Crítica: Las leyes de la termodinámica

Usualmente quando eu me sento para assistir a uma obra de comédia romântica, minhas expectativas não são das mais altas. Não que isso seja um reflexo de algum preconceito que eu tenha. Gosto de acreditar que no Cinema eu abraço toda e qualquer experiência. E, de fato, assim tento me comportar. No entanto, assim como no Terror – gênero esse que a todo momento eu explicito o quanto adoro -, as comédias românticas têm caído em lugares muito comuns, apresentando histórias e narrativas demasiado iguais, não trazendo sensações muito além de um repetitivo e incômodo déjà vu acerca das obras. Sentei-me para ver Las leyes de la termodinámica imaginando que veria um pouco mais do mesmo. Por sorte, enganei-me lindamente.

Trata-se do mais novo filme escrito e dirigido por Mateo Gil, nada mais, nada menos do que o roteirista de duas obras de grande destaque: o interessantíssimo “Vanilla Sky” (adaptação do original “Preso na Escuridão” também escrito por ele) e o fabuloso e (talvez) mais pesado filme que já vi na vida, “Mar Adentro“. Com esse currículo, já era de se esperar algo diferente do que costumamos encontrar por aí. A torcida para que um autor como este não tivesse sido tragado pela indústria era grande e Gil demonstrou ser alguém extremamente flexível no seu fazer Cinema: as três obras aqui citadas, que tem sua participação, são absurdamente distintas entre si. E todas de grande qualidade.

O nerd neurótico.

Manel (em atuação firme de Vito Sanz) é um cientista neurótico daqueles bem nerds e com toc de organização (o que o faz receber o pontual apelido de “Sr. Metódico” por sua namorada). Mas, mais do que isso, ele é um tipo que tenta explicar o dia-a-dia, em especial as relações amorosas, através das leis da Física. Encarnando a cada segundo de sua existência o cientista que é, Manel é obcecado em comprovar suas explicações e as relações entre a Física e os sentimentos de cada indivíduo. Essa sua neurose vai afundando-o mais e mais quando seu tão sonhado romance com a modelo e atriz Elena (muito bem pela belíssima Berta Vázquez) vai perdendo força, enquanto o desinteresse se instala e o flerte com pessoas de fora se torna cada vez mais frequente para a moça. Sem abandonar sua “tese”, Manel sofre com a possibilidade da iminente perda de seu amor ideal.

Tal qual uma tese acadêmica, a narrativa do filme vai nos apresentando hipóteses acerca desse relacionamento, colocando-nos de frente para possibilidades e suas consequências, trazendo-nos de volta para o fato real e o que decorre dele. Esse recurso narrativo extremamente delicado e preciso é evidenciado por uma montagem de cair o queixo, assinada pelo inspirado Miguel Burgos, que nos brinda com uma cena específica em que sua edição é genial. A vontade foi de voltar para rever aquela costura tão lindamente executada, à semelhança de uma sinfonia em que as notas se casam naturalmente, acariciando a audição com uma sonoridade inesquecível. Além disso, Burgos entrecorta as sequências com planos de cientistas físicos, que explicam as leis da Física abordadas por Manel em suas explicações frenéticas e neuróticas. Como um verdadeiro episódio de um programa do History Channel, apresentando-nos verdadeiros pesquisadores de renomadas Universidades mundo afora (dentre os quais a cientista Denise Gonçalves da UFRJ – é, amigo, quem tem a Minerva carioca no currículo grita aí nos nossos comentários! Uhuu!). A história desse filme, ao se estruturar nesse modelo de narrativa, é o que faz a obra se destacar dentre as demais do gênero, como explicitado na introdução.

Os opostos se atraem.

Os atores muito bem escalados em seus papéis, em sintonia entre si e naquilo que representam na narrativa, também ajudam a criar o clima ideal para o que está sendo desenvolvido. Todos esses elementos, precisamente incluídos no desenrolar da trama e com a plena noção de sua serventia na história, vão envolvendo o espectador de modo a tornar tudo ali tão mais interessante do que sugere a trivial sinopse. Comumente falo aqui, ao longo dos meus textos, que aquilo que faz uma obra se destacar é muito mais a forma como ela é contada do que a essência do que se conta em si. E é exatamente nisso que Las leyes de la termodinámica consegue se estabelecer.

Orbitando em meio ao seu próprio caos.

Se, de início, havia torcido levemente meu nariz pela possibilidade de estar de frente para um título de comédia romântica – o que, a priori, me sugeriu uma experiência nada relevante -, à conclusão fechei a exibição com mais uma ilustração daquela máxima que venho repetindo: quando os personagens são bons e o modo de se contar a história evoca algo para além do já batido, o resultado tende a ser uma produção marcante, que merecerá ser lembrada e revisitada em algum momento posterior. Essa é a reação que se espera a partir da ação da Arte em nós.

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