Crítica: Gun City (La sombra de la ley)
Após trazer-nos bons filmes e séries como “Sob a Pele do Lobo“, “Las leyes de la termodinamica” e “A Catedral do Mar“, a Netflix traz mais uma produção original espanhola neste Gun City, nome internacional que estranhamente mantiveram para o português, mesmo sendo bem simples e pertinente traduzir literalmente o título original.
Baseado muito vagamente em eventos reais, Gun City conta uma história passada no início da década de 20 do século passado em Barcelona, quando o movimento anarco-sindicalista da região começava a fervilhar e a polícia o reprimia com violência desmedida. Após um roubo de um carregamento enorme de armamento militar por forças anarquistas, o policial Aníbal Uriarte (Luis Tosar) chega a Barcelona vindo de Madrid com a missão de descobrir o paradeiro das armas e, assim, evitar a eclosão da guerra civil.
Ele é recebido por uma trupe do pior tipo de policial que se pode ter ideia e, a partir daqui, a narrativa se desenrola com vários elementos que servem de forma competente para avançar a história e desenvolver os personagens dentro de um contexto lotado de corrupção policial, políticos inescrupulosos, luta de classes, violência e bigodes gloriosos.
Como que numa homenagem aos grandes filmes americanos de gângster do século passado, em especial ao clássico “Os Intocáveis”, o diretor Dani de la Torre conta uma história simples como forma de ilustrar um momento histórico importantíssimo na vida espanhola. Contudo, a questão histórica aqui é deixada bem de lado em favor da ação e do desenvolvimento dos dramas pessoais de cada um dos personagens, o que é habilmente amarrado pelo roteiro ao final da exibição.
Apesar de estar aqui contando uma história em uma estrutura simples (e talvez até mesmo por isso), a direção aqui caminha por uma linha tênue entre exagero e virtuosismo técnico, muitas vezes pendendo para ambos os lados numa mesma cena. Optou-se por mostrar um domínio da técnica cinematográfica com planos sequências enormes e o uso frequente de tomadas impossivelmente abertas que vem a prejudicar tanto o andamento do filme como também a identidade estética do que se quer mostrar.
De todo modo, as muitas cenas de ação, coisa que não se espera de um filme espanhol em geral, foram todas muito bem executadas e o roteiro até mesmo guarda algumas reviravoltas, ainda que estas possam ser identificadas a quilômetros de distância. O elenco também segue todo muito bem, com algum destaque para o alucinado Tísico (o argentino Ernesto Alterio), um sujeito que parece ter o diabo no corpo, e também para um surpreendente Luis Tosar nas cenas de ação.
Ainda que seja um tanto exagerado e clichezento em alguns momentos (como o do protesto das mulheres por melhores salários), Gun City cumpre bem seu papel de entreter com um bom filme policial, produzido com extremo esmero, além de ir um tiquinho além de nos convidar a fazer as reflexões que nunca devem deixar de ser feitas sobre a natureza humana e das relações de poder.
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