Crítica: Fúria em Alto Mar (Hunter Killer)
Nos últimos 10 anos, a Rússia vem mostrando para o mundo seu poderio militar e político em uma região da Europa que sempre foi sua área de influência indo desde o Império Czarista até a Cortina de Ferro soviética. Só para ficar com um gostinho desses impasses internacionais, tivemos em 2008 a Guerra da Ossétia do Sul, em 2014 a Crise da Crimeia e esse ano os exercícios militares de Vostok, que envolveram a maior força bélica russa mobilizada nos últimos 30 anos. Todos esses eventos foram condenados pela comunidade internacional e, assim como as políticas internas que usam de forte repressão contra movimentos opositores e comunidade LGBTQI+, são vistos com preocupação, em especial pela União Europeia e EUA.
Tentando resgatar esse sentimento de competição da Guerra Fria repaginado pela Rússia moderna, Fúria em Alto Mar apela para a nostalgia dos filmes de ação dos anos 90 com posteres avermelhados, ao mesmo tempo que busca uma crítica política à crescente tensão entre as duas maiores potências bélicas do mundo.
Você sente saudades de filmes de ação em submarinos cuja tripulação não sabe como agir em momentos derradeiros, como no ótimo “Maré Vermelha“? E de filmes de infiltração para resgatar/desativar aparatos de perigo eminente, como no sensacional “A Rocha“? Ter o foco na tomada de decisões por políticos e autoridades militares te apetece, como em “A Soma de Todos os Medos“? Caso você tenha respondido “sim” para todas as questões acima, saiba que esse é o longa que você queria, mas não sabia.
Em Fúria em Alto Mar acompanhamos uma tentativa de golpe na Rússia perpetrada pelo militar e ministro de defesa do país. Fazendo parte da estratégia para assumir o poder, ocorre um conflito entre submarinos dos EUA e da Rússia – com cenas que há muito não via de manobras evasivas no fundo oceânico – que abre brecha para que o ministro assuma o comando do país com uma justificativa que requer que você tenha uma grande suspensão da realidade. Agora cabe aos americanos, vulgo a polícia do mundo, intervir com aparatos militares de última geração para evitar um conflito em escala global entre as duas superpotências.
Mesmo sendo um longa que cumpre sua função, temos um excesso de frentes militares que acabam não se desenvolvendo muito bem. Acompanhamos 3 núcleos principais: a galera que toma decisões no Pentágono e na Casa Branca, com um excesso de decisões tomadas por militares sem qualquer consultoria aos políticos que comandam os EUA; o pessoal dentro do submarino encarregado de tentar descobrir o que ocorreu no incidente que detona a crise e que passa a assumir um papel importante por estar em águas territoriais russas.; e, por fim, a galera carne de pescoço por terra que fica responsável pelo resgate do presidente russo.
São 3 núcleos agradáveis de acompanhar e que se alternam relativamente com um bom ritmo, mas com 120 minutos de exibição passou a impressão que o filme queria abraçar todos os possíveis cenários militares, dando até uma leve sondada em um possível combate aéreo. Assim como todo filme de ação do gênero, o patriotismo escorre pela tela, há um excesso de situações pouco prováveis ou impossíveis, russos são retratados basicamente como alcoólatras, maníacos de guerra e traidores da pátria e, claro, discursos sobre a liberdade são tão constrangedores quanto se pode esperar.
No mais, Fúria em Alto Mar é mais uma obra redondinha para aquela ida ao cinema sem muito compromisso com seu cérebro, mas que dá uma resvalada em questões pertinentes do nosso mundão.
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