Garimpo Netflix: Lendas do Cinema

Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.


Nos seus cento e poucos anos de existência, o Cinema presenteou gerações e gerações com figuras que transcenderam as telas e se transformaram em lendas absolutas. Alguns pela pura força de seu talento, tantos outros por puro carisma e a maior parte delas por uma mistura entre essas coisas.

Contudo, a idade chega para todos e, com ela, os bons papéis vão minguando, a grana vai ficando curta e a fama menor, mas o talento, temperado pelas décadas de experiência, se mostra mais refinado do que nunca. E, com isto, os nomes hoje homenageados passam a estrelar filmes de menor orçamento e que, justamente por não estarem amarrados aos milhões dos grandes estúdios, são absolutamente livres para criar e deixar aflorar tudo aquilo que fez destes senhores verdadeiras lendas da 7a arte.


Sr. Sherlock Holmes (Mr. Holmes), de 2015, dirigido por Bill Condon

Mais conhecido por ter interpretado ícones da cultura pop mundial como Gandalf na trilogia Senhor dos Anéis e Magneto na série X-Men, Sir Ian McKellen é tão mais que só isso (o que já é muita coisa) que eu tenho até dificuldades em colocar em palavras. Indicado a dois Oscar, vencedor das mais prestigiadas premiações do meio teatral e cinematográfico, além de ser Cavaleiro do Imperio Britânico, ostentar o título de Sir e ter sido um dos primeiros atores, em uma época em que era conhecido tão somente em sua natal Inglaterra, a sair do armário e gritar ao mundo sua homossexualidade, o que importa mesmo na biografia deste hoje senhor de 79 anos é que se trata de um dos maiores atores de cinema e teatro a terem vivido.

Em Sr. Sherlock Holmes, ele reconstrói a parceria com Bill Condon no também excelente – e pelo qual foi indicado ao Oscar – “Deuses e Monstros”, em um dos melhores filmes disponíveis na Netflix. Nele, McKellen vive o detetive Sherlock Holmes em 3 momentos distintos de sua vida: durante a investigação de seu último caso e que o levou a se aposentar quanto tinha lá seus 60 e poucos, durante uma viagem ao Japão e curtindo sua aposentadoria em uma dessas paisagens idílicas do campo inglês.

Com uma caracterização magistral de McKellen, apoiado por coadjuvantes de peso como Laura Linney e Hiroyuki Sanada, bem como por um trabalho de maquiagem soberbo, Sr. Sherlock Holmes é um primor de roteiro e direção, em uma trama que trata da angústia da velhice, da carência afetiva, da culpa asfixiante e, como não poderia deixar de ser quando o nome Holmes está envolvido, de vários mistérios a serem resolvidos.

Memórias Secretas (Remember), de 2015, dirigido por Atom Egoyan

Em Memórias Secretas não temos apenas uma, mas pelo menos 4 lendas do cinema em tela. Martin Landau, morto ano passado aos 89 anos e vencedor do Oscar por “Ed Wood”, Jurgen Prochnow, lenda do cinema alemão e uma das faces germânicas mais reconhecíveis em Hollywood, Bruno Ganz, nada menos que um dos maiores atores de todos os tempos e responsável pelo acachapante retrato de Hitler no já antológico “A Queda!” e o protagonista, Christopher Plummer, recentemente indicado ao Oscar e vencedor por “Toda Forma de Amor”. Todo este talento puro e experimentado junto, auxiliado por um roteiro daqueles de fazer a cabeça explodir e pela direção sempre autoral do egípcio Atom Egoyan, fazem de Memórias Secretas talvez a maior pérola relativamente desconhecida dentro da Netflix.

Aqui acompanhamos a história de Zev Guttman (Plummer), um judeu sobrevivente de campo de concentração que sofre com demência e, com a ajuda de seu amigo Max (Landau), sai do asilo onde vivem com a missão de matar o oficial responsável pelo campo onde ambos sofreram. Acaba sendo uma espécie de road movie geriátrico, no qual Zev vai se digladiar a cada momento com sua demência para conseguir levar a cabo sua missão final.

Trata-se, mais uma vez, de um dos melhores filmes disponíveis na plataforma.

Max Rose, de 2013, dirigido por Daniel Noah

Sabe essa coisa que há hoje em dia de filmes de um gênero criado por um ator específico? Tipo filmes do Adam Sandler ou filmes do Leandro Hassum? Pois bem, o primeiro a fazer isso foi Jerry Lewis, falecido ano passado com 91 anos, em obras que ele não só estrelava, mas também dirigia e escrevia. Seus filmes arrastaram verdadeiras multidões aos cinemas por todas as décadas de 50 e 60, com clássicos como “O Professor Aloprado” (o original, não o peidorrento com o Eddie Murphy) e “O Terror das Mulheres”, que muito foram popularizados no Brasil também por suas reprises incessantes na Sessão da Tarde e afins. Sua comédia meio pastelão, com personagens em geral ingênuos, ainda que maliciosos, influenciaram a comédia no mundo todo, sendo Didi Mocó nada mais que a versão tupiniquim (e genial) de Jerry Lewis. A partir da década de 70 ele passou a trabalhar cada vez menos e, em 2013, fez sua despedida dos cinemas como protagonista com este Max Rose, mesmo que um dos seus últimos créditos na telona tenha sido inacreditavelmente “Até Que a Sorte Nos Separe 2”, filme de Leandro Hassum, fã assumidíssimo de Lewis.

Em Max Rose, contudo, Jerry não faz comédia. Trata-se de um filme sobre a velhice, sobre questionar velhas certezas e sobre a iminência da morte, temas bem mais densos e pesados que os de seus clássicos. Jerry é Max Rose, um sujeito lidando com a recente morte de sua mulher com quem esteve casado por 65 anos e que, ao saber de um detalhe que lhe era secreto sobre a vida de sua esposa, passa a questionar todo o seu relacionamento e tudo o que tinha como certo em sua vida.

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