Crítica: 22 Milhas (Mile 22)
Sendo eu um grande fã de filmes de ação e sócio aqui do MetaFictions, a pergunta que mais escutei na minha vida depois “já tomou banho hoje?” de minha amada mãe é aquela que me pede a indicação de algum filme bom de ação. Trata-se de um gênero sofrido, repleto de filmes e séries absolutamente fumegantes enquanto as pilhas de bosta que são, o que me dificulta esta tarefa, até mesmo porque os bons filmes de ação recebem grande distribuição e são bem comentados por aí. Eis que em 2011, o cineasta ocidental Gareth Evans dirige o estupendo filme indonésio “Operação Invasão“, do qual eu já falei extensamente no primeiro Garimpo da história do site e no Garimpo Netflix: Filmes de Ação, apresentando ao mundo aquele que é o mais brutal e e competente chutador de bundas do Cinema mundial da atualidade: Iko Uwais.
Demorou um tempo até que Hollywood o descobrisse, provavelmente porque alguém precisou ensiná-lo a falar inglês primeiro. Mas agora, com esse bom filme de ação 22 Milhas, Uwais finalmente se apresenta de verdade ao ocidente, sem levar em consideração sua participação ridiculamente curta em “Star Wars: O Despertar da Força” e na qual não o colocaram para dar nem um sopapo sequer. E, a julgar pela quantidade de projetos no qual ele está envolvido, nós veremos bem mais dele daqui pra frente, a começar pela série original Netflix “Wu Assassins” que estreia ano que vem.
Em 22 Milhas, Uwais é Li Noor, um policial em um país asiático fictício que pretende dar a localização de um material radioativo potencialmente devastador em troca de sua extradição aos EUA. Para tanto, ele precisará percorrer 22 milhas entre a embaixada americana e o aeroporto enquanto um sem número de jagunços tenta matá-lo. Em sua proteção, o diretor Peter Berg reedita pela enésima vez sua parceria com Mark Wahlberg (“O Grande Herói”, “Horizonte Profundo: Desastre no Golfo” e “O Dia do Atentado” são os anteriores), que interpreta James Silva, o principal agente de uma agência secretíssima do governo americano. Silva, o verdadeiro protagonista da história, é um sujeito dotado de um QI elevadíssimo, absolutamente vidrado no seu trabalho. E o trabalho dele vai além apenas de matar pessoas amarelas ou marrons em algum lugar remoto do planeta. A ele e sua agência é confiada a missão de prever o imprevisível e evitar que coisas como o 11 de setembro se repitam.
Se você acha que já viu algo parecido com o que descrevi na sinopse acima, você provavelmente está certo. A trama de fazer com que soldados de elite escoltem uma pessoa por uma verdadeira zona de guerra até chegar a um objetivo é batida e consagrada no Cinema de ação. São inúmeros os filmes que apostam nisso e muitos deles até funcionam muito bem, como “16 Quadras” com Bruce Willis e até mesmo o mais recente e excelente “Logan“.
Apesar da coisa aqui não ser diferente no que tange a dinâmica do filme, o diferencial está mesmo na temática e no artifício Iko Uwais. Muito embora esta verdadeira besta-fera seja prejudicada pesadamente por uma montagem tresloucada e pelo flagelo dos filmes de ação recentes – câmera tremida e cortes rápidos -, suas cenas ainda são o que há de melhor no longa. Iko, mesmo sendo o tal “pacote”a ser protegido, distribui porrada com a beleza de sempre enquanto Mark Walhberg faz o que ele faz de melhor, que é basicamente ser ele mesmo ao falar rápido e antagonizar toda e qualquer pessoa que chegue perto. Foi este estilo que o rendeu sua merecida indicação ao Oscar por “Os Infiltrados” e aqui James Silva xinga todo mundo a todo tempo e não tem a menor empatia por qualquer coisa que não pela missão, apesar de ser caninamente leal aos seus comandados.
Para os fãs de MMA, temos ainda aqui um subaproveitamento de Ronda Rousey, que não dá nenhuma chavezinha de braço sequer. Se é para escalar uma ex-campeã do UFC como um dos membros da equipe de Silva, teria feito mais sentido se ela quebrasse um ossinho ou outro. O que acontece é só que ela é mais um capanga que poderia ter sido interpretado por qualquer um.
22 Milhas é um bom filme de ação no qual Iko Uwais, tanto pela distribuição de porrada quanto até mesmo por sua surpreendente interpretação, ofusca Mark Wahlberg, que parece inclusive muito confortável nesta posição. Contando ainda com um John Malkovich no automático e com um corte de cabelo bizarro, o filme foi claramente imaginado como a primeira parte de uma franquia, apostando aqui em um roteiro burocrático, mas que funciona dentro da proposta da obra, apesar de sofrer bastante com uma montagem esquizofrênica e quase nauseante com um milhão de cortes por segundo.
Leave a Comment