Crítica: Last Hope - Parte 1 (Juushinki Pandora)

Quem é um assíduo consumidor de animes sabe que existem alguns cenários recorrentes para vender um produto nesse meio. Batalhas de guerreiros místicos que protegem ou são guiados por uma entidade divina, histórias de super-heróis se descobrindo, torneios com times caricatos no qual sabemos que o time do protagonista irá vencer e, mais recentemente, um cenário muito popular é o virtual, com histórias quase por completo ocorrendo enquanto seus protagonistas então em casa e seus avatares estão arregaçando tudo. Claro que não podemos deixar de mencionar um dos cenários mais instigantes (e explorados): o dos monstros gigantes lutando contra robôs, vulgo mechas (uma abreviatura para mechanical).

Dentro dessa ambientação encontramos clássicos, como “Neon Genesis Evangelion“, adaptações/releituras, como a nova trilogia de Godzilla (“Planeta dos Monstros” e “Cidade no Limiar da Batalha“) e alguns bons lançamentos, como o disponível na NETFLIX “Knights of Sidonia“. Mergulhado dentro desse universo de gigantes literais, chega à plataforma de streaming a Parte 1 de Last Hope.

Estamos em 2031 quando um reator quântico é testado – impulsionado pela crise de energia que assola a humanidade – e acaba por provocar uma catástrofe sem precedentes no planeta. Toda a fauna e flora da Terra têm suas bases moleculares alteradas, borrando a linha que separa o orgânico do inorgânico, alterando o curso da evolução e, o mais importante, a velocidade com que as espécies se adaptam ao meio. Estes seres passam a ser chamados de BRAI (Biological Revolutionary of Accelerated Intelligence). Seria quase como se, da noite para o dia, um rato pudesse desenvolver rodas para fugir mais rápido, ter visão raio-x e uma broca na língua para abrir buracos nas paredes. Esse evento leva a espécie humana quase à extinção, já que a velocidade com que esses animais evoluem é maior do que nossa capacidade de lidar com eles. Apenas poucas cidade muradas no mundo resistem, como a Neo Xianglong.

Já em 2038, para conseguir resistir e salvar a humanidade, somente os mechas gigantes MOEV (Multi-purpose Organic Evolution Vehicle – Veículo de Evolução Orgânica Multipropósito) do Grupo Pandora são capazes de lutar contra tais ameaças. Esses robôs foram desenvolvidos com base na mesma tecnologia e por um dos responsáveis pelo reator quântico, Leon Lau (Tomoaki Maeno), criando um cenário de conflito entre diversas partes. Last Hope é essencialmente uma mistura de “Attack on Titan“, Círculo de Fogo” e “Aniquilação“.

Veja bem, as obras supracitadas possuem seus méritos, especialmente porque se apoiam nos pilares que criam. Last Hope, ao incorporar muitos elementos diferentes, acabou por virar um verdadeiro monstro de Frankenstein. Muitas informações complexas são apresentadas, como a energia de múltiplas dimensões que alimenta o hiperpropulsor que é coração dos mechas da equipe Pandora, sem explicar questões primárias da trama que ficam sem resposta. Mal somos apresentados aos BRAI, sem saber por que os seres humanos não foram afetados pelo reator quântico, e já estamos trabalhando com outras dimensões (o que também fica sem explicação por muito tempo).

Esse excesso de informação sem direcionamento foi me cansando, mas ainda estava investido pelo ritmo da obra, dos mistérios que lentamente iam se revelando e pelo desenvolvimento de alguns personagens. Contudo, lá pela metade do anime, temos uma mudança brusca de ritmo, deixando de lado a luta contra os BRAI e focando nas intrigas internas de Neo Xianglong e um grupo misterioso que habita fora das muralhas. Mesmo não sendo uma parte enfadonha e cumprindo uma função importante, Last Hope não soube dosar seus momentos de ação e intrigas, deixado o anime com um ar dicotômico.

Falar da qualidade da animação é sempre complicado. É algo muito pessoal a escolha artística e atribuir adjetivos como “feio” e “bonito” seria um equívoco. Contudo, considerando a possibilidade que a história proporciona, ficou evidente que faltou capricho. Muito designs são ordinários, com a exceção de um mecha ou outro, e os BRAIs lembravam mais um Transformer animado em um 3D maroto, muito mecanizado e com formatos animalescos, do que seres que se adaptaram a um novo ambiente. E já falando no Optimus Prime e cia, as cenas de ação me deixaram meio perdido com seus enquadramentos próximos e sequências rápidas. Vou nem entrar no mérito da preguiça dos animadores ao mostrar a mesma cena 15x (a 2a imagem da crítica).

Em resumo, considerando que essa é apenas a metade do anime, Last Hope é divertidinho, possui alguns mistérios que são lentamente revelados e desenvolve razoavelmente bem os personagens. Mas a animação sem inspiração, o excesso de informação e um ritmo errático acabam por transformar algo que poderia ser muito satisfatório em uma 1a parte que deixa a desejar. Bem… pelo menos eu ainda estou curioso para ver que estar por vir.

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