Crítica: Caso de Polícia (The Good Cop)
A lista de nomes que participam desta nova série policial da Netflix é realmente impressionante. A dupla de protagonistas é composta por Tony Danza e Josh Groban como Tony Caruso pai e Tony Caruso filho. Danza, além de ex-pugilista profissional, é um dos atores mais icônicos da história da televisão americana, tendo protagonizada “Taxi” e “Who´s the Boss?”, duas das séries mais clássicas da TV americana da década da 80. Nos EUA ele é daquelas celebridades da TV que absolutamente todo mundo conhece. Josh Groban, por sua vez, é um dos cantores mais populares e famosos dos EUA, tendo vendido dezenas de milhões de discos com sua poderosa voz. O que ambos têm em comum é o fato de serem celebridades locais do tipo que nem sair à rua conseguem sem serem importunados por fãs e paparazzi, mas que são relativamente desconhecidos do resto do mundo.
A Netflix então alistou os serviços de Andy Breckman, criador da série de sucesso “Monk” e do carisma dos seus atores e da mente de seu realizador nasceu este Caso de Polícia.
A trama aqui é simples e funciona dentro de sua proposta, ainda que o roteiro force a barra várias vezes para justificar algumas interações entre os dois. Tony pai (Danza) é um ex-policial que acaba de sair da prisão onde ficou por 7 anos após ter sido preso por corrupção, mas nada muito forte para que a gente não perca a empatia com ele. Tony filho é simplesmente o detetive mais minuciosamente honesto, caxias e chato de toda a história da força. Isto, é claro, vai dar muito pano para manga, com estas personalidades conflitantes colidindo o tempo todo e com a relação entre os dois se mantendo pela força do genuíno amor de pai e filho que eles compartilham, a despeito (e talvez por causa) de todas as diferenças.
Evidentemente os episódios serão forçados por um caminho muitas vezes nada orgânico para justificar a participação de Tony pai em determinada investigação, seguindo, no mais, aquela velha formuleta das inúmeras outras séries policiais que temos por aí. Um homicídio é apresentado nos primeiros minutos, Tony jr. e sua equipe – composta pelos clássicos e batidos arquétipos do policial-velho-resmungão-perto-de-se-aposentar (Isiah Whitlock Jr.), um nerd-mongolão-gênio-da-computação (Bill Kottkamp) e uma mulher lindíssima que parece não saber sê-lo (Monica Barbaro) – começam a investigá-lo, vão por um lado e ao final descobrem que estavam errados para só então desvendarem o crime. Só que dessa vez temos monstro do carisma que é Tony Danza aparecendo para ajudar e atrapalhar ao mesmo tempo as investigações e uma evidente pegada de comédia de situação.
A fórmula, nas mãos de gente competente, funciona bem. A sensação é a de se estar assistindo uma série policial daquelas que passavam nas manhãs de domingo na Globo antes do Esporte Espetacular. Tudo bem produzido, direitinho e limpo, sem que um palavrão seja jamais proferido e com uma quantidade de sangue e morte que parece incompatível com uma obra que se dedica a acompanhar, ainda que de forma cômica, as desventuras de uma equipe que investiga brutais homicídios.
A química entre Danza e Groban e a dicotomia que suas interações produzem é o ponto alto da série e o que a faz se distanciar das demais. Os crimes investigados, embora um tanto quanto censura livre demais pro meu gosto, são bem urdidos e desenvolvidos pela trama e a trilha sonora é um deleite, invocando os bons filmes policiais em preto e branco de priscas eras, com um jazz suave que se encaixa muito bem em tudo.
Contudo, a necessidade de se encaixar o personagem de Tony Danza em tudo que acontece na série acaba por maculá-la. É muito, mas muito forçado mesmo que uma pessoa que nem policial é se meta em absolutamente tudo quanto é investigação policial que seu filho, chefe do tal departamento de homicídios, se mete a investigar, em especial quando este filho é obcecado por fazer tudo de acordo com as leis, da forma mais certinha possível. E, mais, a presença magnética de Danza parece se impor de forma exagerada por vezes, o que acaba por desgastar seu personagem com diálogos que dão a impressão de realmente ser apenas uma mera encheção de linguiça para que a estrela (e produtor da série) tenha mais tempo de tela.
Para aqueles que já são fãs de séries policiais como as várias encarnações de “Law and Order” e “CSI” da vida, Caso de Polícia é mais um prato cheio, mas, aviso logo, não é um prato que deve ser consumido de uma vez só. Seriados não serializados como este – aqueles nos quais os episódios são independentes entre si, sem que sigam um mesmo arco geral – são geralmente cansativos se assistidos de uma vez só e este aqui está muito longe mesmo de ser uma exceção.
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