriz coadjuvante para Kate Hudson e Frances McDormand.
Essa é uma obra que lança um olhar honesto da crítica sobre aquilo que amamos, ela explora o poder da música e daqueles que a fazem, permeando as relações de poder entre membros da banda, empresários, gravadoras, fãs, família e críticos. Fazendo muito barulho em sua estreia e nos Oscar 2001, o longa caiu no esquecimento. Confira com o som do seu home theater no máximo.
– O Sacrifício do Cervo Sagrado (The Killing of a Sacred Deer), de 2017, dirigido por Yorgos Lanthimos
Yorgos Lanthimos dirige e co-escreve (com Efthymis Filippou) O Sacrifício do Cervo Sagrado (com crítica no site), uma das obras mais esnobadas de 2017. Com um roteiro apoiado em mitos gregos (em especial da vida de Ifigénia), temos uma história que causa grande desconforto no telespectador conduzida por atuações consistentes de Barry Keoghan, que interpreta o filho de um paciente que veio a óbito nas mãos de Steven, um médico frio interpretado por Colin Farrell – em mais um trabalho de destaque na sua carreira -, que por sua vez é casado com Anna, interpretada pela sempre majestosa Nicole Kidman, retratando uma mãe e esposa nessa relação distante. Quando o filho mais novo do casal apresenta sintomas degenerativos graves, a relação dos 3 escalona para interações cada vez mais doentias e perturbadoras, mexendo com a nossa bússola moral de certo e errado, concluindo com um final de cair o queixo.
Yorgos, Efthymis e Farrell formaram parceria em 2015 com o longa “O Lagosta “, indicado ao Oscar de melhor roteiro original. Infelizmente O Sacrifício do Cervo Sagrado não teve reconhecimento, mesmo apresentando igual qualidade e originalidade. É certamente um dos melhores filmes disponíveis no serviço da Amazon.
– Projeto Flórida (The Florida Project), de 2017, dirigido por Sean Baker
Projeto Flórida (com crítica no site) é um longa slice of life, que aborda o mundano, sem um objetivo maior e fundado na realidade crua e ordinária. Nele acompanhamos Moonee, numa atuação cativante que há muito não via da atriz mirim Brooklynn Prince, uma criança nos seus 6 aninhos vivendo em um hotel vagabundo de beira de estrada às sombras da Disney em Orlando. Durante o seu dia-a-dia, vemos como ela e seus amiguinhos se adaptam a realidade dura das periferias americanas, ao mesmo tempo que preservam parte de sua inocência ao não se darem conta das relações dos adultos que as cercam.
Willem Dafoe, indicado ao Oscar de ator coadjuvante por seu papel como o atencioso e rígido gerente do hotel, e Bria Vinaite, uma mãe completamente despreparada para criação de sua filha, entregam atuações que prendem e que quase sempre são conflituosas. Sean Baker e Chris Bergoch realizaram um feito e tanto no roteiro – assim como fizeram em “Tangerine“- extraindo do cotidiano de muitos americanos uma história que encanta e choca ao mesmo tempo. Não deixe de conferir.
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