Crítica: O Que de Verdade Importa (The Healer)
O Que de Verdade Importa chama atenção por seu diferencial no que diz respeito à grana da bilheteria: toda ela é direcionada à instituições beneficentes que tratem o câncer. Reconhecido e validado isto, separemos a importante iniciativa da obra cinematográfica em, que é o que será analisado aqui. Temos a história de Alec Bailey (Oliver Jackson-Cohen), um bonitão londrino que tem uma loja de reparos e vê sua rotina abalada com a inusitada visita do então desconhecido tio Raymond Heacock (Jonathan Pryce), de quem recebe a proposta de quitação de dívidas altíssimas em troca de uma espécie de intercâmbio na Nova Escócia, Canadá.
Tentado pela solução de problemas (e com problemas aqui quero dizer mais de 80 mil libras), Alec aceita a mudança e lá conhece Cecília (Camilla Luddington), a veterinária da cidade. No maior estilo cidade pequena no meio de porra nenhuma temos aí Lunenburg, com moradores caricatos como o padre abusado, a garçonete sem noção e etc. A problemática se dá quando, por conta de um erro de digitação no jornal local, Alec anuncia seu serviços como “O Curador” – e a interpretação de todos é que o novo Messias chegou na região. Aí, céus…
Acontece que, pasmem, o erro se mostra verdadeiro e Alec de fato é um curador; os habitantes da região com quem o homem teve contato têm seus problemas de saúde resolvidos depois de visitá-lo. Dá-se, então, uma longa e desnecessária sequência de recusa da parte de Alec em aceitar seu “dom”, confusões forçadamente cômicas e, honestamente, tediosas. Mais da metade do filme dá voltas nessa questão, findando com a recusa oficial de Alec numa espécie de ritual mágico em que ele tem até meia-noite para aceitar sua condição ou não. Remeteu à Cinderela e a carruagem de abóbora.
Seja pelo elemento místico completamente cuspido, seja pela falta de criatividade do roteiro, o longa não funciona de forma alguma. O enredo não é em nada cativante, misturando uma história milagrosa barata com, como uma espécie de salvação, a inserção de um personagem com câncer. É depois de mais de uma hora de filme que a menina Abigail (Kaitlyn Bernard), uma adolescente com a doença terminal, aparece na cidade com seus pais, vindos de outro canto por conta ainda do anúncio do jornal.
Após a verdadeira luta para continuar assistindo ao filme, a vinda de Abigail dá o gás necessário para finalizá-lo – mas, nem por isso, o filme se salva por completo. Alec empatiza com a história da garota, cheia de vida ainda que consciente de sua condição. É precisamente essa consciência e forma sábia de lidar com o anúncio da morte que conquista Cecília e o cara, que repensa a escolha de ter aberto mão de seu dom. O filme se desenvolve, agora, focado no arrependimento dessa decisão e por aí vai.
Idealmente acredito que, tratando-se de um filme que aparentemente busca enfatizar a questão do câncer até mesmo pela campanha para tal, o assunto poderia ser melhor explorado. Se menos espaço fosse dedicado às trapalhadas e desencontros que acontecem no início do filme teria sido possível uma produção de maior qualidade. No entanto, a forma que o diretor escolheu orquestrar o longa e, especialmente, o roteiro que está por trás de tudo isso, faz com que a produção seja chata e não cause tanta empatia como deveria ao telespectador.
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