Crítica: Errementari: O Ferreiro e o Diabo (Errementari)

O longa basco, Errementari: O Ferreiro e o Diabo – oficialmente uma produção espanhola e francesa – chega ao Brasil distribuído pela NETFLIX chutando a porta com uma divulgação focada nas forças do mal. De fato, toda sua ambientação e história são retiradas diretamente de referências literárias, como a bíblia, o poema “O Inferno de Dante” e o folclore espanhol, digo, basco. Aliás, ter certo conhecimento da história da Espanha e da busca pelo separatismo do País Basco contribui consideravelmente para o entendimento de algumas referências da obra.

A começar pelo período histórico. Estamos em 1835, no início da 1a Guerra Carlista (1833-1840), em um século muito conturbado na Espanha. Ao longo de 43 anos esse país passará por 3 guerras civis envolvendo liberais e absolutistas, tendo na região basca um palco de intensos combates. É aí que conhecemos nosso protagonista, o soldado Patxi (Kandido Uranga), que sobrevive momentos adversos com uma ajudinha de outro mundo em troca de sua alma.

Já 8 anos depois, agora ferreiro, Patxi vive isolado na sua fundição no meio da floresta. Seu isolamento tem fundamento, ele mantém cativo o coitado do demônio Sartael (Eneko Sagardoy) que veio coletar sua a alma, mas que acabou preso e torturado por motivos bem justos. Mas até chegarmos a esse ponto, há um esforço gigantesco em construir uma reputação monstruosa de Patxi, tornando bem nebulosa a origem do seu rancor. Ele supostamente é tão mau, que nem o diabo quer sua alma. Contudo, nem ele e nem Sartael são puramente ruins, o que causa certa frustração. Nos momentos iniciais da relação entre os dois fica claro que ambos são vítimas das circunstâncias, levando a um desenvolvimento que vai de encontro com aquele vendido pelo marketing.

Dois pontos impulsionam grande parte da história até focarmos no ferreiro e no demônio: a religião católica e o descontentamento dos bascos com o governo central. Esses temas se manifestam com o aparecimento de um representante do governo que está na cidade para investigar o sumiço de um carregamento de ouro que se supõe estar com o ferreiro. Há uma disputa entre as forças locais, mais separatistas e especialmente religiosas, e o governo central, distante dos problemas da região e muito liberais, com um subtexto muito significativo pra quem conhece a luta pela independência basca.

Errementari tem apenas um problema grave, que infelizmente acompanha a película do começo ao fim. Com a exceção de Sartael, todas as atuações variam de modestas à incrivelmente ruins. São diálogos que pareciam lidos na hora e caras e bocas de esquete de “Zorra Total”. O roteiro também dá uma escorregadinha, apresentando soluções tiradas da cartola e contempladas com diálogos muito rasos, que nada explicavam como certos eventos poderiam acontecer.

Essa obra de terror possui grandes qualidade técnicas. Nitidamente contou com uma verba generosa e entregou bons efeitos visuais, uma ambientação tenebrosa e uma trilha que te desperta um leve cagaço. Talvez, caso contasse com mais esmero na direção dos atores, figurasse entre os longas espanhóis do gênero que receberam destaque internacional, como o ótimo “Verônica” (também disponível na NETFLIX). Caso você resolva dar uma chance, com certeza é um filme para se visto à noite.

 

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