Garimpo Netflix: Noruega
O Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.
Qual é a primeira coisa que te vem a cabeça quando você pensa na Noruega? No meu caso, é o meu Celta 2001. Comprei usado de uma menina dessas que eu chamo de gringo chaser que o estava vendendo justamente porque havia finalmente conseguido realizar seu sonho e fisgado um gringo, um norueguês no caso. Por causa disso, eu comprei um carro que cheirava a Spoleto (sabe-se lá o porquê) e tinha uma meia dúzia de adesivos da Noruega espalhado por ele.
Mas, para além disso, o que todo mundo pensa quando se fala em Noruega é nos Vikings, aquele pessoal gente boa que saía por aí matando, estuprando, roubando e escravizando, mas que por algum motivo é cantado em verso e prosa pela cultura pop mundial, em um fenômeno largamente popularizado pelo sucesso da série “Vikings”, pela mania atual de ressignificar coisas e pelo genérico do Outback aqui do Rio de Janeiro chamado Vikings que quer fazer com que acreditemos que Thor adorava comer um sanduíche de picanha com chimichurri.
Felizmente, a Noruega é muito mais que só Vikings, apesar disso ser suficientemente foda por si só. Com uma produção cinematográfica que consistentemente produz pérolas como “Thelma” (constante do nosso Garimpo Especial: 10 Filmes Que Passaram Despercebidos em 2017), a Noruega vem também apresentando uma boa produção televisiva, o que veremos a seguir.
– A Onda (Bølgen), de 2015, dirigido por Roar Uthaug
Hoje mais conhecido por ter dirigido o último “Tomb Raider“, Roar Uthaug chamou a atenção de Hollywood principalmente com este A Onda. Nele, o geólogo Kristian (Kristoffer Joner) – que mais parece a cruza do Darryl de The Walking Dead com o Bon Jovi – trabalha em uma estação de monitoramento sísmico de um dos muitos fiordes da Noruega. Igualmente belos e perigosos, estes exuberantes acidentes geográficos atraem milhares de turistas todo ano, que apreciam sua beleza ignorando que a qualquer momento uma montanha pode simplesmente deslizar para dentro de um dos muitos e profundos lagos dos fiordes e provocar uma onda que devastará tudo em seu caminho.
É sem medo de spoilers que eu vos digo que isto evidentemente acontecerá, iniciando uma corrida contra o tempo de Kristian para salvar a sua família em um filme catástrofe que surpreendentemente desenvolve bem seus personagens, é bem atuado e estabelece uma tocante relação familiar antes de arregaçar a porra toda de forma muito competente e com um orçamento muito menor do que os efeitos e a produção sugerem. É talvez o melhor filme-catástrofe no acervo da Netflix.
– Norsemen (Vikingane), de 2016 – , criado por Jon Iver Helgaker e Jonas Torgersen
https://www.youtube.com/watch?v=6hk_rdfSCS0
Estreando hoje a sua 2a temporada, Norsemen é uma das mais gratas surpresas da Netflix. Sendo eu uma pessoa que bebeu hidromel duas vezes e que tem vários discos do Amon Amarth, eu me considero um grande especialista na cultura Viking e posso dizer que a série faz um papel excelente ao retratar, com um tom de galhofa raramente usado nesta temática, o cotidiano da aldeia viking de Norheim, na qual acabaram de descobrir como que faz para sair para o oeste e pilhar, saquear e estuprar uma nova terra.
Filmada em norueguês e inglês usando os mesmos atores (a versão da Netflix é a em inglês), os criadores se valem da cultura viking para tirar sarro com tudo que há de mais atual, tornando a obra quase que uma sitcom sem a claque. Destaque aqui para o roteiro que leva a série inteira naquele riso frouxo ao colocar seus personagens em situações esdrúxulas, muitas vezes de extrema violência, e para a imponente, sensual e ameaçadora figura de Freya (Silje Torp), que começa a segunda temporada com a seguinte pérola: “estuprar de barriga cheia não é legal”, tudo enquanto segura uma piroca decepada na mão.
Confira resenha completa da série aqui.
– Lilyhammer, de 2012 a 2014, criada por Eilif Skodvin e Anne Bjørnstad
https://www.youtube.com/watch?v=MjhSsC8KiL8
Não satisfeito em ser um dos mais lendários guitarristas da história do Rock, tocando há sei lá quanto tempo com Bruce “The Boss” Springsteen em pessoa, Steven Van Zandt resolveu aceitar o desafio de viver o consigliere de Tony Soprano, Silvio Dante, naquela que é hoje indiscutivelmente das maiores obras já produzidas no audiovisual: “Os Sopranos” (presente em nosso Top 10 – Melhores Séries do Século XXI). Feita a sua fama de mafioso boladão, Van Zandt aceitou o convite maluco dos criadores da série para viver Frank Tagliano, um mafioso de Nova Iorque que se vê obrigado a testemunhar contra a sua famiglia para não morrer e se vê obrigado a se mudar para o lugarejo da Noruega que dá nome à série como parte do programa de proteção às testemunhas.
Sendo Frank basicamente uma reedição ainda mais louca do que era Silvio em “Os Sopranos”, não demora muito para que ele passe a comandar a porra toda e tocar o puteiro naquele outrora pacífico e bucólico vilarejo. Bem escrita, atuada e dirigida, Lilyhammer conta com apenas 24 episódios espalhados em 3 curtas temporadas, sendo perfeita para maratonar.
Trata-se de uma das melhores séries originais Netflix, apesar desta apenas distribuí-la internacionalmente, sendo ela produzida pelo canal norueguês de televisão NRK.
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