Crítica: Diário de Horrores (Creeped Out) - 1a Temporada
Malandramente, a NETFLIX liberou hoje em seu catálogo a série Diário de Horrores, uma produção original da BBC (tanto que você pode conferir em algumas imagens o logo da emissora), que a plataforma está distribuindo mundo afora. Caso você nunca tenha escutado nada a respeito, saiba que essa é uma obra antológica, ou seja, cada episódio conta uma história diferente e são completamente independentes um do outro. Esse formato não é novidade, já consagrado desde o final dos anos de 1950 com o clássico “Além da Imaginação“, passando pelo nostálgico “Contos da Cripta“, que dominou os anos 90, e, tendo nos dias atuais em “Black Mirror” um de seus principais expoentes.
Contudo, a minha série antológica favorita é, sem sombra de dúvida, “Fome de Viver” da HBO, inspirada no filme homônimo e apresentado pelo saudoso David Bowie, que também atua no longa. É importante que eu explique os motivos dessa predileção, já que quase tudo que eu estimo nesse formato vai de encontro ao que apresenta Diário de Horrores. Em primeiro lugar, “Fome de Viver” era focado em temáticas adultas e densas, mesmo que muito fantasiosas. Todo episódio era movido por desejos primitivos de seus protagonistas, em especial a luxúria, o poder e ganância, e a forma como o episódio era trabalhado envolvia a satisfação e o ônus de ter seus instintos te guiando. Até mesmo quando um episódio envolvia um anjo na Terra, brilhantemente acabava em sexo e desgraça. Em segundo lugar, havia um apresentador carismático pra caralho, que fazia uma bela introdução e que no final, como de praxe nessas antologias, repassava a lição de moral do episódio de forma a ficar gravada em nossas psiques.
Diário de Horrores, mesmo considerando seu direcionamento para um público infanto-juvenil, acerta em alguns quesitos, mas consegue, mesmo no acerto da proposta entregar um produto final que é bem esquecível. Começando pelo seu anfitrião, o Curioso, uma entidade sem qualquer expressão e que não acrescenta absolutamente nada na narrativa, já que ele, mesmo aparecendo no início e final de todo episódio, é apenas referenciado, sem interagir com o telespectador além de dar um tchauzinho ou uma inclinada de cabeça.
As histórias em si até que encontram ressonância no dia-a-dia adolescente britânico, com temáticas pertinentes como o cyberbullying, os trolls da internet, a vergonha que temos de nossos pais, nosso apego aos inseparáveis smartphones e até mesmo questões mais casuais, como ter uma babá adolescente enquanto os pais saem à noite. Temos até releituras de clássicos do suspense/terror como “Psicose”. Tudo isso é ótimo, mas exageradamente estereotipado. O troll da internet é um headbanger cheio de ódio, os pais que envergonham seus filhos são exemplos de paternidade que custo a acreditar que existam e a babá se fazendo de boazinha é mais cliché do que ter alguém atrás da porta da geladeira aberta, que, inclusive, tá lá também.
Você está familiarizado com o termo soft porn? Ele é usado para se referir aos filmes adultos que não aparecem absolutamente nada além de um peitinho, meia bunda e, no máximo, uma região pubiana durante o sexo. De uma forma semelhante, podemos dizer que Diário de Horrores é um “soft terror“. É sobre terror, possui elementos do gênero, especialmente ao criar leve tensão e ter enredos até perturbadores, mas que não mostra absolutamente nada de assustador, nem sequer um jumpscare ou um demoninho. Pessoas mortas? Nem pensar. Isso embalado por uma dublagem muito ruim, totalmente dessincronizada, com atuações muito caricatas e com uma produção que nitidamente contou com uma verba modesta.
Levando em consideração que a classificação etária era de 10 anos, de fato não esperava nada avassalador, mas isso não justifica a pobreza de conteúdo em sua 1a temporada. Você encontrará boas ideias aqui, mas ao final de cada episódio você ficará mais se questionando como tais atuações ou cenas foram ao ar do que a respeito da natureza sobrenatural dos ocorridos. Vamos esperar a NETFLIX comprar os direitos de distribuição da 2a temporada e mostrar que é uma produção original sua numa possível guinada da série.
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