Crítica: O Predador (The Predator)
A franquia Predador, apresentou, sem sombra de dúvida, um dos mais icônicos designs de alienígena do cinema, consagrado no longa de 1987, “O Predador” (com Nostalgia no site), que conta com Arnold Schwarzenegger e Carl Weathers, criado pelo competente diretor de filmes de ação da década de 1980 John McTiernan. Contudo, por incrível que pareça, a maior parte do público não sabe que este O Predador de 2018 é a 6a obra centrada nessa raça guerreira do nosso universo.
Após o 1o longa, tivemos uma continuação em 1990 com “Predador 2: A Caçada Continua” e uma mudança de cenário – uma cidade no lugar da selva – que não foi muito bem recebida, mas apresentou novas tecnologias e expandiu o lore desses caçadores que estão no planeta há muito tempo, além de ter consagrado Bill Paxton como o único ator a morrer nas mãos tanto dos predadores e como nas dos xenomorfos (da franquia Alien). Falando neles, depois de uma espera de 14 anos, tivemos em 2004 e em 2007 o confronto entre as duas espécies extraterrestres mais violentas do cinema. Apesar de serem filmes com muitos problemas, eles apresentam alguns aspectos importantes. Vemos que os Predadores estão no planeta há séculos usando humanos e xenomorfos em seus rituais de iniciação, aparece a 1a variação genética do Predador e temos cenas de violência chocantes (confira o especial Alien sobre esses filmes). Em 2010 tivemos a tentativa de resgatar a franquia com alguns atores conhecidos, como Adrien Brody, Laurence Fishburne e Danny Trejo, em uma arena onde os predadores caçavam os melhores soldados que o mundo possuía. Não deu certo e talvez seja a entrada mais esquecível de toda a franquia, mas ela mostrou uma dissidência entre duas etnias ou subespécies de predadores diferentes.
Tentando fazer um mix de todos os elementos que apareceram nos longas anteriores, chega aos cinemas brasileiros O Predador.
Em termos visuais e de escolha de elenco – com várias estrelas em ascensão em séries badaladas e atores com certo nome no cinema – , o longa é um primor. Tudo o que queremos de um Predador está lá, como as armas brancas, seus aparatos eletrônicos, rituais e muita violência. No entanto, o roteiro beira o criminoso, apresentando um enredo forçado com diálogos clichezentos.
A obra parte de um conflito entre duas espécies de predadores que acabam caindo na Terra. Enquanto o predador clássico corre atrás de sua nave da qual ejetou, a nova variação tenta impedi-lo de completar essa missão. Neste fogo cruzado temos 2 núcleos humanos: uma agência governamental que estuda a presença deles na Terra que também busca a nave e um grupo de ex-combatentes com problemas psicológicos graves que se envolvem na trama por portarem um objeto que dá acesso à nave disputada.
Algo que acomete várias obras do gênero e no que o longa faz questão de se esbaldar é não deixar crível o encontro de seres humanos e alienígenas. Temos crianças operando sistemas militares importantes, total falta de protocolos a serem seguidos, segurança ridícula em volta de artefatos de outro planeta e uma série de presunções sobre os motivos dos predadores estarem aqui lutando um com outro que beiram a conclusão que uma criança de 5 anos pode tirar ao ver dois cachorros brigando na rua. Foram conclusões completamente impossíveis de serem feitas com as informações disponíveis e, mesmo assim, elas motivam a agência governamental a cometer atos que eu duvido serem legais e foram me despindo de qualquer vontade levar a película a sério.
A proposta do novo espécime, com design semelhante do clássico, mas provido de avançada tecnologia genética e poucos recursos armamentistas, deixou a impressão que algo se perdeu ali. O capacete, a mira laser de 3 pontos e as armas inventivas sempre foram um marco da franquia e a sua ausência na forma mais “evoluída”, embora contextualizada, deixou uma sensação de retrocesso. Aliás, o contraste entre as duas espécies de predadores, com o clássico armado até os dentes com tudo que já estamos acostumados a ver na franquia, versus um predador que pelo trailer parece o Conan, aborda uma questão atual para nós, reles humanos: a manipulação genética. Mesmo representado de forma exagerada, foi um discurso interessante que ficou ali nas entrelinhas.
O longa ainda tenta resvalar em temas delicados – como doenças psicológicas e condições cognitivas genéticas – e de importância no que tange a inclusão social, mas que fica superficial e muito caricato. Isso é perceptível com personagens superando as suas limitações ou sucumbindo em campo de batalha decorrente das suas condições mentais.
Mas se você gosta de um ar de terror com muitas cenas de ação, o longa é um deleite. São diversas cenas de brutalidade extrema e mortes inventivas, além, claro, de muitos corpos nas condições ritualísticas dos predadores em florestas e ambientes noturnos. O que falta no longa é a simplicidade que fez do Predador de 1987 um clássico. Ao tentar explicar tudo o que veio antes, tudo o que está acontecendo e, num final sem sentido algum, tudo o que está por vir, o longa se enrosca nas próprias pernas.
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