Crítica: Forest of Piano (Piano no Mori) - 1a Temporada

De toda as minhas paixões, a que detém o título de mais importante, que me define como pessoa em praticamente todos os âmbitos, que é quesito fundamental para me relacionar com qualquer um, é, sem sombra de dúvida, a música. Desde meus 7 anos de idade, quando peguei escondido uns vinis do meu pai dos Beatles e da magistral dupla Simon & Garfunkel, mesmo sem entender uma palavra do que era cantando, começou a se formar um pequeno Ryan Fields. De 1989 até hoje, foram quase 3 décadas de muito rock and roll, jazz, blues, heavy metal (bastante) e música clássica. Além de dialogar com o ser inconformado com a sociedade que habita dentro de mim, esses gêneros exploram os limites das composições e seus instrumentos, elevando a música a patamares de complexidade e harmonia que dificilmente cairão no esquecimento e que já duram décadas e, em alguns casos, séculos.

Em um belo esforço para honrar grandes compositores e edificar uma ode à música, Forest of Piano é um dos animes mais comoventes e competentes do ano. Contudo, aqui faço uma ressalva. Você é um apaixonado por música? Você gosta de música clássica? Você se emociona e é transportado para outro plano de existência quando escuta composições dos seus artistas favoritos? Se você respondeu “sim” para alguma dessas perguntas, então certamente você irá adorar a obra.

A proposta aqui é muito simples. Dois alunos do 6o ano de uma escola, Kai Ichinose e Shuuhei Amamiya, se conhecem e viram grandes amigos pela sua paixão em tocar piano. No entanto, essa paixão pela música deriva de backgrounds bem diferentes. Enquanto Kai é um menino pobre, com uma mãe que é prostituta e que usa um piano jogado fora em uma floresta, Shuuhei vem de uma família muito rica e prestigiada, sendo o seu pai um famoso pianista no Japão. Mesmo tendo essa distância sociocultural, ambos se conectam e se desafiam constantemente.

Kai incorpora um talento bruto e nato de quem aprendeu sozinho e possui no ato de tocar sua realização como ser humano, enquanto Shuuhei é edificado na prática e esforço, buscando reconhecimento de seu talento em competições. Essas características contrastantes se intensificam quando eles entram em uma eliminatória para concorrer à um prêmio nacional de pianista revelação do Japão. Ajudando nessa empreitada, temos Youichirou Amamiya, pai de Shuuhei, que o guia na busca do aperfeiçoamento de sua técnica, e Sousuke Ajino, mestre de Kai, contemporâneo de Youichirou e, assim como Kai, portador de um talento bruto, mas que nunca chegou ao estrelato devido à um acidente de carro que deixou sérias sequelas em suas mãos.

Um dos grande trunfos de Forest of Piano é sua objetividade narrativa. Aqui você não encontrará plot twists, dramas familiares e nem alívios cômicos. Tudo gira em torno da música e, em especial, a amizade e rivalidade entre Kai e Shuuhei. O cuidado dedicado nessa construção, mostrando o passado de seus mentores e as circunstâncias sociais que os lapidaram, inseridos nos estilos de tocar e na transformação das composições que eles executam, elevaram a série a outro patamar. Quando você escuta a mesma composição tocada por ambos, com arranjos diferentes, você é capaz entender de onde eles vieram e o que os motivam. Em diversas cenas fui levado às lágrimas ao me entregar de coração ao passado de Kai ou às angústias de Shuuhei.

De forma muito sábia, essa história de amizade/rivalidade é levada por cortes no tempo, mostrando os meninos alguns anos depois, já adultos, carregando os fantasmas do convívio um com o outro na infância e os frutos do caminho escolhido por cada um. No entanto, o que me causou certo cansaço, foi a forma que o anime escolheu para dar continuidade a história: outro concurso, mas agora um a nível global.

Mesmo levantando uma bola sobre sistemas de avaliação em um confronto entre o tradicional e o inovador, ter uma segunda metade focada exclusivamente em outra competição impediu a continuidade do desenvolvimento dos personagens tão bem trabalhados no início. Há também aqui um final não conclusivo, deixando para janeiro de 2019 o desfecho da história na 2a temporada, e animações em um 3D maroto que deixaram a desejar nos momentos mais densos emocionalmente.

Forest of Piano é certamente um ponto fora da curva, mostrando que uma história honesta e direta sobre uma temática apaixonante pode produzir ótimas animações. Porém, se você não é um apaixonado por música, melhor passar para outro.

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