Crítica: Elite - 1a Temporada
Em meados de 2005 lá estava eu, vivendo minha primeira década de vida, levando o primeiro fora e assumidamente fã de RBD – uma verdadeira FEBRE entre os adolescentes e aspirantes à puberdade. Praticamente toda minha memória dessa época é afetivamente contaminada com a trilha sonora do grupo mexicano, de modo que se hoje em dia uma de suas músicas toca eu cantarei ao menos 80% de cor e salteado – e não me orgulho disso. E por que raios estou revivendo essa vergonha alheia para todos os leitores do site? Bem, por que, pelo que parece, a vergonha alheia recebeu uma singela homenagem: a nova série da Netflix, Elite, pesca elementos chaves (mas, fique tranquilo, não tem música envolvida) da atmosfera “rbdiana”.
Essa associação se dá pelo fato de que a nova série é ambientada em um colégio para riquinhos (dessa vez na Espanha), e toda a sua narrativa é desenvolvida nessa bolha de classe alta – tal qual em 2005 víamos Mía, Roberta e demais integrantes fazendo birras burguesinhas na novela do SBT. Não bastasse essa primeira influência, a série Elite se apropria da pegada misteriosa que a bem sucedida “How to Get Away with Murder” teve em 2016, na medida em que sustenta seu núcleo em um assassinato cometido dentro do complexo estudantil.
Para solucionar o caso, todos os estudantes são submetidos à investigação da polícia e a partir daí entendemos que o fuzuê todo está culpabilizando a entrada de três bolsistas – dã, por isso o nome “Elite”. Daí pra lá é um emaranhado de fofoquice, bolha adolescente abastada, histórias desinteressantes que tentam te engajar e falham miseravelmente e bocejos, muitos bocejos. Ah, o elenco é composto por alguns integrantes da viral “La Casa de Papel“: Miguel Herrán como Christian, um dos bolsistas; Nano (Jaime Lorente) é um bad boy irmão de um dos bolsistas e, finalmente, María Pedraza, que no roubo viveu uma riquinha aqui vive… uma riquinha, agora chamada Marina.
O que me incomodou na série além da completa incapacidade de entreter ainda que superficialmente são as atuações exageradas, o que já era incômodo em “La Casa de Papel” (de cuja 2a temporada eu bastante mal em minha crítica aqui). Essa perpetuação de drama espanhol é irritante demais. Outra questão relevante é a significativa falta de criatividade dos roteiristas em acoplar à série uma sequência de cópias de outras séries.
Por fim, Elite dispõe-se, até mesmo pelo nome, à trazer um debate mais ou menos consciente e crítico sobre classe (e, meu deus do céu, como falha) e dentro de seu proceder pincela temas como a xenofobia, homossexualismo e hipocrisia. Um dos únicos bons pontos é justamente a exposição à intolerância religiosa na história de Nadia, uma palestina inteligentíssima que resiste às provocações para com sua cultura.
No mais, trata-se de uma série apelativa em termos de história, atuação, cenas de nudez, drama e tudo imaginável. Honestamente assisti-la foi um trabalho doloroso e que exigiu respirações fundas entre um episódio e outro – agravando-se pelo fato de que cada um tem quase uma hora de duração.
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