Crítica: O Príncipe Dragão (The Dragon Prince) - 1a Temporada

Melhor do que eu dar aqui uma sinopse sobre O Príncipe Dragão é rogar a todo mundo, verdadeiramente urgir com veemência, que todos vejam os primeiros minutos do primeiro episódio, ou capítulo, da 1a temporada, ou Livro 1. Nele, de maneira sucinta, suficiente e espetacular, toda a mitologia deste universo é contada, usando meros 5 minutos para estabelecer um mundo, um conflito e as regras que deixarão o restante inteiro da série para que seus fascinantes personagens sejam desenvolvidos e a narrativa seja ainda mais enriquecida. É desta forma, simples e objetiva, que a série animada vai te arrebatar e, capítulo após capítulo, deixá-lo deslumbrado com (quase) tudo que ocorre.

Sem exagero algum, trata-se de um exercício narrativo muito perto da perfeição dentro de sua simplicidade e na absoluta obsessão em prestar homenagem ao maravilhoso, popular e já exaustivamente explorado gênero da fantasia. Os criadores são gente muito tarimbada e experimentada, com Justin Richmond tendo sido o diretor de um dos jogos da gigante franquia de videogame “Uncharted” e tendo ainda Aaron Ehakz e Giancarlo Volpe sendo os criadores da cultuada séria animada “Avatar”, além de apaixonados pelo tema, o que, à exceção da inexplicável animação usada, é feito claro desde o primeiro minuto.

Temos aqui a história do príncipe Ezran, do seu meio-irmão e enteado do rei Callum e da elfa Rayla. Como costuma acontecer neste tipo de obra, eles, muito embora haja um ódio ancestral entre elfos e humanos, se juntam por força do destino e irão em uma missão que prometerá salvar o mundo. Não entrarei em mais detalhes para não dar spoilers, mas esta descrição simples é EXATAMENTE do que se trata a história e nela jaz a sua força, pois é a simplicidade da estrutura narrativa que permite que seus roteiristas se concentrem no que importa: os personagens e a história. Pouco a pouco vamos entendendo o que motiva cada um, tudo para que a narrativa avance organicamente, sem que haja qualquer pauta escondida ou sub-texto polêmico. É um conto que que existe por e para si mesmo e é autossuficiente nesse propósito, com um comprometimento canino de seus criadores para com a sua criação.

Talvez eu esteja me repetindo aqui, mas o roteiro é algo muito bom realmente. Consegue pegar uma história sobre guerra e assassinato, adaptá-la sem qualquer perda para um público infanto-juvenil e escrever diálogos que, mesmo diante de acontecimentos trágicos e traições, consegue se manter leve e crível, criando uma série que pode facilmente ser apreciada por todas as idades. É perfeita para que você seja aquele tio gente boa que deixa seu sobrinho de 6 anos ver um negócio na Netflix que está marcado como para 10 anos sem medo que ele se traumatize e ainda tirando onda de tio permissivo que deixa o moleque ver as besteiras que os pais não deixam. E, de lambuja, ainda vai se divertir fazendo isso.

Agora que já terminei de puxar o saco dos roteiristas, sinto-me na obrigação de dizer que a direção de arte está quase no mesmo nível de excelência. Ela consegue usar a temática clássica do cenário de fantasia medieval, que poderia ter sido extremamente derivativa e batida, de uma forma que confere vida própria, em desenhos lindos e cenários que parecem pintados à mão e que enriquecem a história e seus personagens. A delicadeza e o carinho com que os animais e os seres fantásticos foram retratados é palpável, deixando claro que muitos e muitos nerds órfãos de boas obras de fantasia estiveram envolvidos neste projeto.

É por causa do evidente esmero e carinho que foram despejados no fazimento do roteiro e no desenho de produção que é absolutamente incompreensível porque diabos resolveram que fariam uma animação que se assemelha a jogar “Duke Nukem” num 386 (entendedores entenderão). A impressão que se dá é a de que foi necessário economizar em algum momento e aí os produtores mandaram cortar frames por segundo, ou então que a placa de vídeo do seu dispositivo de exibição não está dando conta. Toda a animação parece gaguejar, fazendo com que os movimentos, em especial em momentos de ação intensa, não tenham qualquer fluidez e dando até mesmo um aspecto amador a uma obra que foi claramente feita com todo carinho, cuidado e um orçamento generoso.

Isto acaba por prejudicar muito toda a série em um nível que a fez perder uma claquete inteira em minha avaliação. Felizmente todos os seus demais elementos são mais que suficientes para que tenhamos aqui um título de fantasia muito acima da média, com um lore fascinante que certamente será explorado nos Livros seguintes, personagens muito bem desenvolvidos e uma narrativa empolgante que, embora não tenha atingido seu ápice ao final da temporada, mantém o espectador vidrado em tudo o que está acontecendo e continuará a acontecer.

Sendo você um entusiasta de RPG ou não, O Príncipe Dragão é uma ótima pedida para crianças, adolescentes e um sujeito de 35 anos que ainda sente falta de “Caverna do Dragão” (menos da Uni, aquela filha da putinha).

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